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domingo, 30 de novembro de 2014

Filosofar é Viver

A Filosofia é uma arte de pensar a vida e os outros na busca incessante da verdade sem fim que a todos nos habita.

É uma atitude de reflexão permanente, um constante problematizar o real circundante na ânsia de acrescentar mais coerência e sentido à essência do universo.

A Filosofia é um amor desmedido ao saber, que numa doce e tranquila inquietude de alma, não cessa de buscar a contemplação das coisas eternas, as que desde sempre existiram e nos deram origem.

Sendo da esfera das ideias recusa o nivelamento e aponta para um horizonte inédito e ávido de mais beleza, amor e verdade. A sua meta é o imortal, o para sempre, num futuro que está para além do efémero, da sensível realidade envolvente que nos oprime, sufoca e limita.

Filosofar é partir em viagem à conquista de novas aragens, na certeza de que o conhecimento do bem e do mal depende da nossa capacidade e da dimensão do nosso pensar. Bem reflectir para melhor agir é o segredo que nos convida ao premente exercício duma curiosidade sem fim na certeza de que a vida sem filosofar carece da essência que a define e redime.

Revela-se, então, como outra riqueza, outro perfume, algo mais que não podemos dispensar ou minimizar para que o caminho se possa abrir e do homem brote a excelência do ser.

A premência e o reconhecimento do valor da filosofia na formação das nossas consciências, da sociedade e, em especial, da educação dos jovens levou a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – a instituir o Dia Mundial da Filosofia, que neste ano foi celebrado a 20 de Novembro.

Maria Susana Mexia






Caminho do Advento: Esperar Jesus como Maria



Quanto mais nos deixarmos guiar humildemente pelo Espírito do Senhor, tanto mais superaremos as incompreensões

Homilia do Papa na Catedral Católica do Espírito Santo, Sábado, 29 de Novembro


Istambul, 30 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


Apresentamos a Homilia do Santo Padre pronunciada na Catedral Católica do Espírito Santo, Istambul, sábado, 29 de Novembro de 2014.

No Evangelho, ao homem sedento de salvação, Jesus apresenta-Se como a fonte onde saciar a sede, a rocha da qual o Pai faz brotar rios de água viva para todos os que crêem n'Ele (cf. Jo 7, 38). Com esta profecia, proclamada publicamente em Jerusalém, Jesus prenuncia o dom do Espírito Santo que os seus discípulos hão-de receber após a sua glorificação, isto é, depois da sua morte e ressurreição (cf. v. 39).

O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diversos carismas que enriquecem o povo de Deus e sobretudo cria a unidade entre os crentes: de muitos faz um único corpo, o corpo de Cristo. Toda a vida e missão da Igreja dependem do Espírito Santo; Ele tudo realiza.

A própria profissão de fé, como nos recorda São Paulo na primeira Leitura de hoje, só é possível porque sugerida pelo Espírito Santo: «Ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, senão pelo Espírito Santo» (1 Cor 12, 3b). Quando rezamos, fazemo-lo porque o Espírito Santo suscita em nós a oração no coração. Quando rompemos o círculo do nosso egoísmo, saímos de nós mesmos e nos aproximamos dos outros para encontrá-los, escutá-los, ajudá-los, foi o Espírito de Deus que nos impeliu. Quando descobrimos em nós uma capacidade inusual de perdoar, de amar a quem não gosta de nós, foi o Espírito que Se empossou de nós. Quando deixamos de lado as palavras de conveniência e nos dirigimos aos irmãos com aquela ternura que aquece o coração, fomos de certeza tocados pelo Espírito Santo.

É verdade! O Espírito Santo suscita os diversos carismas na Igreja; à primeira vista, isto parece criar desordem, mas na realidade, sob a sua guia, constitui uma imensa riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidade, que não significa uniformidade. Só o Espírito Santo pode suscitar a diversidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Quando somos nós a querer fazer a diversidade e fechamo-nos nos nossos particularismos e exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós a querer fazer a unidade de acordo com os nossos projectos humanos, acabamos por trazer a uniformidade e a homologação. Se, pelo contrário, nos deixamos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade não se tornam jamais conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade na comunhão da Igreja.

A multidão dos membros e dos carismas tem o seu princípio harmonizador no Espírito de Cristo, que o Pai enviou, e continua a enviar, para realizar a unidade entre os crentes. O Espírito Santo faz a unidade da Igreja: unidade na fé, unidade na caridade, unidade na coesão interior. A Igreja e as Igrejas são chamadas a deixarem-se guiar pelo Espírito Santo, colocando-se numa atitude de abertura, docilidade e obediência. É Ele que faz a harmonia na Igreja. Vem-me à mente uma afirmação muito bela de São Basílio Magno: «Ipse harmonia est – Ele próprio é a harmonia».

Trata-se de uma visão de esperança, mas ao mesmo tempo fadigosa, pois em nós está sempre presente a tentação de opor resistência ao Espírito Santo, porque perturba, porque revolve, faz caminhar, impele a Igreja a avançar. E é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de O regular e domesticar. E a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo também quando afasta a tentação de olhar para si mesma. E nós, cristãos, tornamo-nos autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos conduzir pelo Espírito. Ele é frescor, criatividade, novidade.

