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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Estátua do padre António Vieira vandalizada em Lisboa já foi limpa pela Câmara

 | 12 Jun 20

P. António Vieira. Estátua, Vandalismo

A estátua do padre António Vieira, vandalizada com inscrições que o próprio subscreveria. Foto: Direitos reservados

A estátua do padre António Vieira colocada no Largo Trindade Coelho (junto à Igreja de São Roque), em Lisboa, foi vandalizada com mensagens supostamente anti-colonialistas, esquecendo que o jesuíta do século XVII defendeu os povos indígenas e lutou contra a escravatura. A obra apareceu com a palavra “descoloniza” escrita no pedestal e corações vermelhos pintados no peito de crianças indígenas e no rosto do padre António Vieira.

O missionário jesuíta refere-se muitas vezes, nos seus sermões e outros textos, à questão da igualdade das pessoas. No Sermão 20º do Rosário, escreve: “Dominarem os brancos aos pretos é força, e não razão, ou natureza.” Ou ainda: “Até nas cousas sagradas, que pertencem ao culto do mesmo Deus, que fez a todos iguais, primeiro buscam os Homens a distinção que a piedade”. E no 14º sermão da mesma série: “[Os mistérios dolorosos] são os que vos pertencem a vós, como os gozosos aos que, devendo-vos tratar como irmãos, se chamam vossos senhores”.

Fazendo da defesa dos povos indígenas e da luta contra a escravatura e a exploração uma das suas causas, foi por causa disso obrigado a fugir do Brasil, onde se encontrava, por ter irritado os colonos da época. A fuga permitiu que Vieira viesse a Lisboa e a várias cortes europeias da época denunciar o que se passava.

A estátua é da autoria de Marco Telmo Areias Fidalgo, que concebeu a estátua a convite da Misericórdia de Lisboa, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa (CML). Inaugurada a 22 de junho de 2017 pelo presidente do município, Fernando Medina, a escultura já nessa altura foi objecto de polémica, com algumas vozes a contestar o colonialismo eu supostamente Vieira representava.

Medina defendeu então que a estátua deveria ser a primeira de várias iniciativas públicas “de recuperação e elevação dessa extraordinária figura portuguesa” e “uma das maiores personalidades do pensamento” português, até agora sem “a devida expressão de reconhecimento” na cidade.

“Trata-se da primeira estátua erigida em Lisboa ao conhecido clérigo jesuíta, nascido na capital portuguesa em 1608 e falecido na Baía, Brasil, em 1697”, explicava uma informação da Câmara Municipal sobre o monumento, em 2017, assumindo assim “a sua obrigação com a História”, como também dizia Fernando Medina e recorda o Expresso

O mesmo jornal conta que as primeiras imagens do vandalismo começaram a circular nesta quinta-feira à tarde na rede social Twitter e que elas foram identificadas com o acto em si. As contas em causa, no entanto, deixaram entretanto de mostrar publicamente os respetivos tweets, acrescenta o jornal. A Polícia estará, entretanto, a recolher indícios que possam levar à identificação dos responsáveis e uma equipa da CML procedeu já a uma limpeza da estátua.

Este acto surge à medida que cresce na Europa e nos Estados Unidos uma vaga de protestos contra figuras históricas que o senso comum toma como tendo fomentado o colonialismo, a escravatura e o racismo, e que já levou á destruição de várias estátuas. Nesta quinta-feira, foi retirada pelas autoridades do Reino Unido uma estátua de Robert Baden-Powell, fundador dos escuteiros, com receio de que fosse vandalizada.

P. António Vieira. Estátua, Vandalismo

Uma equipa da câmara de Lisboa a proceder à limpeza da estátua. Foto da página da CML no Twitter



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