Discurso pronunciado pelo Papa Francisco durante a vigília que reuniu 3 milhões de pessoas
Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2013
Apresentamos a seguir o Discurso pronunciado pelo Pontífice
durante a vigília que reuniu 3 milhões de pessoas em Copacabana, na
noite deste sábado, 27 de Julho.
Olhando para vocês presentes aqui hoje, me vem a mente a história
de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de
Jesus que lhe diz: «Francisco, vai e repara a minha casa». E o jovem
Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamado do
Senhor: repara a minha casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que
não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de
pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja; tratava-se
de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que
transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.
Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua
Igreja. Querido jovens, o Senhor necessita de você. Também hoje ele
chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem
missionários. Queridos jovens, o Senhor hoje os chama. Não a muitos, mas
a você, a você, a você, a você… a cada um. Escutem-no no coração.
Penso que podemos aprender com o que aconteceu nesses dias. Como
tivemos que cancelar, devido ao mau tempo, a realização desta vigília no
Campus Fidei (Campo da Fé), em Guaratiba, não estaria o Senhor querendo
dizer-nos que o verdadeiro Campo da Fé, o verdadeira Campus Fidei, não é
um lugar geográfico, mas somos nós?
Sim, é verdade. Cada um de nós, cada um de vocês, eu, vocês, todos,
que ser discípulos missionários significa reconhecer que somos Campos da
Fé de Deus. Por isso, a partir da imagem do Campo da Fé, pensei em três
imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um
discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a
segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como
canteiro de obras.
1. O campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parábola de
Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo lançando sementes; algumas
caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de espinhos e não
conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão muito fruto
(cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a semente é
a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf. Mt 13,18-23).
Queridos jovens, isso significa que o verdadeiro Campus Fidei é o
coração de cada um de vocês, é a vida de vocês. E é na vida de vocês que
Jesus pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença. Por
favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela
possam germinar e crescer.
Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio
às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Qual terreno somos ou
queremos ser? Quem sabe se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o
Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos aturdir por tantos
apelos superficiais que escutamos; ou como o terreno pedregoso:
acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes e diante das
dificuldades não temos a coragem de ir contra a corrente; ou somos como o
terreno com os espinhos: as coisas, as paixões negativas sufocam em nós
as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Mas, hoje, tenho a certeza
que a semente está caindo numa terra boa, sei que vocês querem ser um
terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem “engomadinhos”,
nem cristãos de fachada, mas sim autênticos. Tenho a certeza que vocês
não querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe arrastar pelas
modas e as conveniências do momento. Sei que vocês apostam em algo
grande, em escolhas definitivas que dêem pleno sentido para a vida.
Jesus é capaz de oferecer-lhes isto. Ele é o «caminho, a verdade e a
vida» (Jo 14,6)! Confiemos n’Ele. Deixemo-nos guiar por Ele!
2. O campo como lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos
por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que “joguemos no seu
time”. Acho que a maioria de vocês ama os desportos. E aqui no Brasil,
como em outros países, o futebol é uma paixão nacional. Ora bem, o que
faz um jogador quando é convocado para jogar em uma equipa? Deve treinar, e
muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor. São Paulo
nos diz: «Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim
procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos
uma coroa incorruptível!» (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito
superior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida
fecunda e feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim:
a vida eterna. Jesus, porém, nos pede que treinemos para estar “em
forma”, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida,
testemunhando a nossa fé. Como? Através do diálogo com Ele: a oração,
que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através dos
sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com
Cristo; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do
perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir
nem marginalizar ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros
“atletas de Cristo”!
3. O campo como canteiro de obras. Quando o nosso coração é uma terra
boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se “sua a camisa” procurando
viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos
sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo
caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da
Igreja e protagonistas da história. São Pedro nos diz que somos pedras
vivas que formam um edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para
este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja, construída com
pedras, com tijolos. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e
Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; e não como uma capelinha,
onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua
Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que
seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: «Ide e fazei
discípulos entre todas as nações»! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim,
também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de
Jesus! Digamos juntos: Eu quero ir e ser construtor da Igreja de
Cristo!
No coração jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo
melhor. Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos jovens
que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o
desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Mas, fica a pergunta:
Por onde começar? Quais são os critérios para a construção de uma
sociedade mais justa? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que
devia mudar na Igreja, ela respondeu: você e eu!
Queridos amigos, não se esqueçam: Vocês são o campo da fé! Vocês são
os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e
de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a
seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu “sim” a Deus: «Eis aqui a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc 1,38). Também
nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua
palavra. Assim seja!
in
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