Entrevista exclusiva com Dom Wojciech Polak sobre os desafios pastorais, a secularização, o diálogo ecuménico com os ortodoxos
Roma, 16 de Julho de 2014 (Zenit.org) Wlodzimierz Redzioch
Quando, em 2003, foi nomeado arcebispo auxiliar de Gniezno
ele tinha 38 anos e era o bispo mais jovem da Polónia e um dos mais
jovens do mundo.
Ele era jovem, mas já tinha cinco anos de estudos e um doutorado em
teologia moral na Universidade Lateranense, em Roma; trabalhava como
reitor do Seminário Maior de Gniezno e ensinava na Universidade de
Poznan.
Em 2005 ele foi eleito responsável pela pastoral vocacional na
Conferência Episcopal polaca e no ano seguinte o Conselho das
Conferências Episcopais da Europa (CCEE) confiou a ele a função de
delegado para vocações e responsável pelo Centro Europeu de Vocações.
Em 2011, aos 47 anos, foi nomeado secretário da Conferência Episcopal
Polaca, tarefa importante e desafiadora, que desempenhou de forma
competente e brilhante. De sua caneta saíram documentos importantes do
Episcopado; manteve contacto com representantes do governo e do
Parlamento polaco, e com outros secretários-gerais das Conferências
Episcopais da Europa.
Juntamente com a Presidência do Episcopado polaco foi protagonista
do diálogo com o Patriarcado de Moscovo, cujo resultado foi a assinatura
da Mensagem de Reconciliação da nação russa e polaca do arcebispo
Michalik e do Patriarca Kirill de Moscovo.
Em 17 de Maio deste ano, o secretário do episcopado polaco foi
nomeado pelo papa Francisco arcebispo de Gniezno. Como arcebispo de uma
das mais antigas cidades polacas aos 49 anos de idade Dom Polak também
se tornou primaz da Polónia.
ZENIT: O Papa nomeou o senhor arcebispo de Gniezno e Primaz da Polónia. Poderia nos dar alguma notícia sobre a sede primacial na Polónia?
Dom Polak: A sede primacial de Gniezno está ligada ao túmulo de Santo
Adalberto, evangelizador e primeiro mártir da Polónia. Após a morte do
santo em Gniezno no ano de 1000 foi fundada a primeira metrópole. A sede
remonta a 1417: durante o Concílio de Constança ao arcebispo de Gniezno
Mikołaj Trumpet foi dado o título de Primaz da Polónia. No passado, até
1992, a sede de Gniezno estava ligada à sede metropolitana de Varsóvia,
de modo que os cardeais Hlond Wyszynski e Glemp, eram arcebispos de
Varsóvia e também Primatas. Os dois últimos Primatas, Muszynski e
Kowalczyk, não eram mais arcebispos da nossa capital.
ZENIT: Qual é o papel do Primaz polaco da Igreja?
Dom Polak: Historicamente, o papel do Primaz foi muito importante:
quando a Polônia era um reino, o Primaz tinha o título "interrex", que
era o regente do país depois da morte do rei. Agora é um título
honorífico porque no estatuto da Conferência Episcopal Polaca ao
Primaz é reservado apenas um lugar no Conselho Permanente. As outras
faculdades especiais foram retiradas do Primaz em 1990, quando o Núncio
Apostólico esteve na Polónia.
ZENIT: Desde 2003, o senhor está na sede episcopal de Gniezno,
primeiro como bispo auxiliar, e a partir deste ano como arcebispo. Este
lugar do baptismo da nação polaca é o lugar ideal para perguntar o que a Polónia tem feito com o seu baptismo. Excelência, qual é a “situação de
fé" em seu país?
Dom Polak: É verdade, historicamente Gniezno é o lugar de nosso baptismo em 966 e a primeira capital do estado. Depois de 1050 anos,
ainda somos uma nação com uma grande tradição cristã: durante sua última
visita a Polónia enfatizou o Cardeal Secretário de Estado Pietro
Parolin. Percebemos isso, por exemplo, na frequência das pessoas nas
missas, na participação em festas religiosas. Mas o nosso país não está
imune à corrente de pensamento laicista que quer impor a visão do homem
contrária à antropologia cristã. E esse processo de secularização não
acontece apenas nas grandes cidades, mas também nas cidades menores e
por isso a nação polaca não é mais homogénea. Assim, também a nossa
Igreja tem enfrentado a tarefa da evangelização: no Episcopado polaco
foi criado um grupo para essa nova evangelização. Devemos fazer tudo o
que pudermos para despertar o sentido profundo da fé cristã,
particularmente entre os jovens, que são os mais afectados pela
secularização.
