Em entrevista exclusiva concedida à ZENIT, o embaixador russo Alexander Avdeev fala dos pilares de apoio, que caracterizam esta nova - e ao mesmo tempo inimaginável colaboração.
Roma, 11 de Dezembro de 2013
Há apenas algumas décadas, quando a nuvem do ateísmo de
Estado obscurecia a assim chamada "Terceira Roma", um cenário como o
oferecido pela actual situação geopolítica teria parecido impensável. Mas
a passagem do tempo às vezes dá surpresas agradáveis, de modo que hoje,
na estrada que liga Roma a Moscovo, corre um novo eixo com base na
promessa ambiciosa de fazer a paz prevalecer e defender a civilização
cristã. O que ocorreu recentemente em São Pedro, ou seja, a visita ao
Papa Francisco do presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, é só
uma confirmação.
Alexander Avdeev, diplomata de longa data e especialista sobre a
Igreja Católica, que desde maio do ano passado foi nomeado embaixador da
Rússia junto da Santa Sé, concedeu uma entrevista à ZENIT para discutir
essa colaboração. Os temas abordados durante a nossa entrevista são o
compromisso comum entre o Kremlin e a Santa Sé a fim de promover uma
solução pacífica para a crise síria, bem como a cooperação para
salvaguardar a liberdade religiosa e para afirmar na sociedade os
valores morais e éticos, o apoio à vida e à família.
O embaixador Avdeev também confirmou que uma reunião (em Moscovo ou
no Vaticano) entre o papa Francisco e o patriarca de Moscovo e de todas
as Rússias, Kirill, é uma eventualidade que está se tornando sempre mais
concreto.
***
ZENIT: A visita do Presidente da Federação Russa, Vladimir
Putin, ao Pontífice, Papa Francisco, foi o cume de um compromisso mútuo
para evitar a guerra e promover a paz e a reconciliação na Síria. O que
você pode nos dizer sobre isso?
Alexander Avdeev: De fato, os desejo de evitar a guerra na Síria e os
ativos esforços diplomáticos nesta direcção foram o cenário ideal desta
visita. Neste sentido a mensagem do papa Francisco ao presidente russo,
como presidente do G20 é o momento chave que desencadeou a reacção
positiva seja dos membros do G20 que do mundo inteiro. O forte e
respeitável apelo do Papa à reconciliação na Síria continua a
desempenhar um papel importante também hoje e é levado em conta na
preparação de "Genebra 2".
ZENIT: A partilha dos problemas e o compromisso para
resolvê-los não dizem respeito somente à guerra e à situação na Síria.
Mesmo em temas da defesa da identidade cristã e da promoção da vida e da
família, parecem ter uma forte sintonia entre Rússia e Santa Sé, não é
verdade?
Alexander Avdeev: Primeiro eu gostaria de destacar a semelhança de
abordagens para os princípios básicos das relações entre os Estados: o
primado do direito internacional e a afirmação do componente moral e
ético nas relações internacionais, a preservação da paz com base na
segurança igual e indivisível. Sem dúvida, a protecção da identidade
cristã é uma motivação de grande importância tanto para nós quanto para a
Santa Sé. Actualmente, a Santa Sé junto com a Igreja Ortodoxa Russa está
preparando uma série de palestras e debates sobre o tema.
No entanto, trata-se da protecção da identidade não só dos cristãos,
mas também dos seguidores das outras religiões que, como a civilização
cristã, estão sujeitos aos efeitos erosivos da radicalização e da
globalização não controlada.
ZENIT: A assistência aos cristãos perseguidos no mundo é,
portanto, um problema que a Rússia e a Santa Sé consideram crucial.
Quais medidas estão sobre a mesa para enfrentar este dramático fenómeno?
Alexander Avdeev: No curso dos inúmeros conflitos armados os
religiosos, muitas vezes, são as primeiras vítimas. Assim aconteceu na Tchechénia onde os sacerdotes ortodoxos eram assassinados pelos bandidos.