As nossas defesas podem manifestar-se com a excessiva fixação nas nossas ideias, nas nossas forças – mas assim resvalamos no pelagianismo – ou então com uma atitude de ambição e vaidade. Estes mecanismos defensivos impedem-nos de compreender verdadeiramente os outros e abrir-nos a um diálogo sincero com eles. Mas a Igreja, nascida do Pentecostes, recebe em herança o fogo do Espírito Santo, que não enche tanto a mente de ideias, como sobretudo faz arder o coração; é investida pelo vento do Espírito, que não transmite um poder, mas habilita para um serviço de amor, uma linguagem que cada um é capaz de compreender.

No nosso caminho de fé e de vida fraterna, quanto mais nos deixarmos guiar humildemente pelo Espírito do Senhor, tanto mais superaremos as incompreensões, as divisões e as controvérsias, tornando-nos sinal credível de unidade e de paz; sinal credível de que o Senhor nosso ressuscitou, está vivo.
Com esta jubilosa certeza, abraço a todos vós, queridos irmãos e irmãs: o Patriarca Siro-Católico, o Presidente da Conferência Episcopal, o Vigário Apostólico D. Pelâtre, os outros Bispos e Exarcas, os presbíteros e os diáconos, as pessoas consagradas e os fiéis leigos, pertencentes às várias comunidades e aos diversos ritos da Igreja Católica. Desejo saudar, com afecto fraterno, o Patriarca de Constantinopla, Sua Santidade Bartolomeu I, o Metropolita Siro-Ortodoxo, o Vigário Patriarcal Arménio Apostólico e os responsáveis das Comunidades Protestantes, que quiseram rezar connosco durante esta celebração. Exprimo-lhes a minha gratidão por este gesto fraterno. Um pensamento afectuoso dirijo ao Patriarca Arménio Apostólico Mesrob II, assegurando-lhe a minha oração.

Irmãos e irmãs, voltemos o nosso pensamento para a Virgem Maria, a Santa Mãe de Deus. Unidos a Ela, que no Cenáculo rezou com os Apóstolos à espera do Pentecostes, peçamos ao Senhor que envie o seu Santo Espírito aos nossos corações e nos torne testemunhas do seu Evangelho em todo o mundo. Amen!

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Intensificar os esforços pela promoção da unidade plena entre todos os cristãos

Assinatura da Declaração Conjunta de Papa Francisco e Patriarca Ecuménico Bartolomeu I


Istambul, 30 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


Ao final da Divina Liturgia, o Santo Padre e o Patriarca Ecuménico dirigiram-se à sacada da sede Patriarcal onde abençoaram os fiéis. Depois, dirigiram-se à Sala do Trono, onde foi lida e assinada a seguinte “Declaração Conjunta”:

Nós, Papa Francisco e Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, expressamos a nossa profunda gratidão a Deus pelo dom deste novo encontro, que nos permite celebrar juntos a Festa de São André, o primeiro-chamado e irmão do apóstolo Pedro, na presença dos membros do Santo Sínodo, do clero e dos fiéis do Patriarcado Ecuménico. A nossa recordação dos Apóstolos, que proclamaram ao mundo a feliz notícia do Evangelho através da sua pregação e do testemunho do martírio, revigora em nós o desejo de continuar a caminhar juntos a fim de superarmos, com amor e confiança, os obstáculos que nos dividem.

Por ocasião do encontro de Maio passado em Jerusalém, no qual recordámos o abraço histórico entre os nossos venerados predecessores Paulo VI e Patriarca Ecuménico Atenágoras, assinámos uma declaração conjunta. Hoje, na feliz ocasião dum novo encontro fraterno, queremos reafirmar, juntos, as nossas intenções e preocupações comuns.

Expressamos a nossa intenção sincera e firme de, em obediência à vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, intensificar os nossos esforços pela promoção da unidade plena entre todos os cristãos, e sobretudo entre católicos e ortodoxos. Além disso, queremos apoiar o diálogo teológico promovido pela Comissão Mista Internacional – instituída, exactamente há trinta e cinco anos, pelo Patriarca Ecuménico Dimitrios e o Papa João Paulo II aqui, no Fanar –, a qual se encontra actualmente a tratar das questões mais difíceis que marcaram a história da nossa divisão e que requerem um estudo cuidadoso e profundo. Por esta finalidade, asseguramos a nossa oração fervorosa como Pastores da Igreja, pedindo aos fiéis que se unam a nós na imploração comum por que «todos sejam um só (...) para que o mundo creia» (Jo 17, 21).

Expressamos a nossa preocupação comum pela situação no Iraque, na Síria e em todo o Médio Oriente. Estamos unidos no desejo de paz e estabilidade e na vontade de promover a resolução dos conflitos através do diálogo e da reconciliação. Ao mesmo tempo que reconhecemos os esforços que já estão a ser feitos para dar assistência à região, apelamos a quantos têm a responsabilidade dos destinos dos povos que intensifiquem o seu empenho a favor das comunidades que sofrem, consentindo a todas, incluindo as cristãs, de permanecerem na sua terra natal. Não podemos resignar-nos com um Médio Oriente sem os cristãos, que ali professaram o nome de Jesus durante dois mil anos. Muitos dos nossos irmãos e irmãs são perseguidos e, com a violência, foram forçados a deixar as suas casas. Até parece que se perdeu o valor da vida humana e que a pessoa humana já não tem importância alguma, podendo ser sacrificada a outros interesses. E, tragicamente, tudo isto se passa perante a indiferença de muitos. Ora, como nos lembra São Paulo, «se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26). Esta é a lei da vida cristã e, neste sentido, podemos dizer que há também um ecumenismo do sofrimento. Tal como o sangue dos mártires foi semente de fortaleza e fecundidade para a Igreja, assim também a partilha dos sofrimentos diários pode ser um instrumento eficaz de unidade. A dramática situação dos cristãos e de todos aqueles que sofrem no Médio Oriente exige não só uma oração constante, mas também uma resposta apropriada por parte da comunidade internacional.

