Em entrevista exclusiva, o presidente
da Conferência Episcopal dos EUA fala do impacto da visita do papa nas
famílias norte-americanas e nos trabalhos sinodais
Roma,
21 de Outubro de 2015
(ZENIT.org)
Deborah Castellano Lubov
Refletindo sobre o Sínodo em andamento, o presidente da Conferência
dos Bispos dos EUA, dom Joseph Kurtz, arcebispo de Louisville, afirmou
que os padres sinodais estão sublinhando que, "sendo nós o corpo de
Cristo, podemos ter grande efeito sobre as famílias, mas também as
famílias, por sua vez, podem ter um grande efeito na vida da Igreja". As
mudanças, no entanto, não chegarão da noite para o dia, acrescentou.
Em entrevista exclusiva a Zenit, o arcebispo expôs a sua visão sobre a
mensagem que as famílias norte-americanas podem ter a necessidade de
ouvir. O prelado, que foi assistente social e depois pároco em Lehigh
Valley, na Pensilvânia, também explicou qual é, na sua opinião, a melhor
abordagem pastoral para acolher os divorciados recasados e as pessoas
com tendências homossexuais sem comprometer a doutrina da Igreja. Sobre a
visita do papa Francisco aos EUA no mês passado, o arcebispo falou do
impacto que, em sua opinião, a viagem está tendo sobre o sínodo. Kurtz
também focou em como as discussões sinodais podem comprometer os
católicos a viver ativamente a sua fé e como as famílias podem ajudar
outras famílias.
ZENIT: Excelência, qual tem sido o efeito da visita do Papa aos Estados Unidos sobre o Sínodo?
Como seria possível não pensar no momento final do Encontro Mundial
das Famílias? A presença do Santo Padre na vigília do sábado, 26 de
setembro, e na missa de encerramento, no domingo, foi uma experiência
tocante não só para mim e para os bispos, mas para todos os fiéis. E eu
acho que até o Santo Padre se comoveu. Em várias ocasiões, o papa chamou
o povo americano de muito caloroso e acolhedor. Eu acho que ele se
comoveu profundamente, e nós, com certeza, também. E que isso nos
garante que o Sínodo sobre a família está muito focado na missão e na
vocação das famílias reais, naquilo que significa permitir que o calor e
o amor de Jesus Cristo entrem na vida das famílias, e no que significa
para nós ser inspirados pelas famílias e pelo seu testemunho. Eu penso
que podemos usar as palavras "heróico" e "quotidiano" na mesma frase. É
heróico, mas de uma forma que faz parte da vida comum de muitos de nós;
uma forma com que a minha ou a sua família podem se identificar.
ZENIT: Quais seriam os principais problemas enfrentados pelas famílias nos Estados Unidos?
Usei a palavra "inspirado", querendo dizer que há pessoas que
precisam receber esperança e ser encorajadas. As pessoas lutam, nós
vivemos uma vida muito agitada. Costumam dizer: "Ah, como estamos
estressados"... São frases que eu ouço quando vou de paróquia em
paróquia. E as pessoas merecem ouvir: "Sabe, você não está agindo mal...
Você ama a sua família, você se empenha em cuidar de quem você ama.
Nenhuma família é perfeita. Continue se esforçando!". E há o chamado a
fazer desta a nossa prioridade, porque nos EUA temos tantas
possibilidades que, às vezes, somos tentados a não pensar em qual é a
coisa mais importante. E eu acho que as pessoas nos Estados Unidos estão
procurando coragem para nos perguntar: "Vocês têm a minha família em
mente?".
ZENIT: A mídia se concentra bastante em questões relacionadas
com os homossexuais e os divorciados recasados, em vez dos princípios
básicos como ir à missa e viver com solidez a oração na família. O
Sínodo está tratando adequadamente destas questões fundamentais, mas
menos controversas?
Eu diria que um dos pilares do Sínodo é a visão da família como um
participante ativo. Vou usar o termo filosófico "sujeito" em vez de
"objeto". Um objeto recebe. Um sujeito dá e compartilha. Esta noção, de
que a família tem uma grande capacidade de influenciar os outros, de
influenciar outras famílias, eu acho que nós conhecemos. Podemos olhar
para a nossa vida passada e dizer: "Ah, eu fiquei muito impressionado e
influenciado pela minha família, por aquela família, pela família dos
vizinhos... ou por alguém que ficou perto de nós quando tivemos um luto
na família". Esses pequenos esforços para aproximar as famílias eu acho
que precisam crescer. Por exemplo: nós temos um pequeno grupo em
Louisville e eu acabo de ver no Twitter que existe um grupo colaborativo
chamado Pax Christi. E há uma jovem que está agora na paróquia e que
disse: "Eu sempre procurei uma paróquia como esta". Há uma grande
intimidade e uma conexão entre a Igreja e a família, e muito foi dito
neste Sínodo sobre isso de modo muito belo, porque a Igreja, como corpo
de Cristo, pode ter um grande efeito nas famílias, mas as famílias
também podem ter um grande efeito na vida da Igreja.
