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sábado, 19 de julho de 2014

«A minha mulher nunca renunciará à sua fé», disse o marido da sudanesa cristã encarcerada no Sudão

Entrevista na «Avvenire»; o seu bebé acaba de nascer na prisão 

Foto do casamento de Daniel e Meryam... Mas o Estado
islâmico sudanês não reconhece o matrimónio e apenas deixa
que se vejam uma vez por semana
Actualizado 29 de Maio de 2014

Paolo M. Alfieri / Avvenire


[O diário italiano Avvenire, propriedade da Conferência Episcopal Italiana, segue com atenção o caso de Meryam Ibrahim, cristã ortodoxa sudanesa condenada à morte no Sudão e encarcerada com correntes por negar-se a renunciar ao cristianismo. Ela acaba de dar à luz a sua filha Maya esta passado terça-feira na prisão. O diário entrevista o seu marido, que é além disso cidadão norte-americano. Nota de ReL]

«Queria agradecer a mobilização que haveis posto em marcha a favor da minha esposa. O apoio dos vossos leitores, assim como de todos aqueles que se moveram pela Meryam, é fundamental para mim. E na situação na qual estamos, tudo isto poderia ter resultados positivos a nível de pressões políticas. Esperemos que esta campanha não seja inútil».

Assim responde a Avvenire Daniel Wani, o marido de Meryam Ibrahim, na cadeira de rodas por causa de uma distrofia muscular e que ontem [terça-feira, 27 de Maio] foi pai pela segunda vez.

Daniel não está sereno e frequentemente, quando lhe dirigem perguntas que vão demasiado a fundo no caso legal da sua mulher, prefere responder com um amável «no comment».

- Como se sente depois do nascimento de Maya?
Estou dividido entre a alegria e a frustração. Obviamente estou contente; depois de tanta angústia, a minha mulher e a minha filha estão bem. Mas por outra parte estou muito decepcionado, porque não me deram permissão para vê-las. Talvez me permitam fazê-lo amanhã, talvez não. A única coisa positiva é que as visitas passarão a ser duas por semana, em lugar de uma como era até agora. Mas hoje teria gostado de estar ao lado da minha mulher.

- A sua filha recém-nascida, dá-lhe esperanças também para o caso judicial?

- Certamente, uma criança é sempre uma bênção, uma esperança. E no nosso caso significa muito mais. Só quero é ter mais tempo para estar com a minha família. Quando vou vê-los não me concedem muito tempo para falar com Meryam e Martin, o meu primogénito. Além disso há sempre alguém controlando-nos. Para as autoridades sudanesas, que consideram nulo o nosso matrimónio, a minha mulher e eu, mas também os meus filhos e eu, somos uns estranhos entre nós.

- Nos últimos dias disse-se que a Meryam não está sendo bem tratada na cadeia…
- Caminha com correntes e vê-la assim, para mim, é terrível. Teve complicações durante a gravidez, mas não sabemos de que tipo porque não a visitou nenhum médico. Mas Meryam é forte, é muito mais forte que eu. Quando a condenaram eu fiquei a chorar, mas ela manteve-se firme, nem sequer estremeceu. Também por isto não renunciará jamais à sua fé, como lhe tinha pedido o juiz. E eu, ainda que quero vê-la livre, não lhe pediria nunca que o fizesse.

- Como vive o seu filho Martin tudo o que está sucedendo?
- Ainda que ainda não tenha cumprido os dois anos, entende o que está sucedendo. Mas tem o carácter da sua mãe. Há outras duas crianças na cadeia com ele, e as condições não são boas: a prisão não é um bom sítio para uma criança. Deram-me permissão para levar-lhes medicamentos e alimentos, mas os riscos higiénicos são enormes, por não falar dos psicológicos.

- Como transcorrem os seus dias à espera de ter novidades sobre o processo judicial?
- Tenho alguns amigos, tanto cristãos como muçulmanos; também estes últimos pensam que a condenação de Meryam é injusta. Tento fazer passar o tempo, mas para mim estar sem ela é terrível, terrível. Por isto, sentir a proximidade de tanta gente, saber que há quem se preocupa por nós, é muito, muito importante. E para quem quer vir aqui, a Jartum, a minha porta está aberta.

(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)


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