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sábado, 27 de fevereiro de 2021

Um dia diferente do planeado

Os planos que tinha para hoje desorganizaram-se! O telemóvel não tinha internet. Será que me enganei nos dígitos ao fazer a transferência? Também não havia eletricidade. Liguei o interruptor do quadro. A luz voltou mas por pouco tempo. Havia um curto-circuito, o quadro voltou a disparar. Dei uma volta à casa. Olhei para o teto e vi que devido â chuva havia uma infiltração que tinha chegado à parte elétrica. Enviei uma mensagem ao eletricista. Felizmente respondeu que viria resolver o problema antes de ir para o trabalho. Sem as novas tecnologias, com quem partilhamos inúmeros acontecimentos a nível mundial, e sem eletricidade fiquei limitada. Nada funcionava. O melhor mesmo era oferecer a Deus este contratempo, que se Deus quiser, a curto prazo será resolvido. Aceitei esta ocorrência, tudo se tornou mais fácil, inclusivamente, fazer as limpezas que este acidente provocou, desde lâmpadas partidas a toda a caliça que se espalhou ao isolar os fios. Fiquei reconhecida pela prontidão na resposta do eletricista. Antes de sair perguntei se queria um café. Já podia ligar a máquina. Respondeu logo afirmativamente, referindo, posteriormente que lhe tinha sabido muito bem. Agora já podia reorganizar a agenda diária.

E assim foi. Tinha um webinar que prometia ser interessante. Mas antes, queria fazer um curto passeio. Nos últimos dias tinha tido a companhia da minha neta, permanecendo em casa. Enquanto caminhava revivi estes dias em que teve as aulas online. Por um lado era bom tinha alguma atividade, via os colegas e a professora, criava os métodos de trabalho possíveis. Mas por outro lado, causou-me alguma tristeza, quando a vi correr pela casa, na aula de educação física. Era o possível! Há quase um ano que está a viver um tempo diferente, que certamente terá consequências no seu futuro e no das outras crianças a nível mundial!

Num dos dias tínhamos decidido que se encomendaria o almoço no restaurante ao lado de casa, no sentido de ajudar o dono e a sua família. Quando almoçávamos a minha neta referiu que estava muito bom, acrescentando: “O que acontecerá se o restaurante fechar. Temos de os ajudar!”.

O webinar que assistiria mais tarde era subordinado ao tema: “Impacto Social da Covid-19 ao longo do Percurso de Vida”. Muito oportuno. Havia palestrantes de diferentes partes do globo, cada um dando a perspetiva do seu país. Fui ouvindo as diferentes apresentações sendo que me marcou mais, um assunto que todos abordaram, ou seja, o tema da violência doméstica infantil, que tinha aumentado, com impacto na saúde física e mental. Confinados no mesmo espaço, às vezes sem condições de habitabilidade, com carência alimentar, sem suporte digital, encontravam-se muito vulneráveis, enfatizando-se, a enorme importância de futuramente prevenir estas situações quando acontecem as ruturas sociais. A doença Covid-19, colocou-nos enormes desafios a serem ultrapassados, no sentido de termos crianças, jovens, idosos, famílias e comunidades mais saudáveis e inclusivas, com novas metodologias adequadas à realidade cultural de cada país.

Vem de encontro ao que acabo de referir o Relatório de uma organização mundial sobre a Promoção de dados do Dia Mundial da Criança, em que refere: “Os efeitos sobre as crianças e os jovens tornam-se cada vez mais alarmantes. As crianças enfrentam três ameaças diferentes: as consequências diretas da doença em si, a interrupção dos serviços essenciais e o aumento da pobreza e da desigualdade.

Embora não seja a faixa etária mais afetada, novos dados sugerem que a doença Covid-19, pode ter um impacto na saúde das crianças e nos jovens, mais diretamente do que o previsto. A grave recessão económica global está a empobrecê-los e a acentuar ainda mais aa desigualdades e a exclusão já existentes”.

Preocupamo-nos com o futuro de todas as crianças. Senão o prevenirmos atempadamente, criando as condições necessárias implicando medidas ousadas e sem precedentes, que acautelem o seu porvir, e o de toda a humanidade, a diferentes níveis: saúde, educação, justiça, serviço social, habitação, entre outros, as crianças irão sofrer, ainda mais, as consequências da pandemia.

Por coincidência, no dia em que escrevi este artigo, assinalava-se o XXIX Dia Mundial do Doente. O Papa Francisco escreveu para este dia uma mensagem da qual retiro alguns excertos que reforçam o que atrás referi: “Penso de modo particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja. A doença tem sempre um rosto, e até mais do que um: o rosto de todas as pessoas doentes, mesmo daquelas que se sentem ignoradas, excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais.

Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo. O serviço numa é uma ideologia, dado que não servimos ideias mas pessoas. Uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e o fizer com uma eficiência animada pelo amor fraterno, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído ou marginalizado”.

Mãe de Jesus, olha para nós. Somos teus filhos e precisamos de ajuda. Faz com que sejamos mais generosos, mais atentos aos outros, mais alegres e afetuosos. Confiamos em ti e na tua proteção Santa Mãe de Jesus. Ajudai-nos a encontrar soluções justas no meio desta crise sanitária.

Maria Helena Paes






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