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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A cadeia era duríssima mas ele viveu-a «como um feliz retiro», baptizando presos às escondidas

O Evangelho mudou a vida de todos naquela cela 

Todo o trabalho evangelizador estava proibido na cadeia comunista...
Mas isso não deteve este sacerdote
Actualizado 8 de Dezembro de 2013

Leone Grotti / Tempi.it

"Don Pedro" é um sacerdote católico chinês octogenário que actualmente vive em Itália. Passou quase toda a sua vida na China, onde «quando era criança toda a actividade religiosa estava proibida» e «a maior parte dos exponentes religiosos foi encarcerada e enviada para trabalhos forçados».

Quando a China começou a abrir-se ao mundo em 1979, Don Pedro participou «pela primeira vez» numa Missa, e mais à frente decidiu fazer-se sacerdote. Preso «porque pertencia à Igreja fiel ao Papa», passou oito anos na prisão.

Uma família que transmitia a fé
Quando era pequeno, tal como conta o ancião à Laogai Research Foundation Italia (www.laogai.it), apesar de que «todas as igrejas e os templos» terem sido «fechados» para deixar espaço ao comunismo ateu propugnado por Mao, Don Pedro recebeu uma educação católica.

«A minha avó começou a ensinar-me, às escondidas, as orações fundamentais como o Pai Nosso e a Ave-maria. O meu pai fez-me aprender de memória o catecismo “de pergunta e resposta”».

Para educa-lo desta maneira a família correu muitos riscos: «Via que a minha avó saía todas as noites de casa levando consigo uma lâmpada de querosene (conta Don Pedro). Então eu não entendia e brincando com ela dizia-lhe: “Avó, a próxima vez que vás divertir-te à noite, leva-me também a mim!”. Somente mais tarde soube que para convencer os meus pais e a minha avó a renegar a sua fé o governo obrigava-os a frequentar as sessões de correcção do pensamento, a chamada lavagem do cérebro, e se não renunciavam a professar-se católicos eram submetidos também a castigos corporais».

O pároco no estrume, perante as crianças
Na escola Don Pedro conhece, pela primeira vez, um sacerdote.

«O governo tinha dado ordem ao pároco de ir todos os dias à nossa escola para limpar os sanitários, (…) eram latrinas e tinha que bater o estrume, um trabalho que ninguém queria porque era sujo, cansativo e humilhante».

Don Pedro somou dois mais dois.

«Uma noite a minha avó, antes de deitar-se, disse que esperava que eu em mais velho pudesse ser sacerdote; imediatamente sobressaltei-me afirmando que eu não tinha absolutamente nenhuma intenção de bater o estrume durante toda a minha vida».

Don Pedro teve que esperar até o ano de 1980 antes de assistir a uma Missa: «Uma multidão imensa participava na missa diária em latim. Reuníamo-nos na praça e estávamos tão amontoados que não podíamos nem fazer o sinal da cruz: se se levantava o braço para traçar o sinal da cruz, depois não havia espaço para baixá-lo».

Uma vocação muito consciente
Depois de uma breve luta interna decidiu fazer-se sacerdote, apesar de que «também nessa época ser sacerdote significava ter, seguramente, muitos problemas, como ser preso e acabar na cadeia, e sabia muito bem que na prisão teria sofrido muito: sou sincero, tinha muito medo».

Por ter-se negado a pertencer à Igreja oficial propugnada pela Associação patriótica do partido comunista chinês, Don Pedro foi encarcerado várias vezes durante um total de oito anos. 

A vida na cadeia, duríssima
A cadeia era terrível: os novos prisioneiros eram «apanhados e ultrajados pelos “mais antigos”», «todos os dias via prisioneiros com o corpo martirizado pelos golpes da polícia», «todos os dias tínhamos que escutar os cantos patrióticos que eram transmitidos pelos altifalantes (…), um ruído ensurdecedor gritado com trompetas que não era possível apagar ou evitar».

A comida era péssima, «insuficiente» e cheia de «terra, larvas e insectos. A sensação mais forte que sentia todos os dias era a fome».

«A coisa mais insuportável, sem dúvida, era o fedor», devido à concentração de demasiadas pessoas numa cela de poucos metros quadrados, onde todos fumavam.

Por isto Don Pedro afirma que «neste tipo de ambiente tinha quase enlouquecido»: «Pensava na morte e, por outra parte, rezava para ter a graça de poder viver.

Suicidar-me era contrário ao mandamento de Deus, e nem sequer o governo me dava a ocasião de morrer. Verdadeiramente levava-se a cabo um provérbio chinês: “Imploras a vida e não consegues viver; imploras a morte e não a obténs”». 

Força ao orar... E ao evangelizar!
Mas Don Pedro não enlouqueceu e depois de ter rezado em diferentes ocasiões («se morro é para testemunhar o Evangelho; se vivo é para exaltar a glória de Deus») começou a encontrar a força para «pregar o Evangelho», ainda que «o tinha proibido» e corria o risco de «castigos corporais».

Os prisioneiros escutavam-no e «ao cabo de poucos meses o nosso ambiente de vida tinha mudado: já não se via os prisioneiros antigos apanhar os recém- chegados», «começaram todos a ocupar-se uns dos outros e a limpar a cela».

Para permitir que Don Pedro não fosse descoberto enquanto evangelizava os detidos, «um dos detidos estava sempre de turno observando e escutando os movimentos, porque se vinham polícias fazer um controlo e, apenas ouvia algum ruído, fazia-me um sinal para que parasse».

E «poucos meses depois muitos deles solicitaram o baptismo para entrar na Igreja».

Assim, Don Pedro entendeu «a missão que Deus me tinha confiado: Deus tinha-me enviado à cadeia para trabalhar para estes homens que não tinham escutado nunca o Evangelho de Jesus Cristo e do qual tinham uma grande necessidade. (…) Posso também dizer que se a fé não me tivesse sustentado, não haveria saído vivo da cadeia. Por outro lado assim, não só passei oito anos numa cadeia terrorífica, mas sim que com o apoio da fé posso dizer que transcorri felizmente oitos anos de “retiro espiritual”».

A história de Don Pedro, que resume muito bem o que pode implicar ser sacerdote católico na China, explica o significado das palavras de Tertuliano: «’O sangue dos mártires é semente de novos cristãos’ e estas palavras fizeram-se realidade na China. Na China actual temos hoje muitíssimos santos que chegaram até o sacrifício da vida; o sofrimento que eles suportam é muito mais forte que o meu, mas o que nós celebramos é que com a sua morte eles obtiveram uma coroa de glória».

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