Os grandes desafios, que o mundo enfrenta na situação actual, exigem a solidariedade de todas as pessoas de boa vontade. Por isso, reconhecemos a importância também da promoção dum diálogo construtivo com o Islão, assente no respeito mútuo e na amizade. Inspirados por valores comuns e animados por um genuíno sentimento fraterno, muçulmanos e cristãos são chamados a trabalhar, juntos, por amor da justiça, da paz e do respeito pela dignidade e os direitos de cada pessoa, especialmente nas regiões onde durante séculos viveram em coexistência pacífica e agora, tragicamente, sofrem juntos os horrores da guerra. Além disso, como líderes cristãos, exortamos todos os líderes religiosos a continuarem com maior intensidade o diálogo inter-religioso e fazerem todo o esforço possível para se construir uma cultura de paz e solidariedade entre as pessoas e entre os povos.

Recordamos também todos os povos que sofrem por causa da guerra. Em particular, rezamos pela paz na Ucrânia, país com uma antiga tradição cristã, e apelamos às partes envolvidas no conflito para que procurem o caminho do diálogo e do respeito pelo direito internacional para pôr fim ao conflito e permitir que todos os ucranianos vivam em harmonia.

Os nossos pensamentos voltam-se para todos os fiéis das nossas Igrejas no mundo, que saudamos, confiando-os a Cristo, nosso Salvador, para que possam ser incansáveis testemunhas do amor de Deus. Erguemos a nossa fervorosa oração a Deus, pedindo-Lhe que conceda o dom da paz, no amor e na unidade, a toda a família humana.

«O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares. O Senhor esteja com todos vós» (2 Ts 3,16).

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Já podemos viver sinais eloquentes de uma unidade real

As palavras do Papa Francisco na Divina Liturgia


Istambul, 30 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


No último dia da sua Viagem Apostólica à Turquia o Papa celebrou uma Missa privada na Representação Pontifícia de Istambul; encontrou-se com o Grão-Rabino da Turquia, Isak Haleva. Depois, dirigiu-se à Igreja de São Jorge para participar da “Divina Liturgia  de São João Crisóstomo”, na Festa de Santo André.  Eis as palavras pronunciadas pelo Santo Padre:

Santidade, caríssimo irmão Bartolomeu!

Muitas vezes, como arcebispo de Buenos Aires, participei na Divina Liturgia das comunidades ortodoxas presentes naquela cidade, mas poder encontrar-me hoje nesta Igreja Patriarcal de São Jorge para a celebração do Santo Apóstolo André, o primeiro chamado e irmão de São Pedro, patrono do Patriarcado Ecuménico, é verdadeiramente uma graça singular que o Senhor me dá.

Encontrar-nos, olhar o rosto um do outro, trocar o abraço de paz, rezar um pelo outro são dimensões essenciais do caminho para o restabelecimento da plena comunhão para a qual tendemos. Tudo isto precede e acompanha constantemente a outra dimensão essencial do referido caminho que é o diálogo teológico. Um autêntico diálogo é sempre um encontro entre pessoas com um nome, um rosto, uma história, e não apenas um confronto de ideias.

Isto vale sobretudo para nós, cristãos, porque, para nós, a verdade é a pessoa de Jesus Cristo. O exemplo de Santo André – que, juntamente com outro discípulo, acolheu o convite do Divino Mestre: «Vinde e vereis» e «ficaram com Ele nesse dia» (Jo 1, 39) – mostra-nos claramente que a vida cristã é uma experiência pessoal, um encontro transformador com Aquele que nos ama e nos quer salvar. Também o anúncio cristão se difunde graças a pessoas que, apaixonadas por Cristo, não podem deixar de transmitir a alegria de serem amadas e salvas. Aqui, mais uma vez, é esclarecedor o exemplo do Apóstolo André. Depois de ter seguido Jesus até onde habitava e ter-se demorado com Ele, «encontrou primeiro o seu irmão Simão e disse-lhe: “Encontrámos o Messias!” – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus» (Jo 1, 40-42). Fica, assim, claro que nem sequer o diálogo entre cristãos pode subtrair-se a esta lógica do encontro pessoal.

Por isso, não foi por acaso que o caminho de reconciliação e de paz entre católicos e ortodoxos tenha sido, de alguma forma, inaugurado por um encontro, por um abraço entre os nossos venerados Predecessores, o Patriarca Ecuménico Atenágoras e o Papa Paulo VI, há cinquenta anos, em Jerusalém, um acontecimento que Vossa Santidade e eu quisemos recentemente comemorar encontrando-nos de novo na cidade onde o Senhor Jesus Cristo morreu e ressuscitou.

