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sábado, 26 de julho de 2014

Assim consegue viver a sua fé um católico espanhol na fundamentalista Arábia Saudita

O país mais radical do Golfo Pérsico nas suas proibições 

A Arábia Saudita não é um sítio onde se respire liberdade,
especialmente se és cristão...
Actualizado 3 de Junho de 2014

Javier Lozano / Libertad Digital

A Arábia Saudita encabeça junto à Coreia do Norte todas as classificações dos países nos quais se dá uma maior perseguição aos cristãos.

Sem dúvida, enquanto na ditadura estalinista o hermetismo e o seu fecho ao exterior são as suas características principais na ditadura saudita os petrodólares atraem numerosas empresas ocidentais e imigração.

Apesar disso, o enorme país do golfo é uma das ditaduras mais férreas que existem no mundo e na qual qualquer prática religiosa não islâmica está punida. Disso se encarrega uma numerosa polícia religiosa, que vela para que prevaleça a interpretação de Maomé que rege no país e para isso não dúvida em encarcerar e inclusive condenar à morte os que ofendam a sua religião.

O regime saudita bebe do wahabismo, a interpretação mais radical do islão e por isso a mais perigosa para os cristãos. Deste modo, um cristão só pode viver a fé em segredo dado que além disso a Igreja não tem presença num país no qual precisamente vivem milhões de cristãos.

Libertad Digital pôs-se em contacto com um católico que vive desde há algum tempo na Arábia Saudita. Um cidadão espanhol que vive a sua fé de maneira coerente e que pode contar em primeira pessoa como é a vida ali para um cristão. São milhares os ocidentais que vivem por todo o país e alguns deles tentam não renunciar a uma parte chave da sua vida: a sua religião.

"A fé vive-se de forma privada"
Este espanhol conta como há que inventá-las para poder continuar vivendo a sua fé uma vez que te instalas na Arábia e a primeira coisa que recorda a qualquer um é que "a fé vive-se de forma privada". Qualquer deslize, palavra ou símbolo como uma cruz ou um rosário pode levar à cadeia ou a ser expulso do país.

Pior sorte pode correr se o detido é um cidadão local ou procedente de um país não ocidental.

Apesar da proibição de qualquer prática religiosa há ocidentais que se arriscam a ser presos. Deste modo, relata-nos este cidadão que apesar de todo "há missas em algumas embaixadas" e inclusive "em algumas casas particulares".

Segundo afirma, "em princípio parece que as autoridades fazem a vista grossa sempre e quando não se faça muito ruído, quer dizer, se leve de forma discreta".

De certo modo o ser ocidental pode supor certa vantagem na hora de realizar esta serie de práticas já que se tem um pouco mais de margem de manobra.

"A Polícia religiosa afecta a todos mas a sua agressividade depende das épocas", indica, para acrescentar que "não é o mesmo por exemplo ser europeu que filipino. A nós tratam-nos melhor na Arábia em toda a parte".

A Arábia é diferente do resto do Golfo

Em alguns países vizinhos como Emiratos Árabes ou Kuwait, ainda que muito pouco a pouco, a situação vai melhorando para os cristãos e inclusive permitiu-se a construção de igrejas.

Sem dúvida, na Arábia a situação não variou em absoluto. Enquanto financia a construção de mesquitas por todo o mundo impede qualquer tipo de liberdade religiosa no país.

Assim, este espanhol relata a LD que "na Arábia a única abertura religiosa que pode haver é a de que as autoridades façam a vista grossa às celebrações privadas".

E é que "aparentemente – acrescenta - um hadiz (dito de Maomé não recolhido no Corão) proíbe a existência de duas religiões na Arábia e é nisto em que se baseiam para proibir as igrejas". Por isso, considera que "a Arábia é um caso excepcional que não se pode comparar com nenhum outro país na zona".

Esta pessoa afirma que em todo o tempo que leva no país não teve "nenhum problema pelas minhas crenças religiosas" ainda que "tampouco faço ostentação nem entro em polémicas absurdas".

O que sim explica é que para os wahabíes "os cristãos e os chiitas somos infiéis. Aceitam-nos porque não tem mais remédio, mas não lhes fazemos nenhuma graça".

Apesar do que ali se impõe, este espanhol assegura que existem sauditas mais tolerantes, e que não são seguidores desta corrente do islão. 
 
McDonalds saudita: uma fila para os homens
e outra para as mulheres
"Uma comunidade contigo mesmo"
Tal como o testemunho deste católico espanhol são milhares de pessoas as que vivem e viveram experiências similares neste país que consegue ser uma das ditaduras mais tirânicas do mundo e por sua vez um dos principais aliados dos Estados Unidos e Ocidente. Não há que esquecer a estreita amizade e o vínculo que unem o Rei de Espanha com a monarquia saudita, responsável desta perseguição aos cristãos.

Ed Camille, professor da Universidade de Milão e especialista nas igrejas do Médio Oriente já explicou em Zenit a sua experiência neste vasto país. "Todos os residentes estão submetidos à Sharia e ninguém pode opor-se porque equivale a opor-se ao islão. À sua chegada ao aeroporto informa-se de modo imediato de que deve cumprir as estritas leis islâmicas. Eu, como cristão, por exemplo, tinha na mão uma Pepsi durante o Ramadão. Dei-me conta de que todo o mundo me estava olhando de um modo determinado e que me teriam batido. Não se pode comer em público durante o jejum. Só se pode comer em privado. Assim que há que observar o jejum ainda que não seja muçulmano, porque é a lei", recorda.

Este professor comentava além disso que "se castigam todas as manifestações públicas de qualquer fé que não seja o islão. Sabem que os americanos, franceses ou italianos celebram a Missa de Natal e Páscoa dentro das embaixadas, mas a embaixada é extraterritorial, a lei não se aplica. A Polícia, não obstante, está próximo para controlar".

Por último, explicava o que é ser cristão neste país.

"É difícil ser católico laico na Arábia Saudita porque tens que ter uma fé com base profunda. Não podes ter cópias do Evangelho em casa. Não podes ter um rosário. Não podes ter contacto com amigos cristãos como comunidade; podes ter amigos, podes frequentar comunidades estrangeiras, mas está-te proibido falar sobre a tua fé. Assim que a única possibilidade é ter uma grande consciência e conhecimento da tua fé para que possas estar firme neste ambiente."

"Em outros países islâmicos a sexta-feira é dia festivo pelo que se permite a missa comunitária, mas não ao domingo, porque o domingo é dia de trabalho; mas este não é o caso na Arábia Saudita. Assim que és uma comunidade contigo mesmo. Normalmente não tens nem sequer a tua própria família, porque a Arábia Saudita põe restrições à reunificação familiar. Se tens uma filha maior de 18 anos, não pode ficar na Arábia Saudita se não está casada. Assim que a maioria tem as suas famílias noutros lugares. Portanto estás só e sem contacto com outros católicos, o que é muito duro, pelo que terás que ter a força da fé no teu coração; ser capaz de rezar sem livros de oração, só saber e rezar as orações que aprendeste de memória na tua infância".


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