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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Uma flor para todos os inocentes mortos pela nossa "mediocridade cristã"

Papa Francisco: quando falta a presença de Deus, perdemos o sentido do pecado e achamos que mesmo um acto grave se torna apenas um problema a ser resolvido


Roma, 31 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) Salvatore Cernuzio


"O maior pecado de hoje é que as pessoas perderam o sentido do pecado". Por trás do jogo de palavras que o papa Francisco retomou de Pio XII, esconde-se uma grande verdade: quando falta a presença de Deus e do seu Reino, até mesmo os pecados graves, como o adultério e o homicídio, se reduzem a "um problema a ser resolvido".

Este foi o cerne da homilia do papa na missa de hoje, celebrada na Casa Santa Marta. Ele começou falando novamente sobre o rei David e focando em particular na primeira leitura de hoje, que fala da forte paixão do rei por Betsabá, esposa de Urias, um dos seus generais. A paixão leva David a mandar o general para as linhas de frente de batalha, a fim de lhe causar a morte e assim obter a sua mulher livremente.

O rei, na verdade, perpetra o assassinato de um homem inocente, cometendo um pecado mortal adicional ao de adultério. No entanto, observa o papa Francisco, nem uma coisa nem a outra o afecta muito: "David está diante de um grande pecado, mas não sente que pecou", "não lhe ocorre pedir perdão. O que lhe vem à mente é: como é que eu posso resolver isso?".

O problema, disse o papa, não é tanto o fato de que o rei tinha pecado: "Para todos nós pode acontecer isso. Todos somos pecadores e somos tentados, e a tentação é o nosso pão de cada dia". Aliás, “se algum de nós dissesse: ‘mas eu nunca tive tentações’, significa ou que é um querubim ou que é um pouco bobo, não acham?”. É normal, na vida, lutar e cair, porque "o diabo não fica quieto: ele quer a vitória".

O problema "mais grave" surge a partir da passagem do profeta Samuel: "não é a tentação e o pecado contra o nono mandamento, mas o modo de agir de David", que "não fala de pecado", mas de "um problema que precisa de solução. Isto é um sinal!”: um sinal de que, “quando o Reino de Deus não está presente, quando o Reino de Deus diminui, perde-se o sentido do pecado”.

Por esta razão, pedimos, no pai-nosso, “Venha a nós o vosso Reino”. Pedimos que Deus faça crescer o seu Reino, porque, quando perdemos o sentido do pecado, também perdemos o sentido do Reino de Deus. Em seu lugar, disse o papa, emerge uma "visão antropológica superpotente", para a qual "eu posso tudo"; e esse "poder do homem" é sobreposto à "glória de Deus". Deveríamos nos lembrar sempre de que "a salvação não virá da nossa esperteza, da nossa astúcia, da nossa inteligência", mas "da graça de Deus e da prática de todos os dias desta graça na vida cristã".

“Eu”, revelou o papa, “confesso que, quando vejo essas injustiças, essa soberba humana, quando vejo o perigo de que isso aconteça comigo mesmo, o risco de perder o sentido do pecado, me faz bem pensar nos muitos Urias da história, nos Urias que ainda hoje sofrem a nossa mediocridade cristã, quando perdemos o sentido do pecado...".

Eles "são os mártires dos nossos pecados não reconhecidos". Rezar nos fará bem, "para que o Senhor nos dê sempre a graça de não perder o sentido do pecado". E também nos faria bem "levar uma flor espiritual até o túmulo desses Urias contemporâneos, que pagam a conta do banquete daqueles cristãos que se sentem seguros".

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