O Diretor do Departamento para a família da CEI comenta o Sínodo apenas concluído e explica como acolher as ideias levantadas
Roma,
28 de Outubro de 2015
(ZENIT.org)
Federico Cenci
O Sínodo ordinário sobre a família terminou no último domingo com a
Missa do Papa Francisco, durante a qual lembrou que a tarefa da Igreja é
"proclamar a misericórdia de Deus, chamar à conversão e levar todas as
pessoas à salvação".
Tarefa que, lido à luz do Relatório do Sínodo, deve ser feita com
grande cuidado e com sensibilidade pastoral com relação às famílias que
vivem situações de sofrimento e de conflito. Pe. Paolo Gentili, diretor
do Departamento para a família da Conferência episcopal italiana (CEI),
está pronto para construir em cima dessas indicações.
Na entrevista a seguir, Gentili explica como a Igreja italiana irá
recolher alguns pontos levantados no Sínodo: dos cursos de preparação
para o casamento ao acompanhamento de famílias que sofreram perda,
passando pela objeção de consciência dos educadores perante cursos que
vão contra a moral cristã. Não falta uma consideração sobre o aspecto
que tem atraído o maior interesse dos meios de comunicação: a Comunhão
aos divorciados recasados civilmente.
***
Qual é o balanço que você faz desse Sínodo?
Pe. Gentili: Eu diria que uma obra-prima do Espírito! Devemos lembrar
que foi uma jornada de mais de um ano, que começou com um Sínodo
Extraordinário e oferecendo uma dupla consulta ao povo, para depois
voltar às salas sinodais para a assembleia geral ordinária que terminou
recentemente. Inicialmente, parecia ouvir uma orquestra, em uma espécie
de "sala de ensaio", onde cada um afinava o próprio instrumento. Depois,
porém, apareceu uma maravilhosa sinfonia e as posições diferentes
revelaram-se uma riqueza, descortinando a catolicidade e a
universalidade da Igreja. Este itinerário foi temperado com três
ingredientes especiais indicados pelo Santo Padre já na vigília que
abriu no ano passado: escuta mútua, confronto fraterno, olhar em Cristo.
É muito bom fazer parte de uma Igreja viva, onde os pais sentam à mesa
com os filhos, antes de tomar decisões importantes. Diria que as
famílias iluminaram realmente o sínodo e indiretamente também indicaram o
método de trabalho aos Padres sinodais. Um pai e uma mãe que têm quatro
filhos, embora tendo critérios educativos claros, nunca poderão educar o
quarto como o primeiro; não só porque eles mesmos mudaram e porque
aquele filho é único, mas, especialmente, por encarnar o melhor possível
os valores de sempre naquele determinado contexto histórico. Quem
permanece prisioneiro de esquemas do passado corre o risco de não
comunicar mais a vitalidade, a beleza e a perene novidade do evangelho.
A Comunhão aos divorciados que assumiram uma outra relação
afetiva foi um tema que catalisou a atenção da media. Porém, na Relatio
não parece haver nenhuma referência a respeito...
Pe. Gentili: Existem alguns verbos chave que indicam a atitude a
tomar em relação àqueles que experimentaram o fracasso do próprio
casamento e começado uma nova união: acompanhar, discernir e incluir. O
acompanhamento é a tarefa fundamental de uma Igreja que é mestra em
quanto mãe, e, portanto, chamada a curar os feridos com misericórdia. O
discernimento é a tarefa principal dos pastores e de quem colabora com
eles. Trata-se de deixar de ser “tolos e lentos de coração” (Lc 24,25)
como os dois de Emaús, não reconhecendo naquela pessoa ferida Jesus que
passa ao nosso lado, ou amalgamando com atitudes confusas e erróneas
situações completamente diferentes. A inclusão é a atitude das parábolas
de misericórdia; em particular, da mulher que se deixa iluminar pela
lâmpada e, reencontrando a moeda perdida, devolve todo o valor (cfr. Lc
15,8-10). Em última análise, o que realmente mudou é a procura de um
novo olhar sobre a comunidade dos crentes, para que abandone uma atitude
de julgamento sobre as famílias feridas, conjugando eficazmente verdade
e misericórdia. Só quem está em conversão pode guiar o outro na mudança
do coração, senão, transforma-se em “cegos e guia de cegos” (Mt 15,
14). Com este olhar cheio de ternura poderão também indicar caminhos
penitenciais que, em certas circunstâncias, abram a possibilidade de
receber a comunhão eucarística, mas, antes de tudo, há uma comunhão de
abraços a ser feita.
Qual é a mensagem da Igreja para as famílias “despedaçadas” pelo falecimento de um membro?
