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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Francisco saúda com afecto a Cúria Romana por causa do Natal

Agradece-lhes o serviço diário e a Deus porque na Cúria tem pessoas santas. Alerta do perigo da mexeriquice


Roma, 23 de Dezembro de 2013


O Santo Padre Francisco neste sábado pela manhã teve a tradicional audiência com a Cúria Romana por ocasião das saudações natalícias.

Após o discurso do Cardeal Sodano, o Santo Padre dirigiu as seguintes palavras:
Senhores cardeais, queridos irmãos no episcopado e no sacerdócio, queridos irmãos e irmãs. Agradeço de coração as palavras do Cardeal Decano.

O Senhor nos deu a graça de percorrer mais uma vez o caminho do Advento, e chegamos rapidamente aos últimos dias antes do Natal, dias cheios de um clima espiritual único, cheio de sentimentos, lembranças, sinais litúrgicos e não litúrgicos, como o Portal de Belém... neste clima se enquadra também o tradicional encontro com vocês, Superiores e Oficiais da Cúria Romana, que colaboram diariamente no serviço à Igreja.

Saúdo cordialmente a todos. E deixem-me cumprimentar especialmente Mons. Pietro Parolin, que recentemente começou seu serviço como Secretário de Estado e precisa de nossas orações. Este tempo no qual os nossos corações transbordam de gratidão a Deus, que nos amou até dar o seu filho Unigénito por nós, é o momento de agradecermos também entre nós.

E neste primeiro Natal como Bispo de Roma, sinto a necessidade de dizer-lhes um efusivo "obrigado": a todos como comunidade de trabalho e a cada um pessoalmente. Obrigado pelo seu serviço diário: pelo zelo, pela diligência, a criatividade; obrigado pelo esforço, nem sempre fácil, de colaborar no trabalho, de escutar-se e confrontar-se, de valorizar personalidades e qualidades diferentes no respeito recíproco.

Gostaria de expressar a minha gratidão de uma maneira especial àqueles que terminam o seu serviço e se aposentam neste período. Já sabemos que sacerdotes e bispos nunca se aposentam, mas sim do cargo, e é justo que seja assim, também para dedicar-se mais à oração e a cura de almas, começando pela sua.

Portanto, um “obrigado” especial, de coração, a vocês, queridos irmãos que deixam a Cúria, especialmente aqueles que trabalharam aqui por muitos anos e com tanta dedicação, no escondido. Isso é verdadeiramente admirável.

Admiro muito a estes monsenhores que seguem o modelo dos antigos curiais, pessoas exemplares... Mas também hoje os temos. Pessoas que trabalham com competência, com rigor, com abnegação, desempenhando com cuidado as suas tarefas diárias.

Gostaria de mencionar aqui alguns desses irmãos para expressar minha admiração e apreço, mas sabemos que a primeira coisa que se nota em uma lista são os que faltam; e se o fizesse, correria o risco de esquecer alguns e cometer assim uma injustiça e uma falta de caridade.

Mas eu quero dizer a estes irmãos que constituem um testemunho muito importante no caminho da Igreja. Deste modelo e testemunho, pego as características do oficial da Curia, e mais ainda, do Superior que gostaria de destacar: o profissionalismo e o serviço. O profissionalismo, que significa responsabilidade, estudo, actualização...

É um requisito fundamental para trabalhar na Cúria. Naturalmente, o profissionalismo vai sendo formado, e em parte também se adquire; mas penso que, justamente para que se forme e para que seja adquiro, é preciso que haja uma boa base desde o começo.

E a segunda característica é o serviço, serviço ao Papa e aos bispos, à Igreja universal e às Igrejas particulares. Na Cúria Romana se aprende, “se respira” de um modo especial precisamente esta dupla dimensão da Igreja, esta compenetração entre o universal e o particular; e parece-me que esta é uma das mais bonitas experiências de quem vive e trabalha em Roma: “sentir” a Igreja deste modo.

Quando não há profissionalismo, lentamente vai-se caindo na mediocridade. Os expedientes são convertidos em relatórios de "clichet" e em comunicações sem fermento de vida, incapazes de gerar horizontes de grandeza.

Por outro lado, quando a atitude não é de serviço às Igrejas particulares e aos seus bispos, então cresce a estrutura da Cúria como uma pesada alfândega burocrática, controladora e inquisidora, que não permite a acção do Espírito Santo e o crescimento do Povo de Deus.

A essas duas qualidades, o profissionalismo e o serviço, gostaria de acrescentar uma terceira, que é a santidade de vida. Sabemos muito bem que isso é o mais importante na hierarquia de valores. De facto, também está na base da qualidade do trabalho, do serviço.

E quero dizer aqui que na cúria romana houve e há santos, e o disse publicamente mais de uma vez, para agradecer ao Senhor.

Santidade significa vida imersa no Espírito, abertura do coração a Deus, oração constante, humildade profunda, caridade fraterna nas relações com os colegas.
Significa, também, apostolado, serviço pastoral discreto, fiel, exercido com zelo em contato direto com o Povo de Deus. Isto é indispensável para um padre. Santidade na Cúria significa também fazer objecção de consciência às mexeriquices. Sim, objecção de consciência às mexeriquices.

Nós insistimos muito no valor da objecção de consciência, e com razão, mas talvez devêssemos também exercê-la para opor-nos a uma lei não escrita dos nossos ambientes, que infelizmente é a da mexeriquice.

Então, façamos todos objecção de consciência; e – vejam vocês – não o falo somente desde um ponto de vista moral. A mexeriquice prejudica a qualidade das pessoas, do trabalho e do ambiente.

Queridos irmãos, sintamo-nos todos unidos neste último percurso do caminho a Belém. Pode ajudar-nos meditar no papel de São José, tão calado e tão necessário ao lado da Virgem Maria. Pensemos nele, em sua preocupação com a esposa e o filho.

Isso nos diz muito sobre o nosso serviço à Igreja. Portanto, vivamos este Natal muito unidos espiritualmente a São José. Isso nos fará bem a todos.

Agradeço-lhes muito pelo seu trabalho e, especialmente, pelas suas orações. Sinto-me realmente “apoiado” pelas orações, e peço-lhes que sigam apoiando-me assim. Também eu lembrarei de vocês diante do Senhor e lhes abençoo, desejando-lhes um Natal de luz e de paz a cada um de vocês e seus entes queridos. 
Feliz Natal!


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