ZENIT: O que o senhor da ideia de uma Igreja mais eficaz em nível local ou regional?
Bom, eu acho que depende de cada caso. Obviamente, se há um problema
substancial de prática pastoral que afeta a nossa fé e a nossa doutrina,
corremos o risco de fragmentar a unidade.
ZENIT: A que o senhor se refere, exatamente?
Estou pensando, por exemplo, na prática da Sagrada Comunhão. É algo
que tem uma base universal. Existem outras situações, como as
mencionadas no motu proprio do Santo Padre, em que há maior poder
atribuído ao bispo diocesano, com a oportunidade de julgar os casos de
anulação que podem ser muito claros. Este pode ser um exemplo do que
acontece no nível local. Estamos trabalhando e acho que isto pode ser
frutífero.
ZENIT: Qual é a sua opinião sobre as abordagens pastorais
para acolher os divorciados recasados e os homossexuais, sem ir contra a
doutrina da Igreja?
Bom, eu acho que, em primeiro lugar, uma das coisas que o meu grupo
falou e que eu citei no meu relatório é encontrar uma solução viável,
uma espécie de vademecum para encontrar indicações, uma espécie de
manual que contenha experiências e histórias, casos e propostas para
refletirmos e dizermos: "Aqui estão algumas coisas úteis para ter em
mente e deixar que a misericórdia e o amor de Jesus fluam na vida das
pessoas". Nada de aleatório; indicações muito concretas. Esta me parece
uma forma viável de começar a coletar modos pastoralmente úteis para
estarmos mais próximos das pessoas. São conhecimentos e experiências das
vítimas que nos ajudam a cuidar de quem sofrem com esse problema. É
comum nos dizerem: "Sim, eu quero ajudar e este é o jeito com que eu
posso ajudar", ou "Obrigado, mas o problema poderia ser resolvido deste
outro modo". Em certo sentido, mesmo quando a Igreja já tem diretrizes
pastorais claras, ela precisa escutar e ver se outros tipos de abordagem
podem funcionar. Eu acho que nós, americanos, por exemplo, queremos
tudo feito rapidamente. Gostaríamos de ter tudo já resolvido. Penso que,
de alguma forma, os resultados do sínodo serão exaustivos. Confio no
Santo Padre e vai ser ele que, pela orientação do Espírito Santo, vai
determinar os próximos passos da Igreja. Neste contexto, eu acho que
todos nós voltaremos para casa com o desejo de iniciar um processo de
avanço pastoral que pode levar anos de trabalho. Veja o que aconteceu
com o Concílio Vaticano II: somente agora, depois de 50 anos,
constatamos os avanços realizados. Em todo caso, vamos seguir em frente,
vamos refletir sobre o que discutimos e descobrir o quanto o Sínodo
ajudou. Esperamos que as novas medidas para a anulação matrimonial sejam
de grande ajuda, especialmente para aqueles que se divorciaram e
contraíram novas núpcias.
ZENIT: O que o senhor acha da interpretação que a mídia está fazendo do Sínodo?
Sendo relator do Sínodo, eu passo a maior parte do tempo lá e não
tive muito tempo para ver os jornais. Mas das perguntas que ouvi na
conferência de imprensa da qual participei, parece que os jornalistas
entenderam. Nós, bispos, estamos procurando destinar da melhor maneira o
nosso serviço ao povo, confiantes de que, juntos, podemos dar os
melhores conselhos ao papa. E, como estamos orando, esperamos ler da
melhor maneira os sinais dos tempos, sendo fiéis aos ensinamentos da
Igreja. Espero que seja esta a mensagem que os jornalistas captem.
ZENIT: Há algo deste Sínodo que Sua Excelência gostaria de divulgar mais?
O Sínodo está progredindo muito bem. Dura três semanas e uma das
melhores decisões foi a de discutir imediatamente em pequenos grupos.
Grupos de 25 pessoas de todos os continentes. É mais fácil nos
conhecermos e interagirmos. Estou aprendendo muito sobre a riqueza das
diversas culturas e espero que a complexidade das experiências assegure e
confirme a validade do Sínodo para a Igreja inteira, não só para a
Igreja ocidental ou para a Europa. O Sínodo está levando em conta as
realidades das várias partes do mundo.
(21 de Outubro de 2015) © Innovative Media Inc.
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