Já lá vai um mês
desde o começo do novo ano. Calculo que alguém tenha já feito a sua escolha de
uma “vida nova” para seguir o tal dito de “ano novo, vida nova”. Felizmente,
também há quem tenha ido mais ao fundo da questão como me tenho apercebido por
algumas leituras e conversas das quais aqui deixo constância.
Tudo começa com o
uso da razão. Aquela pertinente pergunta que todos nos colocamos: “O que serei
quando for crescido?”. Ou seja, por outras palavras: “Qual será a minha vocação?”
Sim, é necessário ser-se capaz de pensar, bem no nosso interior, quase às
escondidas, longe de ruídos. Ter a coragem de ficar a sós, contemplando o fogo
da lareira, ou no silêncio de uma igreja, numa penumbra reconfortante mas
desafiadora. Pensar como só os homens são capazes de pensar. Não consigo, por
exemplo, imaginar um urso preocupado com o seu futuro, com o momento da sua
morte, ou com a educação dos ursinhos da
sua última ninhada. No homem nada disto tem a ver apenas com as suas faculdades
ou instintos; mas deve tê-los em conta, respeitá-los e saber lidar com eles, o
que torna tudo ainda mais complicado. Falamos, pois, de vocação.
Há quem veja a sua
vocação como quem entra no mar: molhando um pé para logo recuar; molhar o outro
para logo voltar atrás arrepiado e deixando que as ondas logo apaguem as suas
pegadas. Não se aventura, falta-lhe coragem e constância para vencer as
pequenas contrariedades. Se se vê com clareza a vocação, há constância na luta:
fazer e voltar a fazer; dar um passo e não voltar atrás; seguir o caminho e
voltar a segui-lo até o aplanar, até o alargar e tornar numa estrada segura. Há
quem diga que cada vocação é um caminho único que não existe nos mapas por não
estar ainda aberto. Constrói-se através de montes e vales, montanhas e abismos,
à força de pisar e repisar as próprias pegadas, removendo pedras, arrancando
ervas, construindo pontes, nivelando vales...sempre na mesma direção. “Ano
novo, luta nova” dizia S. Josemaria Escrivá.
O mês de janeiro
convida a repensar nesta máxima para manter os pés firmes no caminho que Deus
nos vai indicando. Talvez convenha fazermos algumas “auto-perguntas” em
segredo: Quero “refrescar” a minha profissão pelo estudo, pela pontualidade,
contribuindo para o bom ambiente no local de trabalho, sendo justo no pagamento
de salários e humano na exigência no cumprimento de horários? Dedico tempo à
minha família, sendo carinhoso com a minha mulher/marido, prestando atenção aos
filhos e responsabilizando-me pela sua formação, colaborando no cuidado da
casa? Presto a devida atenção aos pais e amigos que estão doentes ou são
idosos? Levo-os a passear algum Domingo? Posso melhorar a minha atitude como
cidadão, participando na vida pública ou em algum serviço de cariz social, exercendo
o direito de voto, ou simplesmente evitando estacionar em segunda fila...?
Evito a crítica pública destrutiva e desmoralizadora? Sei corrigir os meus
filhos na intimidade do lar e dando-lhes bom exemplo?
Nada de novo,
portanto! Apenas esperarmos um novo vigor, um pisar com mais força sobre as
pegadas que deixamos o ano passado neste caminho que ficará cada vez mais firme
e seguro, o caminho da vocação a que Deus nos chamou.
Isabel
Vasco Costa
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