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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

"Nós tivemos um encontro pessoal com Cristo e gostaríamos que os outros também tivessem" (Parte I)

O pe. Eduardo Robles-Gil, LC, nos conta como guiará os Legionários de Cristo e o Regnum Christi nesta nova fase da sua história


Roma, (Zenit.org) Sergio Mora, Luca Marcolivio, Antonio Gaspari


Os Legionários de Cristo estão passando por um momento decisivo em sua história de setenta anos. Eleito como novo superior geral no último dia 20 de Janeiro, durante o Capítulo Geral da congregação, e confirmado no cargo pelo papa Francisco, o pe. Eduardo Robles-Gil, LC, tem agora a tarefa de liderar uma congregação renovada, com uma nova constituição e com uma definição mais depurada do carisma, conforme exigido após a visita apostólica que o papa Bento XVI ordenou em 2010.

Termina assim um período em que a congregação foi dirigida por um delegado pontifício, o cardeal Velasio De Paolis. Essa trajectória durou quatro anos e foi marcada pelo pesado escândalo, revelado em 2009, da "vida dupla" do fundador, Marcial Maciel. O carisma da Legião de Cristo e do Regnum Christi, no entanto, não se identifica com o fundador, nem com os seus atos. A história dos Legionários de Cristo e do Regnum Christi vai muito além das suas sombras: há também luz em um futuro que apresenta desafios tão difíceis quanto estimulantes.

Em conversa com ZENIT, o pe. Eduardo Robles-Gil contou a sua história pessoal de vocação sacerdotal e falou de como pretende cumprir a tarefa que acaba de receber.

ZENIT: Pe. Eduardo, como nasceu a sua vocação sacerdotal? Por que o senhor entrou na Legião de Cristo?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Podemos dizer que a minha vocação nasceu com a minha vida consciente. Eu cursei o ensino fundamental no Instituto Cumbres [um conhecido colégio dos legionários no México, ndr] e os primeiros sacerdotes que eu conheci de perto foram os Legionários de Cristo. Mesmo tendo dois tios religiosos, primos da minha mãe, um jesuíta e um marista, e, mesmo indo à missa e me confessando com os dominicanos na paróquia, os padres com quem eu tinha mais a ver eram os Legionários de Cristo.

Depois, eu comecei a faculdade na Universidade Anahuac, que também é dos Legionários de Cristo, e entrei no movimento Regnum Christi. Eu nunca imaginei, então, um sacerdócio fora da Legião, porque foi nesse movimento que eu encontrei a Cristo e descobri o seu chamado.

Em 1969 foi iniciada a secção de jovens do Regnum Christi na Cidade do México. Quando eu comecei a faculdade, um amigo, que tem um irmão que hoje é legionário e foi um dos padres capitulares, entrou no movimento e, em 1972, me convidou a participar. Em 1975, eu terminei os estudos de engenharia e me consagrei a Deus como leigo no Regnum Christi, dois anos antes de entrar na Legião.

ZENIT: O senhor esperava ser eleito para este cargo de tanta responsabilidade?
Pe. Eduardo Robles-Gil: No início, eu não esperava de jeito nenhum. Muitos de nós pensavam no pe. Sylvester Heereman, que, na minha opinião, fez um óptimo trabalho no período em que substituiu o pe. Álvaro Corcuera, no ano passado. Mas o papa Francisco nos pediu para eleger o superior geral de acordo com as constituições de 1994, que estabelecem para esse cargo a idade mínima de 40 anos. O pe. Sylvester tem 39 e, por isso, não era elegível.

Eu só comecei a pensar que podia ser eleito quando saí do México, porque alguém, de brincadeira, começou a dizer que eu seria como o papa quando ele viajou para o conclave no Vaticano. Nenhum cardeal sabe ao certo se vai ser eleito papa ou se vai voltar para casa. Por isso, eu me perguntei: o que vai acontecer se eles me elegerem? Mas na Legião eu aprendi o seguinte: "Eu te seguirei, Senhor, para onde fores; eu te seguirei para onde quer que me conduzas". E eu tive cargos ou países aos quais teria preferido renunciar, porque estava contente nas funções que já estava desempenhando. No fundo, eu sabia que tinha que aceitar. Até porque, como as constituições prescrevem, nós temos a obrigação da obediência e o Capítulo Geral é a autoridade suprema do instituto.

