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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

“Da pertinência de pensar o óbvio”

31 DE OUTUBRO
DIA MUNDIAL DA POUPANÇA.

O Dia Mundial da Poupança celebra-se anualmente a 31 de outubro e a ideia surgiu em Outubro de 1924, durante o primeiro Congresso Internacional de Economia, em Milão, com o intuito de alertar os consumidores para a necessidade de disciplinar os gastos de forma a evitar situações de sobre-endividamento.

Longe vão os tempos em que se ousava dizer que, no poupar é que estava o ganho e tão ciosamente se guardavam todos os restos, excessos ou sobras. Aproveitar, poupar e não estragar fazia parte do quotidiano de todas as pessoas, mesmo as mais favorecidas, na certeza de quem só pode poupar quem tem e enquanto tem.
 
As estratégias foram sendo alteradas e com elas a nossa noção de gastos também sofreu fortes cambiantes, mesmo naqueles que não embalam facilmente no sistema de gastar muito para poupar ainda mais…
 
Com muitas contas, acertos e desacertos, um facto é que hoje a situação parece que é ainda mais preocupante do que nós, as pessoas aparentemente bem informadas, julgávamos. Não vou falar em crise, nem em ecologia, nem em escassez de alimentos ou fome, mas tão só, como vai sendo hábito nesta crónica, limitar-me a transcrever algumas passagens da Laudato Si, onde magistralmente e sem rodeios o Papa Francisco põe o dedo na ferida.
 
“Sabemos que se desperdiça aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e «a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa dos pobres». “Entretanto temos um «superdesenvolvimento dissipador e consumista que contrasta, de modo inadmissível, com perduráveis situações de miséria desumanizadora», mas não se criam de forma suficientemente rápida, instituições económicas e programas sociais que permitam aos mais pobres terem regularmente acesso aos recursos básicos.”
 
“As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do Planeta, que o estilo de vida actual – por ser insustentável – só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está a acontecer periodicamente em várias regiões. A atenuação dos efeitos do desequilíbrio atual depende do que fizermos agora, sobretudo se pensarmos na responsabilidade que nos atribuirão aqueles que deverão suportar as piores consequências.”
 
 “Dado que o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos, as pessoas acabam arrastadas pelo turbilhão das compras e gastos supérfluos. (…) “Por isso, não pensemos só na possibilidade de terríveis fenómenos climáticos ou de grandes desastres naturais, mas também nas catástrofes resultantes de crises sociais, porque a obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de os manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca”.
 
“Mas nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. São capazes de se olhar para si mesmos com honestidade, exteriorizar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade”.
 
Por tudo isto e muito mais, caro leitor, impõe-se que paremos para pensar e poupar, em vez de ir a correr gastar. Mas para mim o mais insólito no meio disto tudo é, chegarmos ao ponto de ter de ser um homem de Deus, o Papa Francisco, como outros anteriormente também já o fizeram, a alertar-nos para a pertinência de fazermos contas à nossa vida, à nossa carteira, à premente necessidade de não irmos atrás das conversas da “banha da cobra “e a evitar desbaratar tudo o que faz parte do património universal, o mundo, a nossa casa comum.

José M. Esteves




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