A Comunidade de Sant’Egídio, movimento católico nascido em Roma, manifesta-se contra o “modelo perigoso que favorece o ‘serviço de saúde selectivo’” no que diz respeito aos idosos e que está a levar ao que considera como “massacres de idosos nos lares”.
O documento enviado ao 7MARGENS tem o título “Sem idosos não há futuro – Apelo para re-humanizar as nossas sociedades. Não a cuidados de saúde selectivos” e pode ser lido na íntegra na página da Comunidade.
Entre os primeiros signatários do texto, estão o historiador e fundador da Comunidade de Sant’Egídio, Andrea Riccardi, o antigo presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, e o economista Jeffrey Sachs. Mas também se incluem o sociólogo catalão Manuel Castells, o antigo primeiro-ministro espanhol Felipe González, o ensaísta polaco Adam Michnik, o filósofo alemão Jürgen Habermas e o cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha. Em Portugal, o apelo foi assinado por Maria Antónia Palla (jornalista), Alice Vieira (escritora), Luís Miguel Cintra (encenador), Leonor Xavier (escritora e jornalista) e Luís Miguel Cintra (actor e encenador). A escritora brasileira Nélida Piñon, que passa largas temporadas em Portugal, também subscreve o texto.
No apelo, lê-se que “os idosos estão em perigo em muitos países da Europa como também em outros sítios”, com um número “arrepiante” e “dramático de mortes nos lares”. Isso “não teria acontecido se a ideia de que seja possível sacrificar as vidas deles em favor dos outros não tivesse ganhado força”, diz o documento, referindo-se ao que o Papa Francisco tem definido como “cultura do descarte”, que “priva os idosos do direito de serem considerados pessoas” e reduzindo-os a “apenas um número”.
O texto defende ainda que “muito precisará de ser revisto nos sistemas públicos de saúde e nas boas práticas necessárias para alcançar e tratar todos com eficácia, para superar a institucionalização”.
Um modelo de “serviço de saúde selectivo” que considera a vida dos idosos como residual, em favor da vida dos mais jovens e dos mais saudáveis, é igualmente contestado pela Comunidade de Sant’Egídio, que considera “inaceitável” a resignação a resultados como esses, seja a partir de pontos de vista de direitos humanos, deontologia médica ou de visão religiosa. “A contribuição dos idosos continua a ser objecto de importantes reflexões em todas as civilizações”, lê-se. “Não é possível deixar a morrer a geração que lutou contra as ditaduras, trabalhou pela reconstrução após a guerra e construiu a Europa.”
Por isso, é preciso “reafirmar fortemente os princípios da igualdade de tratamento e do direito universal aos cuidados médicos, que foram conquistados ao longo dos séculos” e o apelo manifesta também o desejo de “uma revolta moral para que se mude de direcção no tratamento dos idosos, para que, acima de tudo, os mais vulneráveis nunca sejam considerados um fardo, ou pior, inúteis.”
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