Nos últimos tempos, fruto das notícias da actualidade e de outras conversas, tenho-me questionado sobre porquê é que as pessoas não têm mais filhos e até porquê é que nós temos cinco filhos. As perguntas são de resposta complexa, mas o que é facto é que muitas vezes me perguntam se foi por querer, se ficamos por aqui, se sempre quisemos ter muitos filhos,… e o assunto não parece fácil de explicar só com sim ou não.
Pergunto-me porquê é os casais não têm mais filhos, lembro-me daquelas ideias de dar um cheque de 500€ por cada filho, recordo as questões fiscais e laborais que estão em cima da mesa. Espero sinceramente que se decida o melhor para as famílias e que não se continue a prejudicar quem tem mais filhos.
Mas à parte de tudo isso, parece-me que os casais não têm mais filhos porque não arriscam. Porque inventaram a pílula e a massificação do seu uso fez com que os casais se sentissem donos e senhores da vida e, formatados nessa lógica, nem põem a hipótese de arriscar, de viverem abertos à vida, quer ela venha, quer ela não venha. É como diz o provérbio popular “Quem não arrisca não petisca!”.
Do que vou ouvindo nalgumas entrevistas de famílias numerosas, ninguém esteve parado a planear ter 3,4,5,6,7… filhos. Ninguém se senta um dia à noite para falar sobre o número de filhos que vai ter, quanto é que vai custar, quanto é que vai pagar mais no supermercado, se poderá continuar a ir viajar, se, se, se… Simplesmente, há casais que estabeleceram o limite dos dois filhos, idealmente o casalinho; e há outros que não estabeleceram limites e se deixam surpreender pela vida.
E ainda bem. Planeado só tivemos o primeiro. Às vezes, olho para todos os outros e penso o que seria da minha vida se eles não existissem. Como é que eu poderia ser feliz sem o meu russito que tem tanto de atravessado como de meiguinho? Sem a minha mandona que faz uma tragédia a partir do nada? Sem o meu zé TT (todo-o-terreno) que leva tudo à frente e só pára para comer ou para um colinho? E sem a alegria e a tranquilidade do pepito?
Lembro-me do olhar de pânico do meu marido quando engravidava. Lembro-me do pânico que sentia quando descobria que estava grávida. Lembro-me da tristeza do meu marido quando percebia que eu estava grávida ainda antes de eu perceber. Lembro-me… lembro-me, lembro-me. E depois vejo o olhar do meu marido quando assiste às travessuras do quarto, que é tal e qual a cara do pai. Vejo o encanto com que vê a pequenita a dançar para ele. Vejo o quanto se dá para que todos estejam bem.
Que bom é ser surpreendido pela vida e ir deixando-se ser feliz. Certamente seria feliz só com o casalinho piroso, certamente seria feliz só com um filho, mas de certeza que sou muito mais feliz com cinco. Não planeámos nada, apenas mantivemos abertura para que a vida entrasse na nossa vida.
Os casais não têm filhos porque não têm dinheiro, não têm filhos porque estamos num ambiente de crise. Os casais não têm filhos porque estão noutra. Foram formatados assim e consideram as famílias grandes giras, agitadas, mas para outros, que, de facto, nem conseguem bem compreender. Parecemos boas pessoas, até com alguma capacidade de raciocínio, mas ter cinco filhos, não lembra ninguém!
A lógica da surpresa traz consigo o calor inebriante de um filho que inunda a nossa vida e não deixa que nada volte a ser como dantes. A família torna-se aberta a quem vem. Os irmãos amam quem vem sem ainda saberem se vem ou não.
O melhor que podemos dar aos nossos filhos são os irmãos. O melhor que nos podemos dar a nós próprios é a possibilidade de ter filhos.
Rita Gonçalves
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas variante Português e Francês
Pós-graduação em Ramo de Formação Educacional
Mãe a tempo inteiro (forçada e por vontade própria ao mesmo tempo)
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas variante Português e Francês
Pós-graduação em Ramo de Formação Educacional
Mãe a tempo inteiro (forçada e por vontade própria ao mesmo tempo)
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