Por feliz coincidência, esta minha visita acontece poucos dias depois da celebração dos cinquenta anos da promulgação do Decreto do Concílio Vaticano II sobre a busca da unidade de todos os cristãos, Unitatis redintegratio. Trata-se de um documento fundamental com que foi aberta uma nova estrada para o encontro entre os católicos e os irmãos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais.

Em particular, com tal Decreto, a Igreja católica reconhece que as Igrejas ortodoxas «têm verdadeiros sacramentos e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais permanecem ainda unidas connosco por vínculos muito íntimos» (n. 15). Consequentemente, afirma-se que, para guardar fielmente a plenitude da tradição cristã e levar a termo a reconciliação dos cristãos do Oriente e do Ocidente, é de extrema importância conservar e sustentar o riquíssimo património das Igrejas do Oriente, não só no que diz respeito às tradições litúrgicas e espirituais, mas também as disciplinas canónicas, sancionadas pelos santos padres e pelos concílios, que regulam a vida dessas Igrejas (cf. nn. 15-16).

Considero importante reiterar o respeito deste princípio como condição essencial e recíproca para o restabelecimento da plena comunhão, que não significa submissão de um ao outro nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um para manifestar ao mundo inteiro o grande mistério da salvação realizado por Cristo Senhor por meio do Espírito Santo. Quero assegurar a cada um de vós que, para se chegar à suspirada meta da plena unidade, a Igreja católica não tem intenção de impor qualquer exigência, excepto a da profissão da fé comum, e que estamos prontos a buscar juntos, à luz do ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milénio, as modalidades pelas quais garantir a necessária unidade da Igreja nas circunstâncias actuais: a única coisa que a Igreja católica deseja e que eu procuro como Bispo de Roma, «a Igreja que preside na caridade», é a comunhão com as Igrejas ortodoxas. Esta comunhão será sempre fruto do amor «que foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5), amor fraterno que dá expressão ao vínculo espiritual e transcendente que nos une como discípulos do Senhor.

No mundo actual, erguem-se com intensidade vozes que não podemos deixar de ouvir, pedindo às nossas Igrejas que vivam plenamente como discípulos do Senhor Jesus Cristo.

A primeira destas vozes é a dos pobres. No mundo, há demasiadas mulheres e demasiados homens que sofrem por desnutrição grave, pelo desemprego crescente, pela alta percentagem de jovens sem trabalho e pelo aumento da exclusão social, que pode induzir a actividades criminosas e até mesmo ao recrutamento de terroristas. Não podemos ficar indiferentes perante as vozes destes irmãos e irmãs. Estão-nos pedindo não só que lhes demos uma ajuda material, necessária em muitas circunstâncias, mas sobretudo que os ajudemos a defender a sua dignidade de pessoas humanas, de modo que possam reencontrar as energias espirituais para levantarem e voltarem a ser protagonistas das suas histórias. Além disso pedem-nos para lutar, à luz do Evangelho, contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de um trabalho digno, da terra e da casa, a negação dos direitos sociais e laborais. Como cristãos, somos chamados a vencer, juntos, a globalização da indiferença – que, hoje, parece deter a supremacia – e a construir uma nova civilização do amor e da solidariedade.

Uma segunda voz que brada forte é a das vítimas dos conflitos em muitas partes do mundo. Esta voz, ouvimo-la ressoar muito bem a partir daqui, porque algumas nações vizinhas estão marcadas por uma guerra atroz e desumana. Penso com profunda amargura nas muitas vítimas do desumano e insensato atentado que nestes dias atingiu os fiéis muçulmanos que rezavam na mesquita de kano, na Nigéria. Turvar a paz de um povo, cometer ou consentir qualquer género de violência, especialmente contra pessoas frágeis e indefesas, é um pecado gravíssimo contra Deus, porque significa não respeitar a imagem de Deus que está no homem. A voz das vítimas dos conflitos impele-nos a avançar apressadamente no caminho de reconciliação e comunhão entre católicos e ortodoxos. Aliás, como podemos anunciar com credibilidade o Evangelho de paz que vem de Cristo, se entre nós continuam a existir rivalidades e contendas? (cf. Paulo VI, Exort. ap. Evangelium nuntiandi, 77).

Uma terceira voz que nos interpela é a dos jovens. Hoje, infelizmente, há tantos jovens que vivem sem esperança, dominados pelo desânimo e a resignação. Além disso, influenciados pela cultura dominante, muitos jovens buscam a alegria apenas na posse de bens materiais e na satisfação das emoções do momento. As novas gerações não poderão jamais adquirir a verdadeira sabedoria e manter viva a esperança, se nós não formos capazes de valorizar e transmitir o autêntico humanismo, que brota do Evangelho e da experiência milenar da Igreja. São precisamente os jovens – penso, por exemplo, nas multidões de jovens ortodoxos, católicos e protestantes que se reúnem nos encontros internacionais organizados pela comunidade de Taizé – são eles que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão. E isto, não porque eles ignorem o significado das diferenças que ainda nos separam, mas porque sabem ver mais além, são capazes de captar o essencial que já nos une.

Amado irmão, caríssimo irmão, estamos já a caminho, a caminho para a plena comunhão e já podemos viver sinais eloquentes de uma unidade real, embora ainda parcial. Isso nos conforta e sustenta na prossecução deste caminho. Temos a certeza de que, ao longo desta estrada, somos apoiados pela intercessão do Apóstolo André e do seu irmão Pedro, considerados pela tradição os fundadores das Igrejas de Constantinopla e de Roma. Imploramos de Deus o grande dom da unidade plena e a capacidade de o acolher nas nossas vidas. E não nos esqueçamos jamais de rezar uns pelos outros.

