No que concerne a situação de alguns de
nossos irmãos e irmãs divorciados recasados, com quem caminhamos e
conversamos pelo Brasil afora, é necessário redobrar a prudência no que
concerne as interpretações do texto publicado, pois o texto sequer
menciona o acesso à Eucaristia e ao Sacramento da Confissão
Roma,
28 de Outubro de 2015
(ZENIT.org)
Pe. Rafael Fornasier
O Papa Francisco, em seu discurso de conclusão do Sínodo dos Bispos
sobre “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo
contemporâneo” afirmou que “certamente não significa que esgotamos todos
os temas inerentes à família” e que não “encontramos soluções
exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a
família” na atualidade, mas que, com coragem, dedicação e sem medo de
afrontar os desafios postos às famílias e na família, “procuramos
iluminá-los com a luz do Evangelho, da tradição e da história
bimilenária da Igreja, infundindo neles a alegria da esperança”, sem
cair em repetições simplistas.
Com efeito, o Relatório Final do Sínodo foi entregue ao Papa
Francisco, como reza o Artigo 41 do Regulamento do Sínodo dos Bispos (Ordo Synodi Episcoporum).
Segundo as explicações do próprio regulamento, não há uma regra
estabelecida de antemão sobre a elaboração de um documento final do
Sínodo. Fato é que, após várias assembleias sinodais, os últimos papas
publicaram um documento retomando ou levando em conta o fruto do
trabalho do Sínodo. Haja vista que os bispos, ao entregar o Relatório
Final da assembleia, fizeram um pedido ao papa para que ele publicasse
um documento, é de se esperar que isso aconteça nos próximos meses.
Assim sendo, o texto que foi publicado no fim de semana passado não é
um documento normativo nem definitivo. Virá a sê-lo se o papa assim o
quiser. Mas poderá também passar por modificações por parte do papa. Por
isso, é temerário já agora tirar orientações bem precisas em nível
prático para a ação pastoral da Igreja, embora não nos seja impedido de
começar – ou continuar – a refletir sobre isso.
No que concerne a situação de alguns de nossos irmãos e irmãs
divorciados recasados, com quem caminhamos e conversamos pelo Brasil
afora, é necessário redobrar a prudência no que concerne as
interpretações do texto publicado, pois o texto sequer menciona o acesso
à Eucaristia e ao Sacramento da Confissão.
O título no qual se aborda o assunto fala de “discernimento e
integração”, deixando, propositadamente, a questão aberta e a ser cada
vez mais discernida, com misericórdia e verdade, não só pelas pessoas
implicadas, mas também por toda comunidade eclesial, inclusive levando
em conta aspectos culturais, como também mencionado pelo Papa Francisco
no seu discurso final. A respeito do acesso à Eucaristia, alguns
comentários observaram que o texto não diz nem que “sim” nem que “não”.
Isso também é válido para aquelas formas de impedimentos hoje existentes
na prática eclesial. Tal responta obliqua e não direta do texto faz-nos
voltar ao que o papa disse no discurso final, ou seja, de que o sínodo
não ofereceu soluções exaustivas a todas as situações complexas, pois
estas são múltiplas e variadas. Anunciar aos quatro cantos um acesso ao
Sacramento da Eucaristia para todos os que se encontram nesta situação,
não somente vai além do que afirma o texto conclusivo do sínodo –
repitamo-lo: ainda não normativo nem definitivo – mas também não
respeita a complexidade da história de vidas envolvidas num divórcio e
suas consequências temporais, que, quer se queira ou não, toca a noção
de comunhão no sentido mais amplo (comunhão eclesial, eucarística, mas
também conjugal e familiar), que pode ter sido, em certos casos,
gravemente rompida.
Ainda que o Papa Francisco venha a decidir sobre essa questão, a
proposta, segundo as sugestões dos bispos representares de todas as
partes do mundo, não será a panaceia para dar fim aos problemas dos
divorciados recasados, mas será aplicada caso a caso, como sugerido pelo
Cardeal W. Kasper desde o início dessa discussão – o que não deixará de
suscitar dificuldades e incompreensões em nossas comunidades, diga-se
de passagem...
Deixando de lado todas essas especulações – que interessam muito aos
meios de comunicação desinteressados da vida real das pessoas! – o
importante é não reduzir toda a riqueza dos trabalhos do sínodo nestes
dois últimos anos ao “pode ou não pode”, pois o acompanhamento que visa
não só a integração de diversas situações, mas também a preparação ao matrimónio, através da transmissão do Evangelho da família, a vida
pós-matrimonial, a transmissão e educação dos filhos, a formação para a
missão eclesial e social da família, requer conversão pastoral e
pessoal, de todos nós, disponibilidade de tempo para a escuta e o
serviço, coragem e ousadia para intervir, também com misericórdia, junto
às famílias quando são assoladas por mentiras em relação à essência do
amor, da liberdade, da fidelidade, da responsabilidade, da abertura à
vida para se tentar evitar e superar as crises, e assim permitir que a
família continue sendo o maior tesouro da humanidade!
(28 de Outubro de 2015) © Innovative Media Inc.
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