Pela primeira vez na história, uma doutora comanda o sindicato dos médicos no Egipto: uma verdadeira revolução
Roma, 23 de Dezembro de 2013
O dia 13 de Dezembro de 2013 será recordado na história
egípcia como o dia em que as eleições do sindicato dos médicos deram a
vitória à "Corrente da Independência" depois do indiscutível e longo
domínio mantido durante os últimos 28 anos pelo grupo "Médicos pelo Egipto", alinhados à Fraternidade Muçulmana.
Mas é o dia 19 de Dezembro de 2013 que está destinado a se tornar a
data-símbolo da verdadeira revolução, já que, para liderar o sindicato,
foi eleita uma mulher, a doutora Mona Mina. É a primeira vez, desde a
fundação, em 1949, que um dos mais importantes organismos
representativos dos trabalhadores do Egipto é comandado não apenas por
uma mulher, mas por uma mulher que é cristã copta.
A doutora Mona Mina, pediatra de 55 anos de idade, foi uma das
“colunas morais” das manifestações na Praça Tahrir em Janeiro de 2011,
que contribuíram para a derrocada do ditador Hosni Mubarak. Sua
popularidade se consolidou também pelo fato de ser presidente dos
"Médicos sem Direitos", um movimento fundado por ela em 2007 para lutar
pelo aumento salarial dos médicos egípcios e melhorar as condições do
devastado sistema de saúde pública do país.
Em Novembro de 2011, o jornal Al-Akhbar a definia como "a doutora
revolucionária". Na Praça Tahrir, ela era chamada até mesmo de "Cristo
de Tahrir". Em Janeiro de 2011, afinal, ela tinha aberto, junto com
outros colegas, o hospital de campanha na praça central do Cairo para
socorrer os feridos nos confrontos.
A sua actividade frenética conquistou o coração de todos, porque, como
ela própria pôde afirmar diversas vezes, “quando se trata da vida não há
poréns: eu não posso ir embora para descansar em casa se na praça ainda
resta um manifestante que seja! Não importa se ele pensa como eu ou se
ele tem ideias contrárias às minhas".
A honestidade intelectual de Mina é comprovada pelo fato de ela ter
sido uma das duzentas pessoas que assinaram o pedido de renúncia do
ministro do Interior de Mubarak e o pedido de abertura de investigações
sobre a morte do jovem Sayyed Bilal. Ele morreu durante um
interrogatório a respeito do ataque perpetrado contra a igreja dos
Santos, em Alexandria, em Janeiro de 2011. Os direitos, para a doutora
Mina, nunca tiveram cor: são para todos ou não são para ninguém.
Nos "Médicos sem Direitos", Mina fez um trabalho de campo para
sensibilizar os próprios colegas da Fraternidade Muçulmana e
convencê-los a enfrentar os problemas e organizar as actividades de forma
conjunta. A médica nunca se apresentou como antagonista à Fraternidade,
que dominava o sindicato até então. Mina afirmou em várias ocasiões que
não os considerava inimigos, mas colegas com quem trabalhar para
melhorar as condições da categoria. Seu carisma e tenacidade
conquistaram muitos apoiantes desde as primeiras eleições do sindicato
realizadas após a “primavera árabe”, no final de 2011.
Infelizmente, de acordo com as declarações do colega médico Mohammed
Shafiq à revista The Socialist, em dezembro de 2011, Mona Mina "foi
atacada [pela Fraternidade Muçulmana] por ser mulher e cristã. Foi
acusada de receber financiamento do rico empresário copta Naghib Sawiris
e de induzir os cristãos a votar nos cristãos e os muçulmanos nos
muçulmanos". Mas a derrota parcial não a desanimou.
No último 17 de Dezembro, depois de confirmados os resultados
oficiais, a "doutora revolucionária" afirmou em entrevista ao jornal
egípcio Al-Shorouk que a derrota da Fraternidade Muçulmana no sindicato
deve ser atribuída ao árduo trabalho da Corrente da Independência e não à
onda de prisões de membros da Fraternidade; essas prisões, aliás,
geraram manifestações de solidariedade para com os muçulmanos, em vez de
rejeição.
Mina explicou que as prioridades e os objectivos no próprio sector são
os salários dos médicos, o orçamento do Ministério da Saúde e a melhoria
dos hospitais. “Não podemos conseguir tudo da noite para o dia.
Precisamos de grandes esforços e principalmente da vontade das
instituições para fazer as reformas da saúde”, enfatiza. “O problema da
saúde no Egipto está na política e na maneira do Estado de assumir a
saúde do cidadão egípcio”. Uma das tarefas necessárias, para ela, é
“fornecer a cada cidadão egípcio um cartão electrónico que facilite a
consulta do seu histórico médico”.
As declarações de Mona Mina ao jornal árabe internacional Asharq
al-Awsat, logo depois da sua nomeação, confirmam a sua vontade de
"pressionar o governo para acelerar o programa de desenvolvimento dos
hospitais e a reorganização da estrutura da saúde pública".
in
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