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O vazio espiritual que sentiu em França levou-o a mudar de vida pelos seus filhos e voltar a Deus







sábado, 29 de novembro de 2014

O que o Papa espera do Ano da Vida Consagrada?

Em uma carta para o mundo religioso, Francisco indica metas e expectativas para este "ano de graça" que começará no dia 30 de Novembro e irá até o 2 de Fevereiro de 2016


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org) Salvatore Cernuzio


Escreve como Sucessor de Pedro Papa Bergoglio a todos os religiosos e religiosas do mundo, por ocasião do Ano da Vida Consagrada que começará no próximo dia 30 de Novembro, e terminará no dia 2 de Fevereiro de 2016. Mas se dirige a eles também como “irmão”, “consagrado a Deus como vós”, na carta do 21 de Novembro publicada hoje.

Uma carta longa e articulada, na qual o Papa dá algumas ideias e indicações para viver este Ano, por ocasião do 50º aniversário da Constituição dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja e do Decreto Perfectae Caritatis. Nesse Francisco também indica os objetivos que tal iniciativa se propõe, os mesmos – escreve – já indicados por são João Paulo II à Igreja do terceiro milénio na Exortação pós-sinodal Vita Consacrata.

Objectivos
Para viver plenamente este Ano, afirma Bergoglio, é preciso olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar com esperança o futuro.

O passado não para "fazer arqueologia ou cultivar a nostalgia inútil", mas porque lembrar do próprio começo “e uma forma de manter viva a identidade” e fortalecer a unidade da família. E é um modo também para descobrir “incoerências, fruto das debilidades humanas, às vezes também a obrigação de alguns aspectos essenciais do carisma”, conscientes, porém, que "tudo é instrutivo e junto se torna apelo à conversão”.

Observar o presente é útil para compreender se o Evangelho é verdadeiramente o vade-mécum para a vida e as escolhas de cada dia, explica o Santo Padre. Porque "não é suficiente para lê-lo (ainda que a leitura e o estudo são de extrema importância), não basta meditá-lo (e o fazemos com alegria a cada dia). Jesus nos pede para vive-lo, para viver as suas palavras”. Além do mais, continua o pontífice, “o Ano da vida consagrada nos questiona sobre a fidelidade à missão que nos foi confiada", para debater se os ministérios e obras realizadas até agora “respondem ao que o Espírito pediu aos nossos Fundadores” e “são adequadas para conseguir as finalidades na sociedade e na Igreja de hoje”. “Viver o presente com paixão – continua ainda Francisco – significa se tornar especialista de comunhão’”. E “em uma sociedade do conflito, da difícil convivência entre culturas diferentes, do esmagamento dos mais fracos, das desigualdades”, é fundamental mostrar “um modelo concreto de comunidade” que vive em “relações fraternas” segundo “a mística do encontro”.
Falando do futuro, o Papa enumera as dificuldades enfrentadas pela vida consagrada: a diminuição das vocações e o envelhecimento, os problemas econômicos dada as crises financeiras mundiais, a internacionalidade e a globalização, o relativismo, a marginalização, a 'irrelevância social... No entanto, diz, "nestas incertezas é realizada a nossa esperança". Uma esperança que "não se baseia em números ou em obras, mas naquele em quem depositamos nossa confiança e para quem "nada é impossível". Portanto, recomenda o Pontífice, "não ceder à tentação dos números e da eficiência, muito menos naquela de confiar nas próprias forças”. O chamado vai especialmente aos jovens que são o “presente”, porque oferecem “uma contribuição determinante com o frescor e a generosidade” das suas escolhas, e ao mesmo tempo o futuro “porque em breve – destaca o Papa – sereis chamados a tomar em vossas mãos a liderança da animação, da formação, do serviço e da missão".

Expectativas
Na segunda parte da carta, o bispo de Roma começa com uma pergunta: "O que eu espero, em particular, deste ano de graça da Vida consagrada?". Em primeiro lugar, escreve, "que seja sempre verdade que onde há religiosos haja alegria”. Isso significa que "somos chamados a mostrar que Deus é capaz de encher nossos corações e nos fazer felizes, sem necessidade de procurar em outro lugar a nossa felicidade". E que tal alegria se alimenta com "a autêntica fraternidade vivida em nossas comunidades” e com o “dom total no serviço da Igreja, das famílias, dos jovens, dos anciãos, dos pobres”.

"Que entre nós não haja rostos tristes, pessoas infelizes e insatisfeitas", recomenda Bergoglio. Claro - admite - "também nós, como todos os outros homens e mulheres, sentimos dificuldades, noites do espírito, decepções, doenças, perda das forças devido à idade avançada". Precisamente nesta ocasiões, porém, é necessário encontrar a "perfeita alegria", de modo que, "em uma sociedade que ostenta o culto da eficiência, do salutismo do sucesso, possa-se concretizar as palavras de São Paulo: “Quando sou fraco , então é que sou forte".