Zenit: Durante a sua primeira peregrinação à Polónia, em 1979, João
Paulo II pronunciou em Gniezno as significativas palavras: “Não quer
porventura Cristo, não dispõe acaso o Espírito Santo que este Papa
polaco, Papa eslavo, precisamente agora manifeste a unidade espiritual
da Europa? Sabemos que a unidade entre os cristãos da Europa é composta
de duas grandes tradições: do Oriente e do Ocidente". Estas frases levam
a muitas reflexões: a primeira diz respeito à União Europeia, que
renegou a sua história e as suas raízes cristãs, o que restringe a
liberdade de religião, que traiu não só João Paulo II, mas também seus
pais fundadores. Para onde vai a União Europeia de burocratas distantes
das pessoas?
Dom Polak: João Paulo II ressaltou que existem diferentes correntes
no grande rio europeu, mas a corrente mais importante e fecunda continua
a ser o cristianismo. Hoje temos muitos contracorrente e novos
desafios, como o multiculturalismo: pessoas que chegam à Europa trazem
consigo outras religiões e tradições culturais. É verdade que, na União
Europeia, a referência ao cristianismo é muito fraca, talvez por medo de
não atribuir um papel especial na sociedade multi-religiosa. Mas
esquecemos que o Cristianismo pode ser vital para a Europa, não só para
as igrejas, mas também para a sociedade. Se não houver unidade
espiritual, não haverá união Europeia completa e estável.
ZENIT: Que contribuição pode a católica Polónia oferecer para o progresso moral e espiritual da Europa?
Dom Polak: Somos uma nação de imigrantes: cerca de dois milhões de
polacos se transferiram para diferentes partes da Europa. Essas
pessoas muitas vezes têm de lidar com diversos problemas, mas também
podem dar um testemunho de fé nas sociedades secularizadas. Nossos
migrantes, especialmente jovens e bem preparados, podem construir pontes
entre a fé e a modernidade.
ZENIT: João Paulo II falou no discurso acima citado da Europa
composta pela tradição ocidental e oriental, falou dos "dois pulmões" da
Europa. A Igreja polaca, tendo em conta também a sua posição
geográfica, se empenhou recentemente no diálogo com os ortodoxos russos.
Vossa Excelência é presidente do grupo para as relações com a Igreja
Ortodoxa Russa. Como está esse diálogo?
Dom Polak: Em 2012, a Igreja Católica polaca e o Patriarcado de
Moscovo assinaram um famoso documento: o presidente da nossa Conferência
Episcopal e o Patriarca Cirilo. Foi um ato de significado histórico e
espera-se que essa etapa ressoe em nossa própria sociedade. No ano
passado tivemos um simpósio em Varsóvia para aprofundar questões ecuménicas: esteve presente o Metropolita Hilarion e outros líderes da
Igreja Ortodoxa, e também representantes das diversas áreas pastorais.
Portanto, o encontro serviu para a troca de experiências pastorais e
para a criação de redes de colaboração (na defesa da vida, do ministério
da família, etc.). Infelizmente, após os acontecimentos na Ucrânia este
diálogo foi interrompido e os contactos são raros. Embora existam sinais
positivos: a Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia. Esperamos a
vinda dos jovens ortodoxos russos.
ZENIT: Em 1966, quando a Polónia celebrava o milénio de seu baptismo,
Paulo VI não pode vir a Polónia porque o regime comunista impediu sua
peregrinação. Daqui a dois anos, vamos comemorar mais um aniversário, o
1050 °. Como a Igreja polaca está se preparando para um evento como
esse, tendo também em conta que em 2016 haverá a próxima Jornada Mundial
da Juventude, em Cracóvia, com a presença do papa Francisco?
Dom Polak: Obviamente, todo o trabalho pastoral da Igreja está
focalizado neste grande evento. Mas queremos integrar a JMJ com as
celebrações do aniversário de baptismo da Polónia. Esperamos que o Papa
possa "prolongar" sua viagem à Polónia para visitar os lugares ligados
ao baptismo de nossa nação. Esperamos que a memória do baptismo sirva para
redescobrir o sentido deste evento, tanto do ponto de vista nacional e
cultural (o cristianismo moldou a nossa identidade nacional e cultural),
como religioso.
(Trad.:MEM)
(16 de Julho de 2014) © Innovative Media Inc.
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