A vietnamita Kim Phuc
Kim Phuc foi o símbolo da guerra do Vietname. Com nove anos, correndo nua depois de atingida por uma bomba, a sua foto estremeceu o mundo.
Actualizado 31 de Março de 2012
Juan Antonio Ruiz LC/ReL
Que reacção terias se te encontrasses diante de quem assassinou a tua família? Se o parâmetro das nossas acções marcasse o que Hollywood ou outros modelos nos facilitam, a resposta seria óbvia: «Dêem-me uma pistola imediatamente, que penso matar este desgraçado!». É algo compreensível, depois de tudo. Mas a resposta de Kim Phuc a este dilema foi diametralmente oposta.
Converteu-se num símbolo
Vietname, 8 de Junho de 1972. Um conselheiro militar estadunidense coordena o bombardeio da aldeia em que Kim vive; as bombas contêm napalm, um combustível gelatinoso que, em palavras de Kim mesma, se sente como «queimar-te com gasolina por debaixo da pele». Nesse então, ela contava com só nove anos e a foto em que aparece correndo nua por um caminho e chorando, com o corpo queimado pelo napalm, converteu-se num símbolo.
Toda a sua família morreu
Depois de fugir daquele inferno, onde toda a sua família perdeu a vida, teve que percorrer outro igualmente terrível: catorze meses de recuperação pelas gravíssimas queimaduras, com dezassete operações e catorze anos posteriores de terapia.
Os comunistas querem manipulá-la
Dez anos depois daquele dia, em 1982, e depois de tanto sofrimento, Kim teve um sonho: queria estudar medicina. Entrou na faculdade, em Saigão. Mas sonhar num regime comunista nem sempre é possível; assim nos conta ela:
«Por desgraça os agentes do governo inteiraram-se de que eu era a meninita da foto e vieram buscar-me para fazer-me trabalhar com eles e utilizar-me como símbolo. Eu não queria e supliquei-lhes: “Deixem-me estudar! É o único que desejo”. Então, proibiram-me imediatamente que continuasse estudando. […] Tinha a impressão de ter sido sempre uma vítima. Aos meus 19 anos tinha perdido toda a esperança e só desejava morrer».
Rumo a Cuba, casamento e fuga para o Canadá
Por fim, e depois de muitos pedidos, em 1986 o governo permitiu a Kim mudar-se para Cuba para estudar medicina. Aí conheceu Bui Huy Toan, outro estudante vietnamita. Casaram-se em 1992 e passaram a sua lua-de-mel em Moscovo. No voo de regresso à ilha caribenha, o casal fugiu quando o seu avião aterrou em Gander (Terra Nova) para carregar combustível.
O mais difícil: saber perdoar
Hoje, Kim vive no Canadá com o seu marido e os seus dois filhos, Thomas e Stephen. A quem lhe pergunta o que foi mais difícil de todo o seu calvário ela não dúvida em responder:
«Sem dúvida alguma foi perdoar. Perdoar aos que mataram a minha família, aos que incendiaram o meu país; perdoar aqueles que se empenharam em utilizar-me sem importar-lhes a minha vida pessoal…».
E continua: «A primeira vez que li as palavras de Jesus “ama os teus inimigos”, nem as entendi nem sabia como fazê-lo. Sou humana, tenho muita dor, muitas cicatrizes e fui vítima muito tempo. Perdoar? Isso me resultava impossível. Tive que rezar muito e não foi fácil… Mas, com a ajuda de Deus, finalmente o consegui».
Cara a cara com o seu verdugo
Efectivamente, em 1996, a Fundação para a Memória dos Veteranos do Vietname convidou-a a Washington, onde conheceu John Plummer, o piloto que despejou as bombas sobre a sua aldeia.
Seria impossível imaginar o que o coração de ambos sentiria ao ver-se cara a cara. Mas sim sabemos qual foi a reacção de Kim: manifestou publicamente o seu perdão ao piloto e, emocionados, selaram o acto com um abraço. O homem disse: «É como se me tivessem tirado dos meus ombros o peso do mundo inteiro».
O segredo para saber perdoar
Se não fosse pelas cicatrizes do seu corpo, ao ver hoje Kim com o seu sorriso permanente e o seu bom humor, ninguém imaginaria o seu drama pessoal. E a pergunta nos vem natural: qual é o segredo para poder perdoar de uma maneira tão contundente? É ela mesma a que responde:
«A foto da meninita correndo nua enquanto o seu corpito arde pelo napalm é um símbolo da guerra, mas a minha vida é um símbolo de amor, esperança e perdão. Somente quando encontrei a fé, se atenuou a dor das chagas do meu coração».
