Os níveis e categorias de saúde mental tomam contornos e provocam efeitos evidentes e diferenciados. Não vamos esboçar um manual de saúde mental. Apenas passar ao papel algumas reflexões à volta da saúde mental. As décadas de trabalho em casas de saúde em que só alguns dos muitos doentes mentais entram em tratamento por se tornarem perigosos para outros, na própria família e para a sociedade, fazem pensar. Nelas, outros são assistidos por não terem capacidades mentais para cuidarem de si e poderem ser um perigo para a sua saúde e vida. Muitos destes entram nos manuais como deficientes ou descapacitados; outros como desarmónicos ou falhos de equilíbrio. Cada vez mais começam a ser bastante incapacitados mental e fisicamente, os chamados dementes de Altzheimer. É claro que passam pelas casas de saúde muitas outras pessoas afetadas de outras doenças, distúrbios e sintomas para se tratarem, descansarem e melhorarem de stresse, depressões, sono, doenças diversas das drogas, do álcool e doutras dependências.
Nos últimos anos, têm crescido as preocupações dos profissionais e das famílias, por jovens e adultos, se tornarem dependentes de vícios sem substâncias de jogos digitais (gaming). Na classificação das doenças, a OMS vai introduzir a 1 de janeiro de 2022 estes transtornos que já superam todas as outras dependências problemáticas. Nem faltam os perturbados doutros diversos consumismos desde os alimentos às compras e noitadas. Seria impossível referir nestas reflexões todas as desarmonias dos hábitos de viver que podem entrar na falta de saúde mental.
De entre as categorias dos transtornos de saúde mental são esquecidas outras desarmonias que, em vez de sinalizadas e enfrentadas, por vezes são elevadas a façanhas admiradas e premiadas pelos média e pela opinião pública. Os “jogos” de corrupção dos chicos espertos de raptos, violações, manipulações e compra e venda de pessoas; os que fogem ao bem comum desviando o dinheiro de impostos para labirintos criminosos, off shore; o tráfico ilegal de armas para guerras de interesses de tiranos e milhares de mortes de crianças e adultos, enriquecimentos corruptos, os quais só rara e tardiamente, começam a ser classificados e enfrentados como sintomas antissociais de perturbação do equilíbrio mental.
Alguns comportamentos de doença mental, por evolução biopsicológica e segundo o peso dos fatores involuntários, são de responsabilidade atenuada ou nula para os próprios ou terceiros. Grande número dos transtornos antissociais das categorias anteriores, são, porém, atribuídas a fatores com maior ou menor grau de responsabilidade, dos próprios ou de manipuladores e lavadores de cérebros e tiranos sociais. Tanto as vítimas como os agressores, não raro, são afetados em grau diverso por transtornos de saúde mental que só tarde demais são tidos em conta com medidas adequadas de tratamento e controlo criminal. Atente-se ao número de delinquentes e criminosos que ferem e matam todos os anos.
Esta consideração leva-nos para uma questão crucial a que os influenciadores de cultura podem ou não querer envolver-se. A questão a que nos referimos é a do sentido da vida. Adotar um estilo de vida sem sentido, absurdo, agressivo e violento, para si e para os outros, não será uma falha de saúde mental social e personalizada? Não faltam cabecilhas de horror: Robespierre, Hitler, Estaline, Pol Pot, Mao, Abimael Guzman (Perú) e tantos outros. Os toxicodependentes podem ser e os traficantes de drogas e de pessoas não serão perturbados mentais?
Não é qualquer atividade semeada de injustiças e de crime que satisfaz as condições de sentido da vida aceitável. Precisa de valer como serviço à vida de todos, para todas as estações, sem excluir o depois da morte e na eternidade. Nem com agressão, violência e morte se constrói o sentido de vida ou se resolvem os seus problemas. Viktor E. Frankl afirma que a responsabilidade do ser humano lhe torna efetivo o sentido potencial da sua vida a descobrir num sistema aberto e não fechado; e acrescenta que chamou a esta caraterística constitutiva (aspas suas): «a autotranscendência da existência humana». “O ser humano está dirigido a algo ou alguma coisa para além de si mesmo - seja isso um sentido a preencher, ou outro ser humano a encontrar”. E dá três formas de descobrir esse sentido: 1) criando uma obra ou praticando uma façanha; 2) vivendo uma experiência [bondade, verdade, beleza, diz mais abaixo]; e 3) por meio da atitude que assumimos ante um sofrimento inevitável (FRANKL, O homem em busca de um sentido, 6ª ed. 2017, pp.112-113). A posição deste psicoterapeuta é afinal uma definição de mestre da saúde mental que devia preocupar a todos.
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