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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

AIS: A liberdade religiosa sofre "grave deterioração" no mundo

A Fundação Papal apresentou o Relatório de 2014. O Patriarca Gregório III Laham exorta a comunidade internacional a se unir para resolver o conflito na Síria


Roma, 04 de Novembro de 2014 (Zenit.org) Ivan de Vargas


A fundação ajuda a Igreja que Sofre (AIS), apresentou nesta terça-feira em Madrid o informe sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2014, um estudo que a instituição elabora a cada dois anos no qual participam 40 especialistas. Este documento, traduzido em seis línguas, é o único de seu tipo publicado por uma organização da Igreja Católica.

A principal conclusão deste relatório é a constatação de uma "grave e constante deterioração” do direito fundamental à liberdade religiosa, como explicou o diretor de AIS na Espanha, Xavier Menendez Ros, durante seu discurso. Dos 196 países analisados, em 55 houve uma deterioração da situação. Além disso, a liberdade religiosa é violada de forma significativa em 82 países.

Os cristãos continuam a ser a minoria religiosa mais perseguida em todo o mundo. Nesta linha, três em cada quatro pessoas que sofrem por causa de sua fé no mundo pertencem a uma das denominações cristãs. De acordo com os cálculos desta organização internacional, 200 milhões de cristãos são perseguidos e outros 50 milhões sofrem discriminação.

Na lista dos estados com as violações mais graves deste direito fundamental predominam os países muçulmanos. Assim, dos 20 países classificados na categoria de “alta perseguição”, 14 deles sofrem perseguição ligada ao fundamentalismo islâmico. São esses: Afeganistão, Arábia Saudita, Egipto, Irão, Iraque, Líbia, Maldivas, Nigéria, Paquistão, República Centro Africana, Somália, Síria, Sudão e Iémene. Nos outros seis países restantes, a perseguição está ligada a regimes autoritários. É o caso do Azerbaijão, China, Coreia do Norte, Eritreia, Birmânia (Myanmar) e Usbequistão.

Participou também desse acto o Patriarca da Igreja Greco Católica melquita, Sua Beatitude Gregório III Laham, uma das primeiras pessoas a denunciar a perseguição dos cristãos na Síria. O patriarca da Igreja Católica greco-melquita explicou como a guerra em seu país causou dez milhões de refugiados, dos quais 450 mil são cristãos.

Desde o início do conflito "morreram dois mil cristãos, quatro deles sacerdotes, e sofremos o sequestro de dois bispos e muitos civis”, lamentou. Apesar do risco que correm, “todos os sacerdotes ficaram nas suas paróquias e as igrejas permanecem abertas”. “Nossa prioridade é ajudar e estar próximo das pessoas”, assegurou. Ainda assim, "continuamos a viver e temos um projecto de futuro”. “É um milagre", destacou Sua Beatitude.

No início da guerra, a Igreja greco-melquita católica na Síria começou ajudando 300 famílias e agora ajudam oito mil famílias. "Precisamos de 50 mil dólares por mês para satisfazer as necessidades básicas dessas pessoas", observou.

Outros dos objectivos prioritários são: a reconstrução de 91 igrejas que foram destruídas, ajudar as pessoas a encontrar oportunidades de emprego, e fazer chegar a voz da Igreja no Oriente para que a comunidade internacional se envolva na resolução deste conflito.

O patriarca Gregório III concluiu seu discurso fazendo um apelo em favor do encontro entre culturas e religiões, através do diálogo e não da guerra.

Um bom exemplo de como vivem os cristãos sírios é a jovem universitária Mireilla Al Farah, que tem servido como um intérprete durante a apresentação. "Meu sobrenome – Al Farah – significa alegria e simboliza como somos, porque sempre tentamos manter esta atitude nas nossas vidas”.

"O que nos dá força para seguir em frente é a oração", reconheceu. "É a nossa melhor ‘arma’ para enfrentar o que está acontecendo", acrescentou. E isso que "ir à igreja agora pode significar a morte", afirmou. Ainda assim, ressaltou: "devemos mostrar-lhes que a vida significa muito mais, Deus não é matar, mas amar e perdoar".

Para ilustrar a perseguição dos cristãos neste país, Mireilla contou a história de seu tio. "Quando os radicais islâmicos entraram na cidade em que ele morava – Raqa – mataram cinco dos seus empregados, todos muçulmanos, em retaliação por trabalhar para um cristão. Agora ele está traumatizado, não confia em ninguém". Seu parente pôde escapar para Damasco escondido em um caminhão.

A morte está em cada rua, em cada esquina da Síria. Um de seus primos morreu há duas semanas, mortalmente ferido por um estilhaço de morteiro.

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