Kim Phuc |
Actualizado 31 de Março de 2012
Juan Antonio Ruiz LC/ReL
Que reacção terias se te encontrasses diante de quem assassinou a tua família? Se o parâmetro das nossas acções marcasse o que Hollywood ou outros modelos nos facilitam, a resposta seria óbvia: «Dêem-me uma pistola imediatamente, que penso matar este desgraçado!». É algo compreensível, depois de tudo. Mas a resposta de Kim Phuc a este dilema foi diametralmente oposta.
Converteu-se num símbolo
Vietname, 8 de Junho de 1972. Um conselheiro militar estadunidense coordena o bombardeio da aldeia em que Kim vive; as bombas contêm napalm, um combustível gelatinoso que, em palavras de Kim mesma, se sente como «queimar-te com gasolina por debaixo da pele». Nesse então, ela contava com só nove anos e a foto em que aparece correndo nua por um caminho e chorando, com o corpo queimado pelo napalm, converteu-se num símbolo.
Toda a sua família morreu
Depois de fugir daquele inferno, onde toda a sua família perdeu a vida, teve que percorrer outro igualmente terrível: catorze meses de recuperação pelas gravíssimas queimaduras, com dezassete operações e catorze anos posteriores de terapia.
Os comunistas querem manipulá-la
Dez anos depois daquele dia, em 1982, e depois de tanto sofrimento, Kim teve um sonho: queria estudar medicina. Entrou na faculdade, em Saigão. Mas sonhar num regime comunista nem sempre é possível; assim nos conta ela:
«Por desgraça os agentes do governo inteiraram-se de que eu era a meninita da foto e vieram buscar-me para fazer-me trabalhar com eles e utilizar-me como símbolo. Eu não queria e supliquei-lhes: “Deixem-me estudar! É o único que desejo”. Então, proibiram-me imediatamente que continuasse estudando. […] Tinha a impressão de ter sido sempre uma vítima. Aos meus 19 anos tinha perdido toda a esperança e só desejava morrer».
Rumo a Cuba, casamento e fuga para o Canadá
Por fim, e depois de muitos pedidos, em 1986 o governo permitiu a Kim mudar-se para Cuba para estudar medicina. Aí conheceu Bui Huy Toan, outro estudante vietnamita. Casaram-se em 1992 e passaram a sua lua-de-mel em Moscovo. No voo de regresso à ilha caribenha, o casal fugiu quando o seu avião aterrou em Gander (Terra Nova) para carregar combustível.
O mais difícil: saber perdoar
Hoje, Kim vive no Canadá com o seu marido e os seus dois filhos, Thomas e Stephen. A quem lhe pergunta o que foi mais difícil de todo o seu calvário ela não dúvida em responder:
«Sem dúvida alguma foi perdoar. Perdoar aos que mataram a minha família, aos que incendiaram o meu país; perdoar aqueles que se empenharam em utilizar-me sem importar-lhes a minha vida pessoal…».
E continua: «A primeira vez que li as palavras de Jesus “ama os teus inimigos”, nem as entendi nem sabia como fazê-lo. Sou humana, tenho muita dor, muitas cicatrizes e fui vítima muito tempo. Perdoar? Isso me resultava impossível. Tive que rezar muito e não foi fácil… Mas, com a ajuda de Deus, finalmente o consegui».
Cara a cara com o seu verdugo
Efectivamente, em 1996, a Fundação para a Memória dos Veteranos do Vietname convidou-a a Washington, onde conheceu John Plummer, o piloto que despejou as bombas sobre a sua aldeia.
Seria impossível imaginar o que o coração de ambos sentiria ao ver-se cara a cara. Mas sim sabemos qual foi a reacção de Kim: manifestou publicamente o seu perdão ao piloto e, emocionados, selaram o acto com um abraço. O homem disse: «É como se me tivessem tirado dos meus ombros o peso do mundo inteiro».
O segredo para saber perdoar
Se não fosse pelas cicatrizes do seu corpo, ao ver hoje Kim com o seu sorriso permanente e o seu bom humor, ninguém imaginaria o seu drama pessoal. E a pergunta nos vem natural: qual é o segredo para poder perdoar de uma maneira tão contundente? É ela mesma a que responde:
«A foto da meninita correndo nua enquanto o seu corpito arde pelo napalm é um símbolo da guerra, mas a minha vida é um símbolo de amor, esperança e perdão. Somente quando encontrei a fé, se atenuou a dor das chagas do meu coração».
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