O perdão: como a bíblia e o evangelho desenvolvem o homem e os povos do continente
Roma, 23 de Julho de 2013
O pe. Ermanno Battisti, há 40 anos em Guiné-Bissau, fundou a
paróquia de Jesus Redentor e o Centro Artístico Juvenil Nacional na
capital Bissau, além do Hospital Infantil Católico de Bor, na periferia
de Bissau.
Perguntamos a ele, com base na sua experiência na África, por que a
bíblia e o evangelho desenvolvem o homem e os povos africanos. Eis o
seu testemunho:
A primeira contribuição ao desenvolvimento do homem africano, que
nós, missionários, trazemos à África, é a difusão do conhecimento dos
dez mandamentos, que expressam a vontade de Deus para a vida de cada
homem e que são o seu fundamento.
A religião tradicional africana, pelo menos na Guiné-Bissau, que eu
conheço bem, não dá essa base moral, porque não tem uma moral. A moral é
definida caso a caso pelos anciãos da aldeia, de acordo com o que foi
feito no passado e é útil hoje para a aldeia. Eles julgam o bem e o mal
de acordo com a tradição e com a conveniência do momento. Por exemplo,
roubar é ruim, mas se o homem de uma tribo rouba os animais de outra
etnia e consegue escapar, então eles dizem que ele é corajoso e esperto.
Outro exemplo: se uma criança nasce com alguma deformidade, é ruim
deixá-la na aldeia, porque ela é um espírito maligno que depois vai
fazer mal a todos. Então eles a abandonam na praia ou a levam para a
selva, para deixá-la morrer.
Vou contar um fato. Uma menina nasceu prematura e a parteira declarou
o seguinte, porque a menininha era muito pequena: "Esta aqui não é uma
menina, é um espírito". O pai foi falar com o feiticeiro para saber o
que fazer. E o feiticeiro, depois de consultar uns pedaços de madeira,
disse que era preciso devolver a menina ao mundo dos espíritos da água,
de onde ela tinha escapado para vir à terra fazer mal à aldeia. O homem
pegou a criança, enrolou-a num pano e a levou até uma espécie de
encarregado oficial da aldeia para fazer esse tipo de ritos. Ele esperou
a maré baixar e deixou a criança abandonada no ponto mais baixo da
praia, para que a maré a levasse embora quando voltasse a subir.
Mas à noite, quando o pai voltou para casa, ele encontrou a menina em
cima da cama, ao lado da mãe. O cachorro da família tinha ido procurar a
criança e a levou de volta para a mãe, carregando-a pela boca, com pano
e tudo. O homem ficou assustado e correu de novo até o feiticeiro, que
olhou para os pedaços de lenha e respondeu que tinha acontecido um erro:
a menina não era um espírito da água, mas um espírito da floresta, e
que era na floresta que ele tinha que abandoná-la. A mãe chorou, porque
queria salvar a filha, mas o homem a pegou de novo e a entregou ao
intermediário, que desta vez a abandonou na selva. Mas os planos de Deus
eram diferentes. Mais uma vez, o incrível aconteceu: o cachorro a
encontrou novamente e a levou para casa.
Ao rever a filha, o homem se apavorou tanto com aquela suposta
perseguição dos espíritos que largou tudo e fugiu de casa. Mas a mãe
interpretou que era uma intervenção directa de Deus e ficou com a menina,
que cresceu e ficou mais forte a cada dia, como todas as crianças
normais.
Anos se passaram e não se soube mais nada do pai, até que um dia, com
20 anos de idade, a jovem encontra um idoso desconhecido. Ele conta
tudo para ela e pede que ela cuide dele. Joana aceita com alegria e fica
sempre perto do pai até o dia em que ele morre, nos seus braços,
convencido de que ela não era um espírito, mas simplesmente a sua filha.
A Joana é uma senhora muito activa numa paróquia em Bissau. É uma
mulher maravilhosa, uma das grandes cristãs do país, não apenas como
mãe, mas como cidadã instruída capaz de difundir o Evangelho.
in
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