Encontro também celebrou o lançamento do livro-entrevista do pe. Antonio Spadaro com o papa
Roma, 18 de Dezembro de 2013
Ontem, 17 de dezembro, um grande grupo de vaticanistas se
encontrou no Centro de Estudos Capela Orsini, na capital italiana, para
comemorar os 77 anos de idade do papa Francisco e para participar da
apresentação do livro do pe. Antonio Spadaro, "Minhas portas estão
sempre abertas", obra em que o sacerdote, diretor da célebre revista La
Civiltà Cattolica, apresenta e comenta a histórica entrevista que fez ao
papa em Agosto.
Andrea Conte, presidente do Centro de Estudos Capela Orsini,
recebeu os convidados no espaço que actualmente abriga obras de arte
focadas no universo feminino. O moderador do encontro, Andrea Velardi,
professor na Universidade Roma Tre, falou da novidade representada pelo
papa Francisco e citou um cardeal italiano que contou que os eleitores
entraram na Capela Sistina sem o nome de Bergoglio na cabeça e foram
sendo levados pelo Espírito Santo a elegê-lo.
Marco Tosatti (La Stampa) observou que a entrevista concedida pelo
papa ao pe. Spadaro foi cuidadosamente revisada, palavra por palavra,
pelo próprio Santo Padre, ao passo que a entrevista concedida ao director
emérito de La Repubblica, Eugenio Scalfari, não sofreu qualquer
revisão.
Marco Politi (Il Fatto Quotidiano), retomando as observações de
Tosatti, enfatizou que, no caso da entrevista dada a Scalfari, o papa
estava especialmente interessado em lançar uma mensagem ao mundo
agnóstico e ateu. Por isso, o texto foi integralmente reproduzido pelo
Osservatore Romano apesar de algumas imprecisões, como a menção à oração
de Bergoglio antes da aceitação do pontificado. Já no caso da
entrevista ao pe. Spadaro, o papa decidiu lançar nela um “manifesto” do
seu pontificado, considerando necessário, por isso, fazer uma revisão
cuidadosa.
Quanto à figura do pontífice, Politi acredita que devemos tirar da
cabeça um Bergoglio “folclórico”, ligado à sua origem latino-americana:
tudo o que podemos dizer do papa Francisco é característico da sua
própria pessoa. Em comparação com os antecessores mais recentes, Politi
recorda como outra novidade o fato de Francisco ter nascido numa
metrópole: a região metropolitana de Buenos Aires tem 13 milhões de
habitantes.
Vania de Luca (RAI News 24) enfatizou o carácter pastoral do
pontífice. Para Francisco, a Igreja não deve apenas abrir as portas para
o mundo, mas também sair em busca de quem está longe do seu limiar.
Esta ideia, de acordo com a jornalista, teve grande acolhimento na alma
de muitas pessoas que lamentam as muitas vezes em que encontram fechadas
as portas das paróquias.
Para Gian Guido Vecchi (Corriere della Sera), só um jesuíta como o
pe. Spadaro poderia entrevistar um papa jesuíta. O fato de ambos
pertencerem à mesma família de Santo Inácio evitou potenciais
mal-entendidos. O livro-entrevista com o pe. Spadaro pode ser
considerado uma espécie de “ferramenta” para interpretar e compreender o
papa Francisco.
Para o vaticanista, uma das maiores revoluções do papa Francisco foi a
decisão de morar na Casa Santa Marta, o que permitiu que o papa
entrasse em contacto mais directo com os colaboradores: para ter acesso ao
papa, eles não precisam mais “passar por filtros”. O papa dá andamento à
reforma da Igreja com gestos como este. Quando a Igreja não se limitar
apenas a aplaudi-lo, mas começar a imitá-lo, veremos os frutos.
Matteo Matuzzi (Il Foglio), o mais jovem dos vaticanistas, acredita
que a doutrina está segura com o papa Francisco. Seu estilo, embora
possa parecer a alguns, não é impulsivo. Às vezes, os gestos do papa são
banalizados e mal compreendidos por quem ignora a complexidade deste
pontificado.
Jacopo Scaramuzzi (Linkiesta) comparou Francisco ao presidente
norte-americano Roosevelt, considerado progressista pelos conservadores e
conservador pelos progressistas.
Para Elisabetta Piquet, autora do livro "Francisco, vida e
revolução", Bergoglio é ao mesmo tempo o homem certo no momento certo e a
pessoa experiente que já ocupou posições de responsabilidade em
momentos críticos. Em sintonia com a declaração do cardeal Kasper,
Francisco reformará a Igreja, mas não a refundará.
A chegada do papa Francisco trouxe, sem dúvida, uma nova atmosfera,
um novo entusiasmo, um grande orgulho de ser católico, a novidade do
"escândalo da normalidade" estampado em seus gestos simples, como o de
embarcar para o Brasil carregando uma pasta como se fosse um viajante
comum ou o de dar um beijo no rosto da presidente da Argentina durante a
sua visita ao Vaticano.
A reunião foi concluída com as palavras do próprio pe. Antonio
Spadaro. O director de La Civiltà Cattolica afirmou que o papa Francisco
não tem soluções na cartola e que as suas decisões são tomadas depois de
um atento discernimento, de acordo com o estilo dos jesuítas, através
de consultas genuínas e de intensos momentos de oração.
Numa particular “alquimia”, o papa separou a autoridade da distância.
Acredita-se, frequentemente, que, ao se aumentar a distância,
conquista-se maior autoridade. Isso até pode ser verdade em alguns
casos, mas uma autoridade desse tipo não pode durar. O papa Francisco
vem baseando a sua autoridade exactamente no contrário disso: na
proximidade.
in
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