Da esquerda para a direita: Hayarpi, 21 anos, Warduhi, 19 e Seyran, 15. Foto © Peter Wassing/Igreja Betel
Há 96 dias que a família Tamrazyan vivia numa igreja protestante feita de tijolos vermelhos no bairro residencial de Haia (Holanda). Mas a batalha para evitar a sua deportação terminou a 31 de Janeiro, depois de o governo holandês concordar em perdoar a família arménia.
Sasun, Anousche e os seus três filhos Haryarpi, Warduhi, e Seyran procuraram refúgio neste local sagrado de modo a escapar a uma ordem de deportação. Segundo uma uma lei do país, pouco conhecida, a polícia não pode interromper qualquer cerimónia religiosa para fazer detenções dentro do templo e, por isso, a família permaneceu na igreja. O pastor responsável pelo templo decidiu iniciar uma celebração ininterrupta, para o que contou com a colaboração de pastores de várias igrejas protestantes, padres católicos e ortodoxos e ministros de outras confissões. Tornou-se uma das cerimónias religiosas continuas mais longa da história, durando mais de três meses e envolvendo mais de mil pastores e padres.
Esta semana, finalmente, e sob pressão de ativistas a favor do caso dos arménios, o governo holandês anunciou que os casos de 700 crianças e suas famílias iriam ser reexaminados, por estarem sob ameaça de deportação. As autoridades anunciaram também que seriam garantidos direitos de residência em pelo menos 630 desses casos. Quarta-feira, dia 30, Mark Harbers, ministro responsável pela imigração na Holanda declarou que nenhuma criança ou familiares seriam deportados enquanto esta revisão de casos estive a ser feita.
Theo Hettema, da Igreja Betel, disse: “Estamos extremamente gratos por um futuro seguro para centenas de famílias de refugiados na Holanda. Durante meses tivemos esperança e agora essa esperança ganhou uma nova forma.”
Numa conferência de imprensa, Hayarpi Tamrazyan, a filha mais velha do casal, expressou alívio mas também cautela, em relação à decisão tomada. Citada pela AFP, afirmou; “Chegaram a um acordo que diz que os dossiês serão reavaliados. Mas não sabemos oficialmente se ficamos na Holanda, já que o caso ainda tem que ser julgado.”
A família Tamrazyan fugiu, há nove anos, da Arménia para a Holanda, porque Sasun Tamrazyane a sua mulher, Anousche, enfrentavam ameaças de morte no seu país, por causa do ativismo político de Sasun. Desde há seis anos que as autoridades holandesas negavam asilo político à família, mas essa decisão foi derrotada duas vezes em tribunal. Depois da anulação da decisão judicial anterior, num terceiro recurso, a família passou a viver num abrigo para refugiados, até que recebeu ordem de deportação, em setembro de 2018, acabando por pedir ajuda na igreja Betel, onde foi concebido o plano desta celebração ininterrupta.
A cerimónia religiosa que durou aproximadamente 2300 horas não conseguiu ganhar o titulo de mais longa celebração registada no mundo. Esse recorde, segundo o livro Guinness de recordes, pertence ao festival de máscaras Sigui no Mali, África que dura anos – o último decorreu de 1967 a 1973.
Com o aumento da xenofobia na Europa, a influência do cristianismo a diminuir e os governos a tomar posições mais duras acerca de políticas de migração, esta celebração tornou-se um símbolo de como as igrejas podem ter um papel na vida europeia contemporânea e como as causas de direitos humanos podem ainda ter impacto nas populações da Europa.
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