Não nos esqueçamos, porém, que “A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atracção", lembra Francisco, citando a Evangelii gaudium. Portanto, "a vida consagrada não cresce se organizamos belas campanhas vocacionais, mas se os jovens e as jovens que nos encontram se sentem atraídos por nós, se nos vêem homens e mulheres felizes!”.

Com esta mesma alegria os consagrados são chamados a “acordar o mundo” e a serem “profetas”. Nesta perspectiva, mosteiros,  comunidades, centros de espiritualidade, cidades, escolas, hospitais, casas-família, tornaram-se mais e mais "o fermento para uma sociedade inspirada no Evangelho”.

Mais uma vez, então, um apelo à “comunhão” que se exercita principalmente dentro das respectivas comunidades do Instituto. Aqui – destaca com vigor o Pontífice – atitudes como críticas, fofocas, invejas, ciúmes, antagonismos "não têm o direito morar". Enquanto têm direito à residência a acolhida e atenção recíprocas, a comunhão dos bens materiais e espirituais, a correcção fraterna e o respeito pelas pessoas mais fracas”.

Consolidada no próprio Instituto, esta comunhão em seguida, se abre ao exterior, tendo em conta principalmente a relação entre pessoas de diferentes culturas e daquela com os membros dos diferentes institutos. “Não poderia ser este Ano a ocasião para sair com maior coragem dos limites do próprio instituto para elaborar juntos, a nível local e global, projectos comuns de formação, de evangelização, de intervenções sociais?", sugere Francisco. Dessa forma se preservaria “da doença da auto-referencialidade”.

O convite, então, é aquele tipicamente 'bergogliano': "Sair de si mesmos para ir às periferias existenciais”. Porque “existe toda uma humanidade que espera”: pessoas “que perderam toda esperança, famílias em dificuldade, crianças abandonadas, jovens aos quais se impede todo futuro, enfermos e idosos abandonados, ricos saciados de bens e com um vazio no coração, homens e mulheres em busca do sentido da vida, sedentos do divino...”.

Ante tal desconforto generalizado não se pode deixar “asfixiar pelas pequenas encrencas de casa” ou pelos problemas pessoais. “Estes – assegura o Papa – se resolverão se saírem para ajudar os outros a resolverem os seus problemas e a anunciar a Boa Nova. Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor amando”.

Tudo isso deve ser traduzido em acções concretas "de acolhimento de refugiados, de proximidade com os pobres, de criatividade, na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração". E mesmo no “emagrecimento das estruturas” e na “reutilização das grandes casas em favor das obras mais adequadas às actuais exigências da evangelização e da caridade”.

Os horizontes do Ano da Vida Consagrada
Indo além dos limites dos Institutos de Vida Consagrada, o Papa, na terceira parte da carta, se dirige aos leigos que, com os consagrados “compartilham ideais, espírito, missão”. A eles o incentivo de vier este Ano “como uma graça que pode tornar-vos mais conscientes do dom recebido”, que deve ser celebrado com toda a “família”. “Em algumas ocasiões – escreve o Santo Padre – quando os consagrados de vários institutos se reunirem, tentem participar também vocês, como expressão do único dom de Deus”, de modo que “se enriqueçam e se apoiem reciprocamente”.

O Sucessor de Pedro, em seguida, fala a todo o povo cristão para que “tome sempre mais consciência do dom que é a presença de tantos consagrados e consagradas, herdeiros de grandes santos que fazem a história do cristianismo”: “O que seria da Igreja sem São Bento e São Basílio, sem Santo Agostinho e São Bernardo, sem São Francisco e Santo Domingos, sem Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa D’Avila, sem Santa Angela Merici e São Vicente de Paula? O elenco seria quase infinito, até São João Bosco, à beata Teresa de Calcutá”.

Este ano deve ser, portanto, uma oportunidade para expressar gratidão pelos "dons recebidos e ainda a receber" graças à santidade dos Fundadores, e para reunir-nos em torno das pessoas consagradas, “para alegrar-nos com elas, compartilhar as suas dificuldades, colaborar com elas”. “Mostrem-lhes o afeto e o calor de todo o povo cristão”, recomenda o Papa.

Destaca também a ligação entre família e vida consagrada, ambas “vocações portadoras de riqueza e graça para todos”, espaços de “humanização” e “evangelização”. Com humildade, se dirige aos membros de fraternidades e comunidades pertencentes à Igrejas de tradições diversas daquela católica, que incentiva calorosamente a participar das iniciativas propostas pela Congregação para os Institutos de vida consagrada para que “cresça o conhecimento mútuo, a estima, a colaboração recíproca, de modo que o ecumenismo da vida consagrada seja de ajuda ao amplo caminho rumo à unidade entre todas as Igrejas”.

Duas palavras, por fim, aos irmãos no episcopado: "Que este ano seja uma oportunidade de acolher cordialmente e com alegria a vida consagrada como um capital espiritual que contribua ao bem de todo o corpo de Cristo e não só das famílias religiosas”, escreve o Santo Padre.

Conclui, portanto, exortando os pastores das Igrejas particulares "a uma solicitude especial" na promoção dos diversos carismas, tanto aqueles históricos quanto os novos, “apoiando, animando, ajudando no discernimento, aproximando-os com ternura e amor às situações de sofrimento e de debilidade nas quais possam encontrar-se alguns consagrados”. Tudo para que “a beleza e a santidade” da vida consagrada possam resplandecer em toda a Igreja.

