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sábado, 31 de outubro de 2015

A Laudato Si é um convite à conversão: indica a responsabilidade de cada um

Entrevista com Dom Fernando Chica, observador permanente da Santa Sé na FAO e nas Nações Unidas, sobre a encíclica do Papa Francisco

Roma, 30 de Outubro de 2015 (ZENIT.org) Sergio Mora

Na encíclica Laudato Si, o Papa Francisco convida a lutar contra a fome e outros flagelos do século, em um mundo onde há comida para todos, mas nem todos podem comer. É um apelo à conversão, porque significa não delegar, pensando que alguém consertará tudo, mas indica a responsabilidade de cada um de nós. Uma encíclica que como uma plataforma aberta, busca a colaboração de todos e ilumina a todos.

Foi o que afirmou o Observador Permanente da Santa Sé para as Nações Unidas, FAO, PAM e IFAD, Dom Fernando Chica, em entrevista concedida à Zenit, após o encontro "Combate à fome e conversão ecológica. O convite da encíclica Laudato Si a uma agricultura sustentável", organizado em Roma pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz, na sala Alvaro del Portillo.

Zenit: Na encíclica Laudato Si há uma solicitação para salvar a casa que Deus nos deu, mas também um convite à conversão?
Dom Fernando Chica: Isto não é apenas uma intuição, mas uma verdade. Ao ler o texto da encíclica, que é riquíssimo, porque pode ser definida como inesgotável, é como uma canteira onde encontra-se realmente muitas ideias brilhantes. É uma encíclica que não pode ser lida rapidamente, porque tem grande variedade de tópicos e um convite à conversão explícito.

Zenit: Em que sentido?
Dom Fernando: O Santo Padre convida à conversão para combater a fome e outros flagelos de hoje, do século XXI, que caracterizam este mundo e o Papa as descreve como um verdadeiro escândalo.

A conversão acontece, por exemplo, ao abandonar essa prática que temos de recusar ou abandonar os grandes problemas, pensando que sempre haverá alguém, uma instituição ou outra pessoa tendo o cuidado de corrigi-lo e, logo, damos um passo para trás. Esquecemos e damos uma desculpa para não agir, entramos num limbo, numa paralisia, num engano total, pensando que alguém vai resolver o problema da fome no mundo.

Fome no mundo...
Dom Fernando: É um problema que clama ao céu e clamava o sangue de Abel, é uma injustiça o fato de que hoje milhões de pessoas no mundo sofram este verdadeiro flagelo, a fome, quando a terra pode alimentar a todos.

É um paradoxo real, há comida para todos, mas nem todos podem comer, alimentos para todos, mas nem todo mundo se beneficia deles, porque alguns não tem acesso, outros não podem produzir, muitos estão nas mãos de poucos, porque a comida deixou ser um direito para se tornar um produto de mercado, que muitos não podem obter devido aos preços. O alimento, que é um direito tão sagrado como o direito à vida, hoje, infelizmente, não está disponível para todos. Devo dizer com todas as letras que é um verdadeiro horror, uma injustiça, um escândalo. Aqui está a conversão.

Zenit: Portanto, não basta apoiar os organismos internacionais.
Dom Fernando: Não. Somente a cooperação internacional pode fazer algo para acabar com este flagelo, todos podemos fazer a nossa parte, ninguém está excluído desta causa nobre que é combater a fome e a pobreza no mundo.

Zenit: O Papa convida muitas pessoas que viam a Igreja e Deus como algo distante para a questão da defesa do criado e assim as aproxima da fé.
Dom Fernando: A encíclica tem algo de maravilhoso, nos primeiros números dirige-se a todos, e a palavra ‘todos’ é fundamental... O Papa fez uma ampla consulta, a muitos órgãos e pessoas, antes de escrever e as dispôs neste maravilhoso aparato crítico onde você vê que muitos convergem para o pensamento papal. O Santo Padre não pretende ter um único interlocutor, mas visa atingir a todos, não apenas os católicos, mas a todas as pessoas que querem ouvi-lo, a todas as pessoas de boa vontade, crentes ou não, instituições políticas internacionais, autoridades locais, universitários, todos.
 
Portanto, para quem quiser ouvi-lo, ele envia uma mensagem. Esta encíclica é como uma plataforma aberta para todos, busca a colaboração de todos, ilumina a todos os que estão envolvidos de uma maneira ou de outra, não apenas políticos, mas agentes sociais, culturais, universitários, ecologistas, a todos os que querem trabalhar para ir em frente, para ir ao encontro deste grito da terra.

Zenit: Parece que nunca houve um chamado tão grande na história da Igreja.
Dom Fernando: Esta é uma ideia que nos faz ver a grandeza deste Papa, que se coloca constantemente junto com a tradição viva da Igreja, com a palavra de Deus, com o rico fio condutor de reflexão de seus antecessores. Ou seja, o Santo Padre lança um rio de propostas e o oferece a este mundo.

Especialmente para a conferência que em poucos dias será realizada em Paris, ele pediu em várias instâncias resultados efetivos, e não apenas declarações de princípios, mas ações concretas, juridicamente vinculativas, équas. Porque contrário não se chegará a lugar nenhum.

(30 de Outubro de 2015) © Innovative Media Inc.
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