O bispo auxiliar de Jerusalém lança um apelo urgente à ONU e aos governos
Roma, 25 de Julho de 2014 (Zenit.org) Deborah Castellano Lubov
O bispo auxiliar do Patriarcado Latino de Jerusalém e
vigário patriarcal para a Palestina, mons. William Shomali, disse que a
situação em Gaza está "literalmente se deteriorando" e pediu um
cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Entrevistado telefonicamente por Zenit, mons. Shomali explicou a
situação tanto do ponto de vista palestino quanto israelita. O vigário
para a Palestina falou dos desafios que afrontam os cristãos e, em
particular, as dificuldades encontradas pelo pároco de Gaza, pe. Jorge
Hernández, e pela Igreja da Sagrada Família.
Mons. Shomali fala também sobre a situação dos jovens na Faixa –
especialmente sobre o fenómeno do desemprego – e dos hospitais de Gaza. O
prelado propõe algumas medidas para a paz e o desenvolvimento a serem adoptadas pelo governo e pelas Nações Unidas.
***
ZENIT: Mons. Shomali, você poderia descrever a situação actual em Gaza, além da guerra de propaganda de ambos os lados?
Mons. Shomali: A situação literalmente está se deteriorando e existe
uma verdadeira crise humanitária em Gaza. Vidas inocentes foram
ceifadas. Até agora mais de 3.500 palestinianos foram feridos, 650 mortos.
Muitos deles são crianças e mulheres. Duas mil casas foram afectadas,
algumas delas com civis palestinianos dentro. Os hospitais estão
superlotados e faltam medicamentos e suprimentos médicos. As
consequências do conflito sobre as crianças são e serão dramáticas. Em
todo o caso, não podemos quantificar o sofrimento das pessoas com
números e cifras.
Devemos acrescentar que do lado israelita, houve perdas dolorosas.
Mais de 28 soldados foram mortos e um está desaparecido. Milhares de
famílias israelitas vivem com medo por causa dos foguetes lançados pelo
Hamas. O bloqueio temporário dos voos de Alitalia, Air France e
Lufthansa em Tel Aviv está causando perdas económicas para Israel.
ZENIT: Qual é a situação da comunidade cristã?
Mons. Shomali: A comunidade cristã em Gaza não chega a 1.500 membros.
Entre eles, 200 são católicos. Os outros são na sua maioria ortodoxos e
alguns anglicanos. Levamos adiante três escolas católicas e um hospital
anglicano. A influência cristã em Gaza ultrapassa a sua realidade
numérica.
Por agora não temos informações precisas sobre a destruição e perdas
sofridas pela comunidade cristã. Estamos em contacto diário com o
corajoso pároco, Pe. Jorge Hernández. Sabemos por ele que domingo
passado os fieis não foram à Missa. Tinham medo. Muita gente está
privada das necessidades básicas, tais como o sono nocturno. A escola
católica em Gaza, que faz parte da paróquia, tem recebido muitos
desabrigados que fugiram do bombardeio do bairro de Al Shujaieh e Al
Zaitouneh. Existem cerca de 600 pessoas que vivem e dormem na escola,
desprovidas do necessário. Eles precisam de comida e de água. Graças à
Caritas de Jerusalém, foi possível enviar-lhes uma ajuda urgente.
As Irmãs argentinas deixaram Gaza. A situação era muito perigosa para
eles. Mas as Missionárias da Caridade ficaram e continuam cuidando de
30 pessoas com deficiência.
ZENIT: Quais são as necessidades da comunidade cristã?
Mons. Shomali: Muitos dos jovens da comunidade estão sem trabalho,
mais de 40%. Quem trabalha ainda precisa de ajuda, porque não ganha o
suficiente para sobreviver. Os cristãos de Gaza precisam de mais
liberdade sob o regime do Hamas. Sentem-se cidadãos de segunda classe.
Quem pode ir embora fica tentado em fazê-lo. Não é fácil viver ali
nestas condições particulares. As nossas três escolas católicas de Gaza
atraem muitos estudantes, mas economicamente não são auto-suficientes. A
maioria dos professores e dos alunos são muçulmanos. Muitos deles são
pobres e precisam de bolsas de estudo.
ZENIT: O que podem fazer Igreja, governo e organizações humanitárias?
Mons. Shomali: No próximo domingo, haverá uma colecta e um dia de
oração pela paz em todas as nossas igrejas na Terra Santa e Jordânia.
Começamos a levantar fundos para enviá-los aos pobres. Mas o volume de
destruição é grande e existe a necessidade de subsídios dos governos
para a reconstrução das infra-estruturas.
O que é mais urgente é um cessar-fogo imediato entre Israel e o
Hamas. O meu apelo a todos aqueles que têm poder de decisão é para um
cessar-fogo imediato, porque as pessoas não podem viver constantemente
sob os morteiros e bombas.
ZENIT: Qualquer outra coisa que você gostaria de acrescentar? Algum outro apelo?
Mons. Shomali: Apelamos à ONU para que intervenha e pare com este
círculo vicioso de violência e derramamento de sangue, para tirar
completamente o assédio de Gaza e impulsionar com urgência o processo de
paz que deveria ser baseado no direito internacional. (Trad.T.S.)
(25 de Julho de 2014) © Innovative Media Inc.
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