Nigéria: mulheres-bomba vestem-se de freiras ou mulheres grávidas

Ontem, um novo ataque causou 40 mortes na cidade de Yola, enquanto parece que o grupo terrorista usa novos métodos de disfarce


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


Bem no dia em que um novo atentado derramou sangue na Nigéria, especificamente no norte da cidade de Yola, onde uma bomba em uma estação de ónibus matou 40 pessoas, surgem dados alarmantes sobre os métodos de disfarce dos terroristas do Boko Haram.

"Há alguns meses atrás em Kano (no norte do País) a polícia descobriu alfaiates que estavam costurando túnicas de freiras destinadas aos terroristas que deveriam misturar-se à multidão de fiéis para explodir”, revela à agência vaticana Fides o padre Patrick Tor Alumuku, director das Comunicações Sociais da Arquidiocese de Abuja, capital federal da Nigéria.

Pelo que transparece, além disso, "no mês passado, 4 ou 5 atentados" na Nigéria supostamente teriam sido cometidos por mulheres suicidas. No passado dia 25 de Novembro, duas mulheres-bomba causaram 70 mortes em um mercado na cidade de Maiduguri.

"O alarme pelo crescente uso de terroristas mulheres se demonstra pelo fato de que a polícia nigeriana recomendou diminuir os momentos de exposição do Santíssimo nas Igrejas de Abuja no domingo, 23 de Novembro, festa de Cristo Rei, e reduzir a procissão”, explica o padre Patrick. O mesmo sacerdote revela também que “a política nos aconselhou a afastar as mulheres desconhecidas que pareçam grávidas porque as terroristas escondem as bombas nas falsas barrigas".

Paquistão: nasce a primeira rádio católica na Internet

Good News radio será um instrumento para evangelizar


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


No Paquistão o anúncio do Evangelho corre no éter. Nasce a “Good News radio”, a primeira estação de rádio católica do país, lançada por Dom Joseph Coutss, arcebispo de Karachi, que é também Presidente da Conferência Episcopal do Paquistão. Os programas terão a colaboração de padres, religiosos e leigos. Um grupo de 7 voluntários garantirá seis horas de conteúdo original, ao vivo, diariamente.

A inauguração se teve na escola superior de São Patrício, em Karachi, em 22 de Novembro, diante de mais de mil fiéis, conforme notícia publicada pela Agência Fides.  A programação explicará o significado da Igreja, comentando questões sociais, eventos globais e de actualidade, propondo também teologia e apologética.

Padre Arthur Charles, que idealizou o projecto, recorda à Fides que “a media pode ser usada para evangelizar e que o rádio será um instrumento para enriquecer a vida dos ouvintes em nosso país”. O sacerdote pensa que, “com o advento da Internet de banda larga”, o rádio “oferece oportunidades que não se encontram em outros lugares, batendo inclusive o rádio tradicional como plataforma e possibilidade de audiência”, explicou.

Segundo Pe. Charles, “desta forma, o Senhor se serve de nós para seu Reino. Se não podemos ir a lugares difíceis ou remotos e difundir a mensagem de Jesus, com o rádio e outras medias levamos o Evangelho a todo lugar”. E acrescenta ainda que “é como lançar uma semente”.

A Rússia sai em defesa dos cristãos do Oriente Médio

Moscovo está preparando um documento a ser apresentado à ONU para pedir medidas internacionais de protecção para as comunidades cristãs do Oriente Médio e Norte da África


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


A Rússia quer implementar medidas concretas para intervir em defesa dos cristãos perseguidos no Oriente Médio. A notícia foi dada pelo diplomata russo Alexander Yakovenko, Embaixador da Federação Russa para o Reino Unido, agora vice-ministro das relações exteriores russa.

O diplomata revelou que o seu país está considerando "a oportunidade de apresentar ao Conselho para os Direitos Humanos das Nações Unidas – organismo das Nações Unidas com sede em Genebra – uma resolução para instar medidas internacionais de protecção para as comunidades cristãs do Oriente Médio e do Norte da África”, e “especialistas russos estão já trabalhando no texto do documento”.

Uma proposta concreta será enviada da Rússia já nos dias 4 e 5 de Dezembro, em Basileia, durante o Conselho Ministerial da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE). A representação russa vai exigir estudar medidas para apoiar e ajudar os cristãos no Oriente Médio em estado de crise e assédio, solicitando para tal efeito um envolvimento maior dos Estados Europeus.

Os bispos da Europa contra o tráfico de pessoas, moderna forma de escravidão

Reunidos em Bruxelas, Comece e Kek apresentam propostas para as Comissões Europeias para combater esta actividade criminosa


Bruxelas, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


Mais de 800 mil mulheres, homens e crianças são vítimas do tráfico na União Europeia. É a informação dramática emersa do seminário de diálogo com a Comissão Europeia organizado pela COMECE (Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia) e da Comissão "Igreja e Sociedade" da Kek (Conferência das Igrejas Europeias), realizado em Bruxelas.

Quase 60% das vítimas do tráfico vêm de países da União Europeia -  destaca-se no comunicado final do encontro - por isso, é urgente "intensificar a cooperação entre a sociedade civil e as organizações da Igreja que trabalham com vítimas, a nível local."

