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terça-feira, 30 de julho de 2013

Leonardo Boff refaz suas contas com a história (e erra)

O magistério de Bergoglio não reabilita a Teologia da Libertação: ele é muito mais revolucionário


Rio de Janeiro, 29 de Julho de 2013


O ex-frade franciscano Leonardo Boff, depois de pendurar a batina por causa da condenação das suas teorias pela Congregação da Doutrina da Fé (evidentemente, a regra do centralismo é aceita nos partidos comunistas, mas não na Igreja...), reencontra a honra das manchetes europeias em entrevista concedida a Andrea Tornielli para o jornal La Stampa, de Turim, em 25 de Julho.

O ex-religioso brasileiro retorna do esquecimento em que tinha caído depois que saíram de moda tanto a atracção pelos pensamentos exóticos de matriz terceiro-mundista quanto a vigência da ortodoxia marxista-leninista, que, após a queda do muro de Berlim, sobrevive apenas na serra tropical de Cuba.

Leonardo Boff retorna fazendo elogios a ninguém menos que o papa. É uma alegria vê-lo reconciliado com a Igreja, mas parece pouco honesta, do ponto de vista intelectual, a sua tentativa desajeitada de contrabandear alguns aspectos do magistério de Bergoglio para as vizinhanças da teologia da libertação.

O erro do ex-frade, que, dada a sua formação académica, dificilmente foi cometido com boa fé, pressupõe a remoção de um elemento central do ensinamento do papa, que consiste no constante apelo à responsabilidade ética individual de cada pessoa. Isto não significa, é claro, negar a existência e a gravidade do pecado social, que o bispo de Roma está fustigando com grande vigor (embora, para sermos honestos, nenhum dos seus antecessores tenha jamais deixado de fazê-lo também).

A linha divisória entre Boff e Bergoglio é a pretensão, compartilhada por todos os "teólogos da libertação", de considerar irrelevante o pecado individual, justificando-o com a injustiça das condições históricas em que ele foi cometido.

O actual papa se posiciona em uma perspectiva exactamente oposta: ao convidar os jovens a se rebelarem contra a injustiça, ele o faz a partir de um exame da consciência de cada indivíduo.

O pecado social, portanto, se qualifica como o resultado de inúmeras culpas individuais, nas quais incorre qualquer um que se recusa a assumir as suas responsabilidades para com a sociedade humana.

De acordo com Boff e com os seus colegas, deve-se, em vez disto, prosseguir na direcção oposta: a teologia moral se limitaria à análise das condições sociais que, na opinião deles, coagem sempre e necessariamente as escolhas pessoais.

Se por um lado eles podem não aceitar o marxismo na sua pretensão de reduzir toda a realidade à dimensão material, eles acabam, por outro lado, aderindo às suas consequências, ao acreditarem que o bem consiste na mudança revolucionária da estrutura económica e o mal na sua preservação. Seria moralmente correto, desta forma, somente o compromisso revolucionário de cada um, independentemente do seu comportamento individual: acaba-se caindo, assim, num maquiavelismo barato.

A negação da esfera espiritual, uma negação que é própria do marxismo, determina sempre a abolição de toda distinção moral.

Diante disto, as religiões, todas as religiões, acomunadas no desprezo pelo chamado "ópio do povo", concordaram em restabelecer a verdade, reconduzindo para dentro do homem o conflito em que a humanidade se debate; ou seja, reconduzindo-o para a sua consciência.

Com esta base, e não com base na cansada repetição das fórmulas marxistas que Leonardo Boff e Fidel Castro ainda intercambiam nos seus diálogos senis, é que podemos realizar a revolução que o mundo oprimido pela injustiça está esperando.

Bergoglio convidou os jovens de todo o mundo, no Rio de Janeiro, a se revoltarem contra a injustiça: este apelo, sem tirar nada do seu significado espiritual, produzirá certamente o retorno ao compromisso de uma geração que parecia irremediavelmente afastada dele.

Em apenas um ponto Boff tem razão: quando diz que a devoção popular a que o papa se vincula não é "pietismo", mas "preserva a identidade do povo" contra a homologação forçada a que somos condenados pela especulação.

Esta, juntamente com a mobilização das consciências, constitui o outro recurso de quem não aceita a injustiça do actual status quo: a libertação dos povos passa pela plena reapropriação da sua identidade; quem não se reconhece numa comunidade não pode exercitar a auto-determinação.

Mesmo aqui, no entanto, não se pode esquecer que o marxismo foi uma tentativa de homologação forçada, que se manifestou também, mas não apenas, na perseguição anti-religiosa.

As palavras de Boff ainda representam a evidência do poder de convencimento próprio do magistério de Bergoglio: longa vida, pois, ao bispo de Roma!



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