Em entrevista ao jornal La Stampa, Francisco responde brilhantemente sobre temas da actualidade
Roma, 16 de Dezembro de 2013
"As mulheres na Igreja devem ser valorizadas, não
clericalizadas. Quem pensa em mulheres cardeais sofre um pouco de
clericalismo".
Esta foi a resposta do papa à pergunta do jornalista Andrea
Tornielli: "Posso perguntar se vamos ter mulheres cardeais?". A
entrevista, feita em 10 dezembro na Casa Santa Marta, foi publicada hoje
pelo jornal La Stampa, de Turim.
Indagado sobre o andamento da “limpeza” no Instituto para as Obras de
Religião (IOR), popularmente chamado de “banco do Vaticano”, o papa
explicou que "as comissões estão trabalhando bem. O [comité regulador
europeu] Moneyval nos avaliou bem, estamos no caminho certo. Sobre o
futuro do IOR, vamos ver. Por exemplo, o "banco central" do Vaticano
seria a APSA. O IOR foi criado para ajudar as obras de religião, as
missões, as igrejas pobres. Depois é que ele se tornou o que é hoje".
Quanto ao diálogo ecuménico e à esperada unidade dos cristãos, o
bispo de Roma observou que existe hoje um “ecumenismo do sangue”. Quando
matam cristãos em alguns países, “não perguntam se eles são anglicanos,
luteranos, católicos ou ortodoxos”. Para aqueles que os matam, os
cristãos estão unidos no sangue, muito embora, entre nós próprios,
"ainda não tenhamos conseguido tomar as medidas necessárias para a
unidade; talvez o tempo ainda não tenha chegado”.
O papa enfatizou que o ecumenismo é uma prioridade e que a unidade "é uma graça que precisamos pedir".
Sobre o encontro com os ortodoxos, Francisco destacou que “é uma dor
ainda não poder celebrar juntos a Eucaristia, mas temos uma grande
amizade”. Falando das reuniões com os vários irmãos ortodoxos,
Bartolomeu, Hilarion, o teólogo Zizioulas e o copta Tawadros, o papa
confessou: "Eu me senti irmão deles. Eles têm a sucessão apostólica, eu
os recebi como irmãos bispos (...) Abençoamos um ao outro, um irmão
abençoando o outro, um irmão se chama Pedro e o outro André, Marcos,
Tomé...".
Tornielli perguntou ao papa o que ele acha das acusações feitas por
alguns ultraconservadores, que consideram “marxistas” as observações do
pontífice sobre a economia. O papa respondeu que "a ideologia marxista
está errada, mas, na minha vida, conheci muitos marxistas bons como
pessoas, e, por isso, não me sinto ofendido".
Francisco acrescentou que, na exortação Evangelii Gaudium, "não há
nada que já não esteja na Doutrina Social da Igreja". O problema diz
respeito às teorias da "recaída favorável", segundo a qual cada
crescimento económico impulsionado pelo livre mercado produz por si
mesmo uma equidade maior e mais inclusão social no mundo. Havia a
promessa de que, “quando o copo ficasse cheio, ele transbordaria e os
pobres seriam beneficiados”.
O problema, porém, diz o papa, é que "quando o copo se enche, ele
‘magicamente’ cresce de novo e nunca transborda nada para os pobres": é
isso o que não está certo.
in
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