Conferência de imprensa a bordo do avião
Roma, 30 de Julho de 2013
O Papa Francisco respondeu, no voo de regresso a Roma, às
numerosas perguntas que ao longo de quase uma hora e meia, os 70
jornalistas a bordo, lhe dirigiram. Apresentamos a seguir alguns trechos
publicados pela Rádio Vaticana.
"Foi uma viagem bonita; espiritualmente, fez-me bem": o Papa estava
visivelmente satisfeito com a experiência vivida com os jovens da JMJ
no Brasil. "Encontrar as pessoas faz bem", continuou ele, "podemos
sempre receber tantas coisas bonitas dos outros." E depois, uma
referência às medidas de segurança que levantaram algumas preocupações:
"Não houve nenhum acidente em todo o Rio de Janeiro, nestes dias, e tudo era espontâneo. Com menos segurança, eu pude estar com as pessoas, abraçá-las, saudá-las, sem carros blindados ... E’ a segurança de quem confia no povo. Realmente, há sempre o perigo que haja um louco ... oh, sim, que haja um louco que faça alguma coisa, mas também está o Senhor, hein? Mas, fazer um espaço de blindagem entre o bispo e o povo é uma loucura, e eu prefiro este risco".
O Papa agradeceu depois aos organizadores e operadores da informação pela preciosa colaboração dada para contar os eventos desta 28ª JMJ. “A bondade e o sofrimento do povo brasileiro”, disse-lhes, são os aspectos que particularmente o impressionaram nesta viagem:
"A bondade, o coração do povo brasileiro é grande, é verdade, é
grande; mas, é um povo tão amável, um povo que gosta de festa e que,
mesmo no sofrimento, encontra sempre uma maneira para procurar o bem de
todos os lados. E isto faz bem: é um povo alegre, um povo que sofreu
tanto!".
Uma referência indirecta, esta, à comovente visita à favela de
Varginha, em contacto com a pobreza extrema e a dor de tantas famílias. E
depois a maravilha do Papa Francisco, pela participação de mais de três
milhões de jovens de 178 Países na Missa de encerramento do último
Domingo, em Copacabana; mas também a oração, sublinhou o Papa Francisco,
foi o leitmotiv desta JMJ, como no dia da visita ao Santuário de Nossa
Senhora Aparecida:
"Aparecida, para mim, é uma experiência religiosa forte", disse o
Papa. Evidentemente, o Papa Bergoglio recorda aquilo que este lugar,
assim tão caro aos brasileiros, significou para a Igreja
latino-americana, depois de ter sido a sede da V Conferência do
episcopado do Continente, em Maio de 2007.
O Papa referiu-se também no colóquio com os jornalistas à próxima canonização dos dois pontífices João XXIII e João Paulo II: vão ser proclamados santos numa única celebração. Quanto à data, pensava-se no dia 8 de Dezembro, mas poderá ser adiada para a próxima primavera porque naquele período, na Polónia, as estradas estão cheias de gelo e os que vêm de autocarros, por não terem a possibilidades de vir a Roma de avião, correm o risco de não estar presentes. Sobre a sua escolha de viver de modo simples, em Santa Marta, o Papa respondeu:
“Eu não posso viver sozinho, ou com um pequeno grupo! Sinto a necessidade de estar com as pessoas, de encontrar gente, de falar com a gente… Cada um deve viver como o Senhor lhe pede para viver. Mas,
a austeridade – uma austeridade geral – creio que seja necessária para
todos aqueles que se põem a trabalhar pela Igreja”.
Resolvida, em seguida, com a ironia e a simplicidade próprias do Papa
Bergoglio, o grande “mistério” da pasta preta, levada pessoalmente na
viagem ao Brasil:
“aí não estava a chave da bomba atómica! Mas trazia-a eu porque fiz sempre assim… E o que é que contém!? Está gilete, está o breviário, está a agenda, está um livro de leitura – trouxe um sobre Santa Teresinha a quem sou devoto … andei sempre com a pasta, nas viagens: é normal. Mas temos de ser normais.”
O Papa abordou também temas mais delicados, como a reforma do IOR,
dizendo: “não sei em que é que será transformado esse Instituto, se numa
banca ou um fundo de ajudas, mas transparência e honestidade isto sim,
devem ser os critérios em que se inspira esse organismo. O problema do
IOR – continuou o Papa é “como reforma-lo, como sanear aquilo que deve
ser saneado”.
Em seguida o Papa exprimiu a sua dor pelo escândalo criado por um
monsenhor que acabou recentemente por ser encarcerado. Mas “existem
santos na cúria– especificou –e, mesmo se existe um ou outro que não
seja tanto santo, estes são aqueles que fazem mais barulho: sabeis que
faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce.
No que toca a temas éticos como o aborto e o casamento gay, o Papa voltou a sublinhar que não falou deles na JMJ de Rio, porque a posição da Igreja sobre isso é já conhecida e clara.
A uma pergunta sobre a questão da lobby gay no Vaticano, o Papa disse:
“Bem, escreve-se muito sobre a lobby gay. Eu ainda não encontrei ninguém que me tenha dado o bilhete de identidade no Vaticano com a escrita “gay”. Dizem que há. Creio que quando nos vemos perante uma pessoa assim, devemos distinguir o facto de ser uma pessoa gay do facto de fazer lobby, porque as lobbies não são boas. Não se trata duma coisa boa. Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade… mas quem sou eu para a julgar?”
Sobre a questão da comunhão aos divorciados que voltaram a casar-se, o
Papa Francisco explicou que é um problema “complexo” que será tido em
conta também pelo Conselho dos oito cardeais em Outubro próximo, mas
recordou o que já dizia o cardeal Quarracino, segundo o qual metade dos
matrimónios são nulos devido à imaturidade com que são contraídos.
Respondendo a um jornalista acerca do papel da mulher na Igreja, o
Papa considerou que “se deve ir para a frente na explicitação do papel e
do carisma da mulher” na Igreja e que não se fez ainda “uma profunda
teologia da mulher na Igreja”.
O Pontífice falou depois dos movimentos eclesiais dizendo que “são
necessários… são uma graça do Espírito”. Falou também da espiritualidade
oriental com estas palavras: “temos necessidade… deste ar fresco do
Oriente, desta luz do Oriente”.
Por fim, sobre a presença de Bento XVI no Vaticano disse: “É como ter
um avô em casa, mas um avô sábio. Quando numa família o avô vive em
casa, é venerado, é amado, é ouvido. Ele é um homem de grande prudência,
não se imiscui. Eu já lhe disse várias vezes: “Mas Santidade, faça a
sua vida, receba hóspedes, participe nas nossas iniciativas… “.
Participou na inauguração e bênção da Estátua de São Miguel… Para mim, é
como ter um avô em casa. O meu pai. Se tivesse uma dificuldade ou algo
que não compreendesse, havia de telefonar e dizer “mas diga-me, acha que
posso fazer isto, aquilo?”. E quando fui ter com ele para falar daquele
grande problema do vatileaks, ele disse tudo com grande simplicidade…
ao serviço”.
in
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