Ao mesmo tempo aconteceu em Kosovo onde foram destruídos mais de 150
lugares sagrados cristãos. Uma situação semelhante acontece na Síria. Os
serviços diplomáticos da Rússia e da Santa Sé estão em contacto próximo,
a fim de lançar luz sobre o destino dos sacerdotes cristãos
sequestrados por islamistas na Síria.
ZENIT: A visita de Putin ao Papa, a devoção comum a Maria são
fatos que impressionaram a opinião pública mundial. De fato, uma
estreita cooperação entre a Rússia e o Vaticano para garantir a paz,
para ajudar os cristãos perseguidos, para promover a vida do nascituro e
da família natural, é uma grande e boa novidade que poderia mudar para
melhor o destino da Europa e do mundo. Você não acha?
Alexander Avdeev: Esta cooperação é uma vantagem para todos. Tem seu
"escopo", suas perspectivas e suas responsabilidades. A cooperação tem
lugar não só no domínio da política externa. Outro pilar de sustentação
da nossa cooperação está nos valores morais e éticos, no suporte à vida e
à família. Para nós, a “jovem” democracia e o País no qual vêm
construído o Estado de direito e se forma intensivamente a sociedade
civil, é muito importante.
ZENIT: Em novembro de 2011 mais de 3 milhões de fiéis, em
Moscovo, enfrentaram temperaturas cruéis para venerar o Sagrado Cinto da
Virgem no Monte Athos na Catedral de Cristo Salvador. Episódio que
mostra como na Rússia haja hoje um renascimento fenomenal da fé cristã.
Qual é a razão?
Alexander Avdeev: O renascimento aconteceu nos anos 90 do século
passado, quando, após o colapso do comunismo, tinha sido formado um
vácuo, e os russos estavam na necessidade de um novo apoio espiritual.
Agora ambos, seja crentes ou não, reflectem muito sobre as origens da
nossa cultura nacional, na qual um grandíssimo papel tiveram os valores
cristãos. No entanto, deve-se lembrar também, que a Rússia é um Estado
único no seu género, onde já há mais de 5 séculos os cristãos convivem
lado a lado com os muçulmanos. Nós somos um país da paz inter-religiosa e
acumulamos muita experiência neste campo.
ZENIT: De que forma o povo russo acolheu a notícia do encontro entre o presidente Putin e o Papa Francisco?
Alexander Avdeev: respondo de forma sucinta. Com grande satisfação. É
em grande parte devido ao grande respeito que os russos sentem em
relação a Papa Francisco.
ZENIT: Também as relações entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja
Católica estão melhorando muito. Nunca na história as duas igrejas
estiveram tão perto. E quem sabe se Sua Beatitude o Patriarca Kirill
poderá vir a Roma e o Papa Francisco a Moscovo. O que você acha?
Alexander Avdeev: Aqui se trata da questão do diálogo entre as duas
Igrejas. Como bem disse o chefe das relações exteriores da Igreja
Ortodoxa Russa, o Metropolita Hilarion, "cada dia que passa nos aproxima
deste encontro".
ZENIT: Entre Roma e Moscovo há também uma grande colaboração
no campo da cultura, especialmente da literatura e da arte. Pode
dizer-nos algo a respeito?
Alexander Avdeev: Eu ainda trabalhava em Moscovo quando se realizou
com grande sucesso o Ano da Itália. O embaixador daquele momento,
Antonio Zanardi Landi, em colaboração com os museus italianos, fez o
impossível - trouxe várias pinturas dos mais brilhantes pintores
italianos, que milhares de russos puderam admirar.
Actualmente, o ano do turismo está na agenda. Seu principal componente
é a crescente atracção pelo Vaticano tanto como meta de peregrinação
religiosa e espiritual quanto como um centro cultural de importância
mundial.
in
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