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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nora, viciada e ateia: «Descobri que a fé dá a força para admitir que necessitas ajuda e mudar»

Oração e acolhimento na Comunidade do Cenáculo


Actualizado 26 de Junho de 2013

ReL
Nora é uma jovem de Viena que publica o seu testemunho de conversão e superação quando tem 28 anos. O vazio, as desordens alimentares, o álcool e logo as drogas poderiam tê-la levado ao suicídio, como ao seu ex-namorado.

O que a salvou foi descobrir que crer em Deus não era "ser débil", como pensava, mas sim todo o contrário: a fé era uma força para admitir os erros, a realidade, e poder começar uma mudança radical.

Anorexia e isolamento
"Ao começar a minha adolescência sentia um profundo vazio dentro de mim que se manifestava na anorexia", explica Nora. "Em pouco tempo isolei-me de tudo e de todos, não queria que me incomodassem, vivia no meu mundo, pesava-me ser prisioneira do meu próprio corpo. Tratava-me a mim mesma com dureza, mas na relação com os demais sentia-me frágil e insegura, pensava que não era inteligente, bela ou forte como os meus colegas".

Uma família desfeita
Foi-se afastando da sua família, que além disso sofria a sua própria crise. Quando ela tinha 18 anos os seus pais se divorciaram. E ela não queria sentir dor: queria ser, ou ao menos parecer, forte, dura.

"Não queria sentir a dor, as inseguranças, o medo e todo o sentimento de culpa", recorda. E como se combatem esses sentimentos numa cultura materialista? Com pastilhas e substâncias.

"Comecei a tomar fármacos antidepressivos, calmantes, e caí na obscuridade das trevas. Graças a Deus, o meu pai e a sua companheira vieram-me buscar, levaram-me para a sua casa por um ano e ajudaram-me muito. No princípio o meu pai tratou de ajudar-me de diferentes maneiras, e ainda que eu o rejeitava, ele seguiu próximo".


Trabalho e oração: o Cenáculo
Finalmente, o seu pai decidiu enviar Nora a Itália, à Comunidade do Cenáculo, uma comunidade católica onde os jovens viciados vivem juntos numa mesma casa, realizam muito trabalho físico e manual e muita oração.

A cada recém-chegado atribui-se um "anjo" ou "acompanhante", que é um ex-viciado, alguém que já passou pelo processo, que sabe todos os truques do viciado, as suas mentiras incessantes, onde esconde a droga ou o álcool, as suas justificações... E que não cede perante elas.

Nora foi para o Cenáculo muito contra a sua vontade, com a sensação, simplesmente, de que o seu pai queria afastá-la de casa mas não tinha escolha. Não gostava de ter que estar noutro país, ter que aprender italiano, ter que partilhar o lugar com tantas raparigas, e deixar os seus vícios. Mas o seu pai tinha sido claro ao enviá-la: “Se voltas para casa, a tua vida será um inferno”, tinha-lhe dito. "As suas palavras permaneceram dentro, sacudiram-me", assinala a jovem austríaca.

A vida no Cenáculo era dura: muito trabalho, muita oração, nunca só. Mas isso era libertador.

Comunidade e fé
"Em pouco tempo, a forma de vida da Comunidade, o querer-se bem, encontrar-se, estar atento às necessidades do outro, tocaram-me muito e queria ser parte desta família", explica.

E mais ainda, havia uma força poderosa que antes tinha depreciado e agora a atraía: a fé. "Encontrei a fé. Antes não a conhecia porque era ateia. No passado, para mim crer em Deus significava ser débil, por outro lado, descobri que a fé é a força que te permite dizer-te que és débil e que necessitas ajuda".

A fé era todo o contrário que auto enganar-se, tudo o contrário do que oferece qualquer vício com o seu escapismo: a fé permitia enfrentar a realidade de cara.

"A primeira vez que vi as raparigas que se levantavam da mesa para dizer com sinceridade, diante de todos, que tinham cometido um erro, como roubar ou fazer algo às escondidas, fiquei com a boca aberta: batia-me forte o coração pela sua coragem de atirar fora a porcaria da mentira e da falsidade. Eu nunca tinha sido capaz de enfrentar um problema, de dizer a verdade", aponta Nora.

"Com seis meses de Comunidade escrevi ao meu pai pela primeira vez dizendo-lhe que tinha decidido ficar, que queria escolher a vida. Depois de um tempo soube que o meu pai tinha recebido a minha carta justo no mesmo dia que o meu ex-namorado se tinha suicidado. Para mim foi um golpe, mas ao mesmo tempo fez-me entender quanta liberdade temos para escolher e como poderia ter terminado a minha vida".

Poder falar e abrir o coração
A sinceridade, o poder falar e poder confiar, mudou Nora e a levava à generosidade: "Abrir-me às irmãs, pedir-lhes o seu conselho, crer na sua amizade generosa e fazer sacrifícios com e para elas, tirava-me do peso do meu egoísmo".

E de fundo batia o poder do Mistério e a esperança, tão diferente do falso controlo e a escravidão do vício.

"Ajudou-me ver quanta esperança tinham as raparigas graças à oração e me fascinava o facto de não poder entender só com a minha mente a grandeza de Deus. Fez-me muito bem sentir-me pequena diante d’Ele e necessitada da sua Misericórdia. Quando caía na minha negatividade, na vergonha de ver-me imperfeita, aprendi a procura-lo e a dizer a verdade diante d’Ele".

Hoje ela ajuda outras raparigas

A experiência na Comunidade do Cenáculo transformou Nora e hoje é ela a que ajuda outras raparigas. "Estou muito agradecida por ter encontrado a Comunidade, agradecida a todas as pessoas que acreditaram que eu mudaria, especialmente à rapariga que foi o meu anjo-custódio e que lutou junto a mim nos primeiros meses. Quero agradecer muito às raparigas com as quais vivo porque me ensinam a amar mais e a sorrir à vida, dom precioso que reencontrei e que hoje desejo dar".


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