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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Homília da Solenidade de São Sisenando, padroeiro dos diáconos permanentes da diocese e da cidade de Beja

24 de outubro de 2021

1 - A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém, e obedecia à fé também grande número de sacerdotes.

Senhor vigário geral, senhores cónegos e presbíteros, caríssimos diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas e todos vós fiéis leigos.

Estamos celebrando a solenidade de São Sisenando, padroeiro da cidade de Beja e também protetor que vela no Céu pelos diáconos da nossa diocese. O texto do livro dos Atos dos Apóstolos, que terminava com as palavras do início desta homilia, refere-nos o crescimento da Igreja nascente de Jerusalém. Como contrastam com a realidade presente na nossa diocese nestes tempos em que a Covid-19 teima em continuar a sua ação nas nossas cidades, vilas e aldeias. Poder-se-á argumentar que estas palavras caracterizam uma realidade nascente, e que hoje vivemos tempos em que lutamos pela sobrevivência. Convido-vos, irmãos, a escutar estas palavras, que são palavras de Deus para nós, hoje, como promessa que Ele nos faz, não apenas de uma sobrevivência raquítica mas de um renascimento, de um tempo novo em que, também nestas terras alentejanas, o cristianismo florescerá e frutificará.

2 - Como sabeis, estas palavras que ouvimos são a conclusão da escolha dos primeiros sete diáconos, homens cheios do Espírito Santo, escolha feita pela assembleia dos discípulos. Era necessário organizar o serviço das mesas e os Apóstolos viram claramente que não deveriam deixar de pregar a Palavra de Deus para realizarem esse serviço. Quanto a nós – disseram eles – vamos dedicar-nos totalmente à oração e ao ministério da Palavra.

A oração e o ministério da Palavra são o centro da vida dos Apóstolos, ou seja, dos bispos e dos presbíteros que partilham o seu ministério. A oração e o ministério da Palavra, caríssimos padres foi, é, e será o centro da nossa vida e da nossa ação apostólica. A fecundidade do nosso ministério depende do Espírito Santo que recebemos e distribuímos pelos fiéis. Quando deixamos a oração para corrermos atrás de tantas atividades, porventura urgentes, mas não-específicas do ministério apostólico, podemos ganhar a simpatia do povo, podemos considerar-nos homens de sucesso, mas aquilo que verdadeiramente caracterizará negativamente a nossa existência será um vazio espiritual.

Esta escolha dos Apóstolos salvaguarda a fonte da vida e da ação que o Senhor nos entregou e nos convida a cultivarmos. Gravemos estas palavras em nossos corações e ponhamo-las em prática. A Palavra do Evangelho é o verdadeiro tesouro que os fiéis esperam de nós e que o mundo de hoje precisa de escutar. E se, como nos primeiros tempos da Igreja, surgem problemas concretos nas nossas paróquias e comunidades, abramos portas de solução com os diáconos e outros ministérios. Mas não nos deixemos seduzir pela curta eficácia do velho clericalismo, habituado a tudo decidir e a tudo controlar. Hoje, na esteira do Vaticano II, é pela sinodalidade, pelo caminhar juntos, que a Igreja se define e atua.

3 - Este caminhar juntos não deixou os diáconos prisioneiros do serviço das mesas. Vemos, logo de seguida, como o diácono Estevão anuncia, corajosamente, o Evangelho. Vemos também o diácono Filipe anunciar a Palavra da Boa Nova na Samaria, e batizando um eunuco etíope. Também a oração e o ministério da Palavra fazem parte da vida dos diáconos e de qualquer cristão. Isso podemos dizê-lo do nosso padroeiro, o diácono Sisenando, que foi preso e morto por anunciar o Evangelho no século IX. O seu amor a Cristo, amor que o levou a preferir a morte para estar com Ele, de onde nasceu? E onde o cultivou? Na oração. Na oração ele recebeu o Espírito Santo que o levou a ser diácono, quer dizer, a servir o Senhor que veio ao mundo, não para ser servido mas para servir e dar a sua vida, e a servir os irmãos entregando por eles a sua vida. É na oração, caros diáconos, que também vós cultivareis a vossa diaconia, o vosso serviço de amor aos irmãos, como tradução do amor a Cristo Nosso Senhor. No ministério da Palavra experimentais certamente, que Cristo Ressuscitado está vivo e atua por meio de vós, suscitando e cultivando a fé naqueles que vos ouvem.

Neste dia da solenidade de São Sisenando, peçamos-lhe que interceda por nós junto de Cristo Nosso Senhor. Confiemos que ele escuta as nossas preces, pela sua e nossa cidade de Beja, da qual é padroeiro.

São Sisenando rogai por nós! Abençoai esta vossa e nossa cidade! Abençoai os nossos diáconos e as suas famílias! E pedimos-vos também, no início deste biénio vocacional, que alcanceis para esta seara grande da nossa diocese, e das dioceses de Évora e do Algarve, a abundância de vocações sacerdotais, religiosas e missionárias que possam lavrar e cultivar de novo, pela oração e pelo ministério da Palavra, as terras do Baixo Alentejo, do Alentejo Litoral e da margem esquerda do Guadiana. Amen!

+João Marcos


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