Todos Te procuramos Senhor, em particular, nos momentos mais difíceis, em que não se vislumbra solução, ou quando esta se encontra longínqua tendo de atravessar todo um deserto, mantendo sempre a esperança num futuro melhor. Às vezes parece mesmo que o céu vai cair em cima de nós, agarrando-nos com a toda a paixão ao momento presente que vivenciamos atravessado por inúmeras dificuldades, e sofrimento, mas sabendo que Deus é Pai e que não nos abandonará nunca. Na verdade, este tempo de pandemia parece infindável. É preciso ter muita fé e saber que tudo concorre para o bem, ainda que, de momento, não o consigamos entender. Jesus disse em Getsémani: “Abba, Pai, todas as coisas Te são possíveis”. No entanto o próprio Filho de Deus não seria poupado. Tinha uma missão terrena a cumprir, ou seja, a nossa salvação, através da Cruz, iluminando o mistério da dor.
É na família que, em condições
normais, desenvolvemos os fundamentos mais importantes para se ter uma vida
feliz, ainda que Deus possa ter outros desígnios. A pandemia SARS-COV-2
destacou a importância do papel das famílias, como apoio e suporte a diferentes
níveis. Também podemos ver, nalgumas situações, como uma oportunidade pois a
nossa vida terrena é uma luta contínua.
Pela minha mente surgiu uma
situação em que se tornou imprescindível o apoio da família. Há muitos anos
atrás, aquando da independência de Angola, participei nalguns voos que traziam
de regresso a Portugal os cidadãos de nacionalidade portuguesa, ou seja, os
“retornados”. Tinha acabado de ser mãe pela segunda vez. Fui convocada para
essa dolorosa tarefa, que me veio recentemente ao pensamento, quando o avião militar
da Luftwaffe - Força Aérea Alemã,
aterrou no aeroporto de Figo Maduro em Lisboa, transportando médicos, pessoal
de saúde, ventiladores e outro material necessário, no sentido de ajudar a
prestar assistência aos doentes mais graves da Covid-19, numa Unidade de
Cuidados Intensivos.
Assisti na televisão à sua chegada.
Sem saber como, recuei no tempo. Encontrava-me em Luanda, ouvia ao longe o som
dos tiros, partíamos de noite de regresso a Lisboa, com o avião às escuras,
para não sermos alvejados. O voo decorria em silêncio. Quanta angústia e
incerteza nos olhares dos retornados, alguns sem nada trazerem, mas ainda assim
não se ouvia um queixume. Não havia refeições a bordo. Recordo que distribuímos
rações de combate, (diversas latas que vinham dentro de um saco de plástico). A
situação em terra, em Luanda, era tão complicada, que alguém desesperado se
virou para mim exclamando: “A Luftwaffe
carrega os aviões!”. Acho que nos encontrávamos todos sobre uma enorme pressão.
Graças a Deus, longe, bem longe, os meus filhos tinham ficado entregues ao pai e
às avós. Ainda hoje resvalam as lágrimas pelo rosto ao reviver esses momentos. Deparei-me
com tanto sofrimento, tanta dor, tantas doenças, tanta injustiça! À chegada a
Lisboa, tocava profundamente o coração observar tamanha vulnerabilidade,
vendo-os sair do avião e partir rumo a um futuro desconhecido, em que, na maior
parte dos casos, aguardavam unicamente que as diferentes entidades envolvidas
neste processo de repatriamento os apoiassem. Era o tempo da solidariedade, da
caridade, da compaixão. Foram tempos difíceis! E os anos passaram. Melhor ou
pior, as situações críticas foram ultrapassadas e integradas na sua época, que
a história um dia narrará.
Nestes dias de pandemia, em
confinamento, tenho refletido sobre esses momentos vivenciados que, por analogia,
transporto para a atualidade. A vida é como uma milícia. Lutar sempre. à luz da
fé, ainda que a cruz do sofrimento se abata sobre os nossos ombros. Ouvi alguém
referir que a situação em que nos encontramos talvez constitua o altifalante
que Deus utiliza para nos despertar, devido a tantas situações, que proliferam
por esse mundo fora, e que provocam um enorme sofrimento e que carecem de uma
resposta em prol do bem da humanidade. Este é um momento que pede a nossa
fortaleza; não tenhamos medo da dor e do sofrimento, pedindo a ajuda de Deus.
“Todos te procuramos, Senhor”!
Que a Virgem Maria, rainha da esperança e da família, interceda por nós e nos ajude a ultrapassar as dificuldades desta época com as quais nos confrontamos, sabendo que um dia o sol brilhará novamente.
Maria Helena Paes |
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