Realizado às vésperas da Jornada, seminário mostra como os jovens das três grandes religiões monoteístas constroem pontes no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, 22 de Julho de 2013
Pela primeira vez na história das Jornadas Mundiais da
Juventude, houve um momento de encontro entre jovens das três grandes
religiões monoteístas. Neste domingo, 21, cerca de 150 jovens católicos,
judeus e muçulmanos se encontraram na PUC para um seminário promovido
pela Juventude Inter-religiosa do Rio de Janeiro (JIRJ), em que
celebraram a união na diversidade e colocaram em prática o diálogo,
chegando até os mínimos detalhes. Por exemplo, os organizadores
decidiram não oferecer ao público nenhum tipo de comida ou bebida no
intervalo, em respeito à celebração do Ramadão pelos muçulmanos. Nesse
período, o seguidor do Islamismo faz jejum enquanto há sol.
Dentro do auditório, viam-se muitos jovens com camisetas de paróquias ou movimentos católicos, rapazes com o kipa judaico e moças com o hijab,
o véu típico muçulmano. Alguns vieram de outros países, como Nicarágua,
Bolívia e Argélia. Na mesa de debates, jovens como Fernando Celino, da
Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, relataram sua
experiência na busca do diálogo inter-religioso: “Eu comecei a
frequentar a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, que se reunia
num centro de umbanda”, lembrou ele. “Embora eu nunca tenha tido
preconceitos contra outras religiões, esse contacto acabou com os
estereótipos que eu tinha. E, especialmente, eu fiz grandes amigos”.
“Nós reconhecemos a Deus como criador”, explicou a católica Aline
Barbosa, coordenadora da Pastoral da Juventude. “A partir daí, nos
reconhecemos como irmãos, prontos a amar o próximo”. Para isso, Rodrigo
Baumworcel, judeu da Associação Hillel, destacou: “A oração serve como
ponte entre as religiões”.
A experiência de diálogo inter-religioso no Rio de Janeiro não se
restringe ao meio universitário. Dois colégios de ensino fundamental e
médio, o Santo Inácio (católico) e o Liessin (judaico) lançaram o projecto “Vizinhos de portas abertas”, em que os alunos de uma escola
visitam a outra. Mais recentemente, os muçulmanos, mesmo não tendo
colégios na cidade, começaram a participar, respondendo a dúvidas dos
alunos dessas escolas sobre o islamismo. Essa experiência motivou, na
plenária final do encontro, uma proposta de convivência entre os alunos
das instituições de ensino de diferentes religiões. Mais que isso, os
jovens propuseram a realização de actividades sociais e culturais em
conjunto, como meio de incentivar o diálogo entre as religiões.
Não podemos ignorar que os “adultos” também estiveram presentes no
seminário. A abertura do encontro contou com autoridades como o sheik
saudita Hamed Mohammed Wali Khan, o rabino argentino Abraham Skorka,
amigo pessoal do papa Francisco, e D. Orani Tempesta, arcebispo do Rio
de Janeiro, que sublinhou, em sua intervenção, que “os jovens anunciam
ao mundo que é possível construir um mundo de fraternidade e paz”.
No intervalo, para todos aqueles que não pretendiam ou não podiam
seguir o jejum islâmico, havia, nas imediações do auditório, uma única
cantina excepcionalmente aberta neste domingo – cujo proprietário é um
muçulmano.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário