O cardeal espanhol, Carlos Amigo comenta as palavras e os gestos do Papa Francisco
Madrid, 15 de Julho de 2013
O cardeal arcebispo emérito de Sevilha, Carlos Amigo
Vallejo, OFM, esteve no passado dia 27 de Junho, na apresentação de três
livros do Papa Francisco: “Só o amor pode nos salvar”; “Peço-vos que
rezeis por mim”; “Não deixem que roubem a vossa esperança”, editados
pela Editorial Romana com a Livraria Editora Vaticana.
Ao término da apresentação, o momento era propício para perguntar à
sua eminência sobre o papa Francisco, suas palavras e porque atrai
tanto as pessoas, resposta que lhes propomos abaixo na entrevista que
concedeu à ZENIT.
***
ZENIT: Por que este Papa atrai tanto as pessoas especialmente os nossos povos?
- Cardeal Amigo: Temos um papa da América Latina e tantos os latinos
como os latino-americanos precisamos também do sentimento. Precisamos da
cabeça, do intelecto da razão, mas nossa cultura está também cheia de
sentimento. Então, o santo padre Francisco, é fiel a si mesmo, fala com a
linguagem simples, das pessoas dos bairros portenhos ou das pessoas que
se encontram em qualquer lugar do mundo. Fala dos conselhos que o seu
avô lhe dava e fala com os ditados do seu próprio país e as pessoas
agora entendem muito bem tudo isso.
Vocês se deram conta de que se expressa de forma muito simples, mas
com ideias que têm uma grande profundidade, porque o Papa sabe que é
educador da fé. Por exemplo, quando fala de perdão, fala com palavras de
carinho, fala da misericórdia e do amor de Jesus Cristo, mas também da
responsabilidade de ser fieis ao que prometemos no baptismo.
ZENIT: Sabe-se que o Papa Francisco quer uma reforma da Cúria, mas parece que suas palavras já estão mudando muitas coisas.
- Cardeal Amigo: Eu acho que ao invés de reforma, é uma renovação, e
uma renovação, em vez de fazer coisas novas, significa remover toda
aquela ferrugem que o pecado ou a negligência das pessoas tenha
conseguido colocar. Não se trata de fazer coisas novas, mas de ser
autenticamente fieis ao que é a essência do fiel cristão. Alguns pensam
que a renovação será para fazer coisas novas ou algo assim. Pelo
contrário, a renovação ajudará a limpar-nos um pouco, para que brilhe no
nosso rosto o rosto de Cristo, porque isso é ser cristão.
ZENIT: Sua simplicidade é muito evangélica, não é verdade?
- Cardeal Amigo: É uma simplicidade de gestos e também de palavras.
Além do mais é a simplicidade do mistério. O mistério entendido não como
algo escondido, não como um arcano, uma espécie de muro que está na
cabeça dele, mas que o mistério é algo grande, admirável, sublime, cheio
de luz, e o papa nos vai introduzindo nesse mistério, como alguém que
não quer nada, ele nos vai introduzindo no coração de Deus.
ZENIT: Tantas pessoas voltaram ou se aproximaram da Igreja, será somente pela sua linguagem?
- Cardeal Amigo: É também a sacralidade dos gestos. Como os
sacramentais, a água benta, então, parece que é somente um pouco de água
que colocamos no dedo e fazemos o sinal da cruz. Entretanto, isso te
aproxima, converte o coração. Te coloca num novo espaço, e isso são os
gestos. A pessoa não fica nos gestos, mas estes convertem o coração.
Vendo o que o Papa faz, a pessoa sente até mesmo uma chamada de
consciência, eu tenho que mudar, ele nos está dizendo onde está o
caminho, onde está a verdade.
ZENIT: Até um cardeal sente isso?
- Cardeal Amigo: Bem, sinto, sinto e muito, e quando leram na
apresentação destes livros algumas páginas do papa Francisco, a pessoa
deveria ler de joelhos, e em mais de uma ocasião não falo que saiam
lágrimas mas chorar por dentro, sim, muitas vezes chorei por dentro
lendo coisa tão maravilhosas, especialmente estas homilias na casa Santa
Marta. Às vezes nos preocupamos porque a Igreja faz muitas obras de
caridade e as pessoas, às vezes, não se dão conta disso. Bom, o papa não
tem muito interesse nisso, mas sim na fidelidade à mensagem do
Evangelho.
in
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