Entre vários dissabores, a epidemia levou-nos também à perda de confiança em cientistas, políticos, vacinas, jornalistas, etc. Quem tem razão? Onde está a verdade? Quem quer o nosso bem? Quem poderá querer aproveitar-se da situação que estamos a viver?
De todas as perdas na vida, há duas extremamente angustiantes, sobretudo se a perda se alonga no tempo. Uma, é a perda de pessoas queridas; outra, é a perda do caminho, de orientação, como pode acontecer no alto mar ou em montanhas elevadas. Foi um pouco isso que sucedeu em certo momento da vida de um casal: perderam o filho adolescente e, simultaneamente, o caminho. Sem saber onde o rapaz se encontrava, onde o iriam procurar? O episódio, com vários matizes, é comum na experiência humana. O facto aqui evocado terminou bem, pois o aflito casal, Nossa Senhora e S. José, conseguiu encontrar Jesus. Vale a pena acompanhar esta aventura para nos animarmos a buscar o que verdadeiramente vale a pena procurar.
Primeiro passo: Maria e José acreditaram na especial missão – na vocação – que Deus lhes dera. Isso é universal. Cada mulher, cada homem, chega ao mundo com uma importantíssima missão. Pode aceitá-la ou não, com desculpas várias: não ser digno, não acreditar no que descobriu (dá trabalho procurar descobrir a vocação e também dá trabalho aderir a ela, pois implica sujeitar as ambições pessoais à vontade divina), não querer acreditar na existência de Deus, etc. A Virgem Maria e S. José acreditaram na verdade das revelações recebidas e abraçaram com amor e responsabilidade a vontade de Deus porque eram humildes. A humildade é uma parte da virtude da fortaleza. Só os fortes e valentes estão dispostos a correr riscos e sofrer dissabores para agradar ao seu Senhor. Estar disposto a constituir família, a casar-se e a ter descendência, e responsabilizar-se por ela, uma vocação nobre. Estar disposto a não se casar, para poder responsabilizar-se por uma família mais alargada em qualquer circunstância ou lugar, é uma vocação mais importante até. Quer uma quer outra são caminhos de santidade. Poderemos afirmar que este casal viveu estas duas vocações? Parece-nos que sim: aceitaram casar-se para proporcionar o ambiente normal de uma família a Jesus, mas viveram o celibato próprio da entrega e disponibilidade.
Maria e José amavam Jesus de tal modo que não podiam viver sem Ele. Logo que se aperceberam de que não tinha vindo na caravana que voltava de Jerusalém a Nazaré, retrocederam no caminho, mesmo sem saberem onde Ele se encontrava. O que sim, sabiam, é que o caminho que estavam a seguir, de volta a Nazaré, não era o que os levaria ao encontro de Jesus. O caminho a seguir nem sempre é claro. Por isso, é necessário ir perguntando onde está Jesus para saber onde Ele quer que o encontremos. O local do encontro com Jesus foi no Templo porque Ele já tinha noção de que devia “tratar das coisas de meu Pai”, como disse a seus pais quando voltaram a ver-se.
Aos doze anos já se deve ter noção do sentido da vida. A razão humana já consegue compreender que há um Deus criador ao qual deve adorar e servir. Mas aos doze anos ainda se é adolescente e os pais assustam-se com o crescimento dos filhos. Maria e José assustaram-se ao perderem Jesus, e admiraram-se ao constatarem a sua sabedoria e autoridade perante os doutores da lei. Aprenderam a compreender e respeitar a vocação de Jesus, mas Jesus, embora ainda adolescente, foi-lhes submisso daí em diante, e crescia em “estatura e sabedoria”.
A grande alegria: encontrar o perdido. As nossas personagens, as três, tiveram a noção do que lhes faltava, do que tinham perdido. Todas sentiam a falta de quem amavam. José e Maria não queriam perder a presença encantadora de Jesus e, ainda menos, falhar em alguma parcela da confiança que Deus depositara neles. Jesus, como verdadeiro Homem, sentia saudades dos pais e voltou a obedecer-lhes; como Deus, sentia a falta do amor dos homens por Ele e daí a sua pressa em cuidar “das coisas de meu Pai”. A viagem a Jerusalém era o momento propício e adequado para se revelar como Deus, embora ainda de forma obscura. Só os seus pais entenderam a verdade e profundidade do que lhes dissera, e sua mãe “guardava tudo no seu coração”. Anos mais tarde, Jesus diria que era “o caminho, a verdade e a Vida”. Nossa Senhora e S. José já o sabiam; seguiram fielmente esse caminho e viveram de acordo com essa descoberta.
Podemos continuar a ter incertezas acerca de pandemias e outras realidades, geralmente passageiras. Temos, porém, uma certeza que corresponde à verdade: aquela que nos foi revelada pelo Filho de Deus. Esta verdade é imutável e quem encontrar e seguir este caminho terá a vida eterna e será feliz para sempre.
Isabel Vasco Costa
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