Pe. Gentili: Parece-me que o n. 19, descrevendo as famílias que
sofrem a viuvez e o n. 20, que pede uma pastoral de acompanhamento para
aqueles que experimentaram um luto na própria família, mostram o caminho
a seguir à luz do mistério pascal. O nosso Deus se fez carne em Nazaré
em uma família com muitas vicissitudes, já no nascimento foi excluído
por aqueles que moravam nos albergues, para depois emigrar para o Egito
fugindo de Herodes, até a morte na cruz, arrancado de sua mãe e dos seus
seres queridos. O encontro com a Madalena na gruta da ressurreição
ilumina, porém, um caminho de esperança, e “passando pelo vale de
lágrimas transforma-o em uma fonte” (Sl 84,7). Existem ali as lágrimas
de todas as mães que perderam o filho, de toda mulher que perdeu um
cônjuge. No olhar da fé, a dor excruciante pode ser transfigurada e a
ferida torna-se fenda de luz. Mas eu acredito que a primeira advertência
é a de não deixar sozinha essas pessoas, identificando, talvez, uma
família que possa “adotar” por um certo tempo aquela família despedaçada
pela dor. Nessas situações, é necessário que haja samaritanos que
tenham humildade, delicadeza e prudência especiais, porque, às vezes,
uma pessoa ferida não pode ser nem sequer abraçada; corre-se o risco de
fazer um dano maior. É necessária aquela que o Papa Francisco na
Evangelii Gaudium chama de “a força revolucionária da ternura”.
Fala-se também dos cursos de preparação para o matrimónio, às
vezes muito “pobres de conteúdo”. Na CEI se trabalha para melhorar,
talvez também para renovar, este tipo de catequese?
Pe. Gentili: A Relatio Sinody descreve a família como "fábrica de
esperança" e exorta as comunidades para uma nova proclamação do
Evangelho do matrimónio, realmente eficaz para este momento. Já nos
últimos anos, muitas dioceses renovaram os caminhos de preparação para o
casamento à luz das orientações sobre a preparação ao matrimónio e à
família da CEI. Em breve, motivados pelas recentes catequeses do Papa
Francisco sobre o amor em família, começaremos com um curso mensal
online para animadores dos itinerários de preparação ao matrimónio: já
temos milhares de inscritos de toda a Itália e também do exterior.
Trata-se de formar pequenas equipes onde sacerdotes e cônjuges
acompanham na aventura do amor. O segredo é mostrar o matrimónio não
tanto como um jogo de obrigações ou proibições, mas como uma verdadeira
Graça e iluminar a família como uma chamada à plenitude de vida e à
felicidade: Cristo cura o coração humano e torna possível amar-se para
sempre. Nos corredores, mais que ensinar a vencer, é necessário mostrar
que é possível levantar-se das quedas dizendo todos os dias com licença,
obrigado e desculpa ao próprio cônjuge e também ao próprio filho, e
também à sogra. Na Itália, a presença numerosa de pessoas já conviventes
que se preparam para as núpcias pede-nos uma nova sensibilidade
pastoral, capaz de mostrar o rosto de uma Igreja acolhedora e alegre,
que não via a hora de reencontrar os seus filhos.
Há também uma chamada à “liberdade da Igreja de ensinar a
própria doutrina” e ao “direito à objeção de consciência dos
educadores”. Na sua opinião, na Itália, qual é a situação com relação a
estes dois aspectos?
Pe. Gentili: Estamos em um contexto cultural que mudou profundamente e
mostra claramente a dificuldade de educar na vida do Evangelho neste
momento. No entanto, é justamente este o desafio: guardar uma profunda
simpatia pelo humano e, como dizia o Beato Paulo VI na encíclica
Ecclesiam Suam, “dialogar com o mundo no qual se está vivendo”. Estamos
nos preparando para o Congresso da Igreja Italiana que será realizado do
9 ao 13 de novembro em Florença com o tema “Em Jesus Cristo o novo
humanismo”. Estou convencido de que as famílias crentes, como nos
primórdios da cristandade, são chamadas a humanizar os ambientes, as
vezes também com escolhas contra-corrente, mas, especialmente
construindo pontes, mais do que levantando muros. Lembro de uma família
de Vicenza que, com grande humildade, teve que explicar aos pais dos
colegas do próprio filho os motivos que o faziam não participar, dentro
da escola elementar que frequentava normalmente, do curso de educação
sexual. Nasceu, entre os pais e o professor, um diálogo sereno e muito
profundo. De lá surgiu, por parte dos órgãos competentes, uma
reelaboração da imposição do curso. Às vezes, assim como na família, na
sociedade, o testemunho humilde e silencioso tem uma eficácia
surpreendente e é Evangelho puro.
(28 de Outubro de 2015) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário