O pe. Eduardo Robles-Gil, LC, nos conta como guiará os Legionários de Cristo e o Regnum Christi nesta nova fase da sua história
Roma, (Zenit.org) Sergio Mora, Luca Marcolivio, Antonio Gaspari
Os Legionários de Cristo estão passando por um momento
decisivo em sua história de setenta anos. Eleito como novo superior
geral no último dia 20 de Janeiro, durante o Capítulo Geral da
congregação, e confirmado no cargo pelo papa Francisco, o pe. Eduardo
Robles-Gil, LC, tem agora a tarefa de liderar uma congregação renovada,
com uma nova constituição e com uma definição mais depurada do carisma,
conforme exigido após a visita apostólica que o papa Bento XVI ordenou
em 2010.
Termina assim um período em que a congregação foi dirigida por um
delegado pontifício, o cardeal Velasio De Paolis. Essa trajectória durou
quatro anos e foi marcada pelo pesado escândalo, revelado em 2009, da
"vida dupla" do fundador, Marcial Maciel. O carisma da Legião de Cristo e
do Regnum Christi, no entanto, não se identifica com o fundador, nem
com os seus atos. A história dos Legionários de Cristo e do Regnum
Christi vai muito além das suas sombras: há também luz em um futuro que
apresenta desafios tão difíceis quanto estimulantes.
Em conversa com ZENIT, o pe. Eduardo Robles-Gil contou a sua história
pessoal de vocação sacerdotal e falou de como pretende cumprir a tarefa
que acaba de receber.
ZENIT: Pe. Eduardo, como nasceu a sua vocação sacerdotal? Por que o senhor entrou na Legião de Cristo?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Podemos dizer que a minha vocação nasceu com a
minha vida consciente. Eu cursei o ensino fundamental no Instituto
Cumbres [um conhecido colégio dos legionários no México, ndr] e os
primeiros sacerdotes que eu conheci de perto foram os Legionários de
Cristo. Mesmo tendo dois tios religiosos, primos da minha mãe, um
jesuíta e um marista, e, mesmo indo à missa e me confessando com os
dominicanos na paróquia, os padres com quem eu tinha mais a ver eram os
Legionários de Cristo.
Depois, eu comecei a faculdade na Universidade Anahuac, que também é
dos Legionários de Cristo, e entrei no movimento Regnum Christi. Eu
nunca imaginei, então, um sacerdócio fora da Legião, porque foi nesse
movimento que eu encontrei a Cristo e descobri o seu chamado.
Em 1969 foi iniciada a secção de jovens do Regnum Christi na Cidade do
México. Quando eu comecei a faculdade, um amigo, que tem um irmão que
hoje é legionário e foi um dos padres capitulares, entrou no movimento
e, em 1972, me convidou a participar. Em 1975, eu terminei os estudos de
engenharia e me consagrei a Deus como leigo no Regnum Christi, dois
anos antes de entrar na Legião.
ZENIT: O senhor esperava ser eleito para este cargo de tanta responsabilidade?
Pe. Eduardo Robles-Gil: No início, eu não esperava de jeito nenhum.
Muitos de nós pensavam no pe. Sylvester Heereman, que, na minha opinião,
fez um óptimo trabalho no período em que substituiu o pe. Álvaro
Corcuera, no ano passado. Mas o papa Francisco nos pediu para eleger o
superior geral de acordo com as constituições de 1994, que estabelecem
para esse cargo a idade mínima de 40 anos. O pe. Sylvester tem 39 e, por
isso, não era elegível.
Eu só comecei a pensar que podia ser eleito quando saí do México,
porque alguém, de brincadeira, começou a dizer que eu seria como o papa
quando ele viajou para o conclave no Vaticano. Nenhum cardeal sabe ao
certo se vai ser eleito papa ou se vai voltar para casa. Por isso, eu me
perguntei: o que vai acontecer se eles me elegerem? Mas na Legião eu
aprendi o seguinte: "Eu te seguirei, Senhor, para onde fores; eu te
seguirei para onde quer que me conduzas". E eu tive cargos ou países aos
quais teria preferido renunciar, porque estava contente nas funções que
já estava desempenhando. No fundo, eu sabia que tinha que aceitar. Até
porque, como as constituições prescrevem, nós temos a obrigação da
obediência e o Capítulo Geral é a autoridade suprema do instituto.