ZENIT: Nesta nova fase da história da congregação, como será vivido, ou revivido, o carisma dos Legionários de Cristo, especialmente agora que vocês renegaram definitivamente a figura do fundador? Em particular, como o senhor vai viver este carisma, na posição de superior geral?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Nós temos que levar em conta que o Evangelho de São João (cf. Jo 15,16) nos diz claramente que não fomos nós que escolhemos a Ele, mas foi Ele quem nos escolheu e nos enviou para dar fruto. Somos enviados por nosso Senhor. A Igreja, os discípulos, os apóstolos, os fundadores, todos os sujeitos da pastoral são enviados por nosso Senhor. Em uma congregação, o carisma é uma realidade sobrenatural com a qual você se sente identificado, chamado: no meu caso, eu entrei no movimento Regnum Christi, um movimento de apostolado, que visa transformar a vida das pessoas e da sociedade através de um encontro pessoal com o Cristo vivo e deixando que seja Ele quem transforme cada pessoa num apóstolo e missionário. Quando você recebe um carisma, entende que Deus encontrou você e você respondeu ao chamado dele. Você pode sempre ir mais a fundo, porque é uma realidade que não é simplesmente uma ideia humana. Há uma doutrina da Igreja que é dogmática e que se aplica aos sacramentos: pode acontecer que um sacerdote seja indigno, mas o sacramento que ele confere é válido porque a graça age ex opere operato. E, de alguma forma, Deus nosso Senhor faz isso também connosco. Olhando para a história da Igreja, nós tivemos papas indignos, mas a Igreja continuou a existir e a cumprir a sua missão porque ela é obra de Deus. Para nós, legionários, aconteceu algo parecido.

ZENIT: Como se harmoniza a obediência com o carisma?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Quanto à obediência, a Igreja nos ensina hoje, como explica o magistério do Concílio Vaticano II e também o magistério sucessivo, que é um discernimento, em que o superior e o subalterno procuram juntos a vontade de Deus. Eu não me identifico com a ideia de uma obediência cega: na Legião, nós aprendemos que ela é motivada pela fé. No diálogo confiante com o superior, o religioso pode ter algumas preocupações que ele pode expor livremente, mas a obediência não muda. O modelo é Cristo nas mãos do Pai: "Não se faça a minha vontade, mas a tua". Se isso não acontece, não existe verdadeira obediência. O discernimento é fazer o que Jesus fez no Getsêmani. Também é importante entender que o superior não é um patrão; que ele também tem que buscar sempre a vontade de Deus e agir de acordo com as normas do direito.

ZENIT: O Santo Padre participou deste processo com algumas indicações sobre a configuração do novo governo do instituto. O que ele pediu?
Pe. Eduardo Robles-Gil: Em dezembro, o Santo Padre nos pediu para eleger o director geral e dois conselheiros gerais. Além disso, ele se reservou também a nomeação do vigário geral e de outro conselheiro. E ordenou que as eleições do Capítulo fossem confirmadas pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. Nós relatamos a eleição para o Santo Padre tal como ela aconteceu e ele me confirmou como director geral, além de confirmar os dois conselheiros gerais eleitos, o pe. Sylvester Heereman e o pe. Jesús Villagrasa. Conforme ele tinha avisado através do delegado pontifício, ele designou ainda o pe. Juan José Arrieta como vigário geral e o pe. Juan Sabadell como outro conselheiro geral. Em 6 de Fevereiro, Sua Excelência dom José Rodriguez Carballo, secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, nos comunicou a confirmação das eleições e os nomes dos conselheiros escolhidos pela Santa Sé. Nós recebemos a notícia com um grande aplauso.

[A segunda parte da entrevista será publicada amanhã, quinta-feira, 13 de Fevereiro]

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