Discurso do Santo Padre Francisco na cerimónia de boas-vindas
Rio de Janeiro, 23 de Julho de 2013
Apresentamos na íntegra o discurso do Santo Padre Francisco
pronunciado no Palácio da Guanabara, Rio de Janeiro, nesta segunda feira
(22) durante a cerimónia de boas-vindas por ocasião da XXVIII JMJ.
Senhora Presidenta,
Ilustres Autoridades,
Irmãos e amigos!
Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem
internacional do meu Pontificado me consentisse voltar à amada América
Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos
laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade
que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a
Deus pela sua benignidade.
Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar
pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora
eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e
transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o
que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para
alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo
que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”
Saúdo com deferência a Senhora Presidenta e os ilustres membros do
seu Governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras
que externaram a alegria dos brasileiros pela minha presença em sua
Pátria. Cumprimento também o Senhor Governador deste Estado, que
amavelmente nos recebe na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de
Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomático acreditado junto ao
Governo Brasileiro, as demais Autoridades presentes e todos quantos se
prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita.
Quero dirigir uma palavra de afecto aos meus irmãos no Episcopado,
sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e
às suas amadas Igrejas Particulares. Esta minha visita outra coisa não
quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo de Roma de
confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar as
razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos
as inesgotáveis riquezas do seu Amor.
O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido,
transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude.
Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos
braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu
abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro
chamado: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações».
Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas
diferentes, são portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo
encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem
saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para
além de toda diversidade.
Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser
mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando
conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos
jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”.
Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um
mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm
medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão
desiludidos.
Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao
dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades
eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão
inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende
o futuro destas novas gerações.
Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”.
Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a
imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o
milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos
nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que,
nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora
pergunta.
E atenção! A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo. É
a janela e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se
demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber
abrir-lhe espaço. Isso significa: tutelar as condições materiais e
imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos
sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e
educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe
valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe
um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica,
suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um
mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as
melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e
corresponsável do destino de todos. Com essas atitudes precedemos hoje o
futuro que entra pela janela dos jovens.
Concluindo, peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a
necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os
braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na
sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazónia até
os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles,
ninguém se sinta excluído do afecto do Papa. Depois de amanhã, se Deus
quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida,
invocando sua protecção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a
todos abençoo. Obrigado pelo acolhimento!
in
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