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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Amar a Deus, amar o próximo

1 – O Programa Pastoral Diocesano 2021-2022 convida-nos a viver a caridade. Não apenas como expressão de solidariedade, mas como testemunho da vida divina que Jesus, pelo seu Espírito, nos manda praticar. Trata-se de pormos em prática as formas de pré-evangelização que preparam o mundo para escutar o anúncio do Evangelho. Porque só o amor é digno de fé, porque também o amor se propaga pela pregação, somos convidados a viver centrados no amor. Nas famílias, no trabalho, na escola, na paróquia, nos centros sociais, nos hospitais, o amor a Deus e ao próximo há-de ser o motor do nosso agir.

2 – Amar a Deus?! A Deus nunca ninguém O viu. Como poderemos amar, de verdade, Alguém que não conhecemos? E de onde nos vem esta necessidade de O amarmos? Será das dificuldades que sempre encontramos quando nos é mandado que aceitemos e amemos os nossos semelhantes assim como são, com as suas qualidades e defeitos? Não será este Primeiro Mandamento que nos manda amar a Deus acima de tudo, uma fuga para diante, uma sábia alienação que nos dá mais espaço e mais razões para nos acolhermos uns aos outros com alguma simpatia?

Acontece, no entanto que, nesta nossa sociedade materialista e hedonista, este mandamento está hoje posto de parte ou esquecido como inútil. Mas ele é o Mandamento Primeiro e a base de todos os outros, aquele que deu consistência e solidez a todo o edifício legal, pelo menos nas sociedades ocidentais.

3 – Convido-vos, caros irmãos, a reparar na resposta que dá o Senhor Jesus ao escriba que o interrogou acerca do principal mandamento da Lei de Deus: O primeiro mandamento é este: escuta Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas as tuas forças (Dt 6, 4-6). Este começo da resposta de Jesus é a oração do shemá que os judeus piedosos rezam três vezes ao dia. Aquelas palavras escuta Israel são o pórtico deste Primeiro Mandamento. Na verdade, nós podemos amar a Deus se reconhecemos que Ele nos amou primeiro e a notícia do seu amor que é proclamada por toda a criação chega até nós pela pregação, pela palavra que entra nos nossos ouvidos. Já no livro do Êxodo, ao prometer ao seu Povo a aliança, o Senhor disse-lhe por meio de Moisés: Vós vistes o que eu fiz aos egípcios e como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim. Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa (19, 4-6a).

Como que respondendo a esta proposição o autor da Primeira Carta de São João escreve: Quanto a nós amemos, porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4, 19). Porque não amamos o próximo? Porque não amamos a Deus? Como se pode levar alguém a amar? Com leis? Não. Com o abrir o ouvido, com a pregação da palavra de Cristo que suscita, naqueles que a escutam, a fé, a esperança e a caridade.

4 – No evangelho do próximo domingo onde podemos encontrar o Evangelho? É que tanto o escriba como Jesus apenas repetem palavras do Antigo Testamento… Para nós cristãos o Evangelho é a pessoa de Jesus. Ele é o único que cumpre o Primeiro Mandamento. Por isso, na representação da sua crucifixão O vemos com o coração rasgado, com a cabeça coroada de espinhos e com as mãos e os pés cravados no madeiro da Cruz. Assim nos é comunicada a forma pela qual Ele ama o Pai, com todo o coração, com toda a mente e com todas as forças. Assim, também reconhecemos o seu amor para connosco. Assim compreendemos que Ele conduza os discípulos, declarando-lhes: quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim (Mt 10, 37). Na realidade, só amando Jesus Cristo, que sendo verdadeiro homem é também Deus verdadeiro, podemos amar os nossos irmãos com o mesmo amor, o mesmo espírito e com os mesmos sentimentos d’Ele.

Caríssimos irmãos: amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus. Quem ama nasceu de Deus e conhece a Deus (1 Jo 4, 7) e dá testemunho d’Ele. O Mandamento Novo que Jesus nos deixou não é apenas uma lei para cumprirmos: é o miolo da vida cristã. Quem aceita e reconhece o amor de Deus por cada um de nós não pode deixar de o pôr em prática. Dar a vida unido a Cristo é verdadeiramente um jugo suave e uma carga leve (Mt 11, 29-30).

+João Marcos


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