Quem não recebeu alguma vez ajuda para encarar a vida de forma equilibrada e não se deixar esmagar pelos inúmeros problemas quotidianos, grandes ou pequenos? Expressões como “vive um dia de cada vez” e “concentra-te no aqui e agora” fazem parte da nossa vivência diária e recebemo-las como um guia de acção que nos liberta de tantos “pesos” interiores e exteriores. Na verdade, esses conselhos são a tradução vulgar de correntes psicoterapêuticas cuja pedra de toque é a vivência plena do presente, em total atenção e abertura à realidade concreta. Exercitando a consciência das nossas sensações (por exemplo, habituando-se a sentir a própria respiração), ideias e actos, vamo-nos libertando de uma certa anarquia interior que nos arrasta para emoções exacerbadas, pensamentos confusos e acções indecisas ou mecânicas. Ganhar o hábito de bem sentir o que se faz, de bem olhar o que se vê, de bem escutar o que se ouve, etc., aproveitando cada momento em plenitude, exclui toda a indecisão e confusão. Esta promessa de “cura” contida em inúmeras terapias contemporâneas, não passa, afinal, de uma sabedoria popular ancestral.
Haverá alguma relação deste “saber” com os ensinamentos da vida cristã? Poderá existir alguma compatibilidade entre certas técnicas de psicoterapia e os conselhos cristãos de vida prática? São perguntas que tenho feito há vários anos e que me têm conduzido na investigação do tema. O ponto 815 do Caminho – “Queres de verdade ser santo? Cumpre o pequeno dever de cada momento. Faz o que deves e está no que fazes” – foi, a este propósito, uma grande descoberta para mim. Não só é profundamente libertador o conselho prático “está no que fazes”, ou seja, vive imersa no presente e não dês ouvidos às fugas de ti mesma, como, nessa atitude se revela o segredo de bem conseguir cumprir o pequeno dever de cada momento, descansando na atenção aos pormenores, que são a única realidade que tenho para viver. Desde cedo São Josemaria teve a intuição, que é muito própria da espiritualidade do Opus Dei, de que os actos simples de cada dia são a matéria da realização humana neste mundo. A capacidade para conhecer-se, tomar consciência da própria autonomia e superar-se com a insubstituível ajuda da graça de Deus faz parte do dia-a-dia dos membros da Obra. Assim, não sendo uma terapia, nem pretendendo ser, há no caminho proposto por São Josemaria uma sabedoria prática, segura e profunda, para ajudar as mulheres e os homens que vivem submetidos às agitações e inquietudes do mundo de hoje.
Nota: a autora escreve segundo o antigo acordo ortográfico
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