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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Amor para o séc. XXI

O desejo de liberdade faz parte da natureza humana e a necessidade de amor também. O homem é menos feliz se a sua liberdade for coartada. Porém, o “amor livre”, conforme tem sido propagado, é uma falácia que não dá felicidade. É o que se constata nos seus frutos, nos resultados a que levou o “amor livre”. O amor deixou de ser amado, está a ser perseguido pelo egoísmo e necessita ser libertado das suas cadeias.

O amor está a ter cada vez mais dificuldades de se manifestar como amor, rebaixando-se ao nível de instinto irresponsável. O divórcio, o aborto, a eutanásia... diminuem a liberdade do amor. E quais são então as necessidades do homem para ser livre, para ser feliz?

Para ser livre, o homem deve conhecer a verdade (“a verdade vos tornará livres”, Jo 8, 32) porque é um animal racional. A sua felicidade, para ser completa, deve abranger o corpo, a mente e o sentimento, isto é, deve satisfazer as suas necessidades materiais, intelectuais e afetivas. Portanto, também no que respeita ao amor.

Um animal contenta-se satisfazendo os seus instintos, mas o homem não.

No que respeita ao amor humano, que é o nosso tema, convém começar por perguntar: o que é o amor? A resposta é difícil em relação ao homem porque cada pessoa tem o seu modo próprio de amar e de ser amado. Uma coisa é certa, o homem é mais feliz se tiver oportunidade de amar e de ser amado. O amor é a forma de comunicação mais profunda, gratificante e complexa, pois abrange todas as potências do ser humano. Mas, mas... não há verdadeiro amor sem sofrimento. Quem não está disposto a sofrer, não está preparado para amar. O amor é uma dádiva e um pedido. Ambos se podem revelar nesta frase: “Quero dar-te o meu amor. Queres dar-me o teu amor?” Sim, no homem, na mulher, amar é, deve ser, um ato livre e, como tal, responsável. Devo ser capaz de renunciar, com o meu querer decidido, a prazeres passageiros que podem transformar o amor em indiferença, e até em ódio.

Coloquemos umas quantas perguntas e procuremos dar-lhes resposta:

De que necessita o homem para viver um amor livre?

Aprender e preparar-se para amar (dignidade, busca, paciência, aceitação, perdão...)

A quem pode o homem oferecer o seu amor?

Contou-me um senhor amigo que, ao sentir-se atraído pela sua futura mulher, costumava segui-la. “Se ela olhasse para trás, não era mulher para mim.” Esta frase revela grande respeito pela dignidade própria e da pessoa amada. Deve ser alguém de igual ou superior dignidade de modo que o respeito mútuo dê garantias de fidelidade aos compromissos contraídos.

O amor tem retorno?

O amor tem sempre retorno, e o ódio também. O retorno próprio do amor é também amor. O retorno do ódio é o ódio. Porém, o homem é livre para cortar estes retornos naturais. S. Josemaria Escrivá ensinava: “Afogar o mal em abundância de bem”. A vingança e o assassinato surgem geralmente em ambientes nefastos: entre gangues rivais e também dentro do próprio gangue. Onde o amor encontra o seu habitat natural é no seio das famílias alargadas, em ambientes hospitaleiros para com recém-nascidos ou anciãos, jovens ou enfermos.

Quais são as portas das prisões do amor?

Há países que tornam o amor prisioneiro de leis enganadoras, mas há um portão que abrange todas essas portas. Esse portão chama-se irresponsabilidade; as portas são muitas e têm como base a mentira, o engano, a ignorância, o egoísmo...

Como abrir essas portas para poder libertar o amor?

Surge-nos, por exemplo, a ideia de uma habitação digna. Isso implica emprego justamente remunerado, de acordo com a competência e responsabilidade profissional de cada um. Porém, se o amor nasce nas famílias, é nas famílias que encontramos as chaves que podem abrir todas as portas ao amor. Os governos fomentam perseguições religiosas? Compete aos pais ensinarem os filhos a amar a Deus sobre todas as coisas e a rezar. Os governos fomentam o divórcio? É nas famílias que descobrimos exemplos de fidelidade e caridade heroicas: As leis permitem o aborto, esse ato que mais penaliza e retira liberdade ao amor? O fim primeiro do amor é dar frutos: o primeiro fruto do amor é a vida, se bem que o mais importante seja a santidade, o amor a Deus e ao próximo. Se eliminamos uma vida, eliminamos o amor que essa vida tinha para oferecer. O mesmo se aplica à eutanásia. Se faltam ajudas legais para amar, mas não faltam para odiar, ainda encontraremos essas ajudas nas famílias e em pessoas de bem. E talvez, com persistência, possamos abrir as portas dessas leis através de votos que defendam a vida, o amor, a paz.

Procuremos que o amor ocupe o lugar do ódio nos nossos lares, escolas, maternidades, hospitais... países. Devolvamos, no séc. XXI, a liberdade ao amor.

Isabel Vasco Costa


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