ZENIT: Nesta nova fase da história da congregação, como será
vivido, ou revivido, o carisma dos Legionários de Cristo, especialmente
agora que vocês renegaram definitivamente a figura do fundador? Em
particular, como o senhor vai viver este carisma, na posição de superior
geral?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Nós temos que levar em conta que o Evangelho
de São João (cf. Jo 15,16) nos diz claramente que não fomos nós que
escolhemos a Ele, mas foi Ele quem nos escolheu e nos enviou para dar
fruto. Somos enviados por nosso Senhor. A Igreja, os discípulos, os
apóstolos, os fundadores, todos os sujeitos da pastoral são enviados por
nosso Senhor. Em uma congregação, o carisma é uma realidade
sobrenatural com a qual você se sente identificado, chamado: no meu
caso, eu entrei no movimento Regnum Christi, um movimento de apostolado,
que visa transformar a vida das pessoas e da sociedade através de um
encontro pessoal com o Cristo vivo e deixando que seja Ele quem
transforme cada pessoa num apóstolo e missionário. Quando você recebe um
carisma, entende que Deus encontrou você e você respondeu ao chamado
dele. Você pode sempre ir mais a fundo, porque é uma realidade que não é
simplesmente uma ideia humana. Há uma doutrina da Igreja que é
dogmática e que se aplica aos sacramentos: pode acontecer que um
sacerdote seja indigno, mas o sacramento que ele confere é válido porque
a graça age ex opere operato. E, de alguma forma, Deus nosso Senhor faz
isso também connosco. Olhando para a história da Igreja, nós tivemos
papas indignos, mas a Igreja continuou a existir e a cumprir a sua
missão porque ela é obra de Deus. Para nós, legionários, aconteceu algo
parecido.
ZENIT: Como se harmoniza a obediência com o carisma?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Quanto à obediência, a Igreja nos ensina
hoje, como explica o magistério do Concílio Vaticano II e também o
magistério sucessivo, que é um discernimento, em que o superior e o
subalterno procuram juntos a vontade de Deus. Eu não me identifico com a
ideia de uma obediência cega: na Legião, nós aprendemos que ela é
motivada pela fé. No diálogo confiante com o superior, o religioso pode
ter algumas preocupações que ele pode expor livremente, mas a obediência
não muda. O modelo é Cristo nas mãos do Pai: "Não se faça a minha
vontade, mas a tua". Se isso não acontece, não existe verdadeira
obediência. O discernimento é fazer o que Jesus fez no Getsêmani. Também
é importante entender que o superior não é um patrão; que ele também
tem que buscar sempre a vontade de Deus e agir de acordo com as normas
do direito.
ZENIT: O Santo Padre participou deste processo com algumas
indicações sobre a configuração do novo governo do instituto. O que ele
pediu?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Em dezembro, o Santo Padre nos pediu para
eleger o director geral e dois conselheiros gerais. Além disso, ele se
reservou também a nomeação do vigário geral e de outro conselheiro. E
ordenou que as eleições do Capítulo fossem confirmadas pela Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada. Nós relatamos a eleição para o
Santo Padre tal como ela aconteceu e ele me confirmou como director
geral, além de confirmar os dois conselheiros gerais eleitos, o pe.
Sylvester Heereman e o pe. Jesús Villagrasa. Conforme ele tinha avisado
através do delegado pontifício, ele designou ainda o pe. Juan José
Arrieta como vigário geral e o pe. Juan Sabadell como outro conselheiro
geral. Em 6 de Fevereiro, Sua Excelência dom José Rodriguez Carballo,
secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, nos
comunicou a confirmação das eleições e os nomes dos conselheiros
escolhidos pela Santa Sé. Nós recebemos a notícia com um grande aplauso.
[A segunda parte da entrevista será publicada amanhã, quinta-feira, 13 de Fevereiro]
(12 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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