Ecoando as palavras do Papa Francisco, os bispos europeus reiteraram que "o tráfico de pessoas é uma forma moderna de escravidão, uma actividade criminosa e um negócio mundial que gera lucro". Esse fenómeno há numerosas, amargas, facetas: a exploração sexual, o trabalho forçado, a maternidade "de aluguel" forçada, e a adopção ilegal, sendo 16% das vítimas crianças, muitas vezes vendidas por 40.000 euros.

Assim, os participantes do seminário lançaram um apelo para recolher dados mais confiáveis e abrangentes sobre o crime de tráfico, a fim de permitir que as organizações políticas e religiosas respondam melhor às necessidades das vítimas. "As vítimas do tráfico de seres humanos – lê-se do comunicado – têm, primeiramente, necessidade de protecção e assistência através de uma maior implementação da legislação existente". Estas "não devem ser punidas por actos cometidos quando estão na posição de vítimas" e seria necessário "um apoio financeiro continuo das organizações da sociedade civil e da Igreja" que trabalham neste âmbito.

Diante da "complexidade e da gravidade" da situação e olhando para as "novas formas que o tráfico assume hoje", a COMECE e a Kek decidiram formular, nas próximas semanas, uma série de propostas e recomendações para as Comissões Europeias.

Francisco pede para a Turquia colaborar para a paz

Em seu discurso para as autoridades políticas, o Papa espera que de Ancara possa começar um caminho virtuoso para reverter a conflitualidade que envolve todo o Oriente Médio


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio


Uma terra rica de "belezas naturais e de história”, cheia de "vestígios de civilizações antigas e ponte natural entre dois continentes e entre as diferentes expressões culturais", mas especialmente "cara a todo cristão por ter sido o berço de São Paulo”. Com estas palavras, o Papa Francisco começou o seu discurso às autoridades políticas turcas, no Palácio Presidencial de Ancara.

A Turquia, disse o Papa, é a terra que tem "hospedado os primeiros sete Concílios da Igreja" e que, em Éfeso, guarda a "casa de Maria", ou seja, o lugar onde “a Mãe de Jesus viveu por alguns anos, meta da devoção de tantos peregrinos de todas as partes do mundo, não só cristãos, mas também muçulmanos”.

A grandeza da nação turca, no entanto, não deve ser procurada “apenas em seu passado”, mas pode ser encontrada também “na vitalidade do seu presente, na laboriosidade e generosidade do seu povo, no seu papel concerto das nações".
Na linha do "diálogo de amizade, de estima e de respeito" empreendido pelos seus antecessores – o beato Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e São João XXIII, que antes de se tornar papa foi delegado apostólico na Turquia – Francisco salientou a necessidade de que se continue nesta linha de “discernimento” das “muitas coisas que nos unem” e, ao mesmo tempo, “de considerar com um espírito sábio e sereno as diferenças, para poder também aprender delas”.

Objectivo comum deverá ser a construção de "uma paz sólida, baseada no respeito dos fundamentais direitos e obrigações relacionadas com a dignidade do homem". Muçulmanos, judeus e cristãos, acrescentou, devem gozar de "direitos iguais" e respeitar os "mesmos deveres".

Através da liberdade religiosa e de expressão, será possível chegar àquela paz que “o Oriente Médio, a Europa, o mundo esperam florescimento”, destacou o pontífice.

"Não podemos nos resignar com a continuação dos conflitos - continuou - como se não fosse possível mudar a situação para melhor! Com a ajuda de Deus, podemos e devemos sempre renovar a coragem pela paz!".

Dirigindo-se ao presidente da República turca, o Papa sublinhou a necessidade urgente de "banir todas as formas de fundamentalismo e de terrorismo, que gravemente humilham a dignidade de todas as pessoas e instrumentaliza a religião".

Ao "fanatismo", ao "fundamentalismo" e às "fobias irracionais" deve-se contrapor a “solidariedade de todos os crentes” tendo como pilares “o respeito pela vida humana, pela liberdade religiosa, que é liberdade do culto e liberdade de viver de acordo com a ética religiosa, o esforço para garantir a todos o necessário para uma vida digna, e o cuidado do ambiente natural”.

A necessidade de "virar o jogo" dos conflitos diz respeito a todo o Oriente Médio, especialmente a Síria e o Iraque”, onde “a violência terrorista continua inabalável", com a" violação das mais básicas leis humanitárias contra prisioneiros e inteiros grupos étnicos” e com as “sérias perseguições aos grupos minoritários", particularmente “cristãos e yazidis”.

O Santo Padre sublinhou novamente a generosidade da Turquia ao acolher "um grande número de refugiados", em frente do qual "a comunidade internacional tem a obrigação moral de ajudar".

Reiterando que "é permitido parar o agressor injusto, mas sempre em conformidade com o direito internacional", Francisco também mencionou que "não se pode confiar a resolução do problema só na resposta militar".

Por causa de sua "história" e de sua "localização geográfica", a Turquia tem uma "grande responsabilidade", portanto, "as suas escolhas e o seu exemplo tem um significado especial e pode ser de grande ajuda no sentido de facilitar um encontro de civilização e no identificar formas práticas de paz e de progresso genuíno", concluiu o Papa.

A Turquia é exemplo de ajuda aos refugiados

Pouco depois de chegar em Ankara, o Papa Francisco visitou o Mausoléu de Ataturk


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


Papa Francisco chegou em solo turco. O avião que transportava o Santo Padre desembarcou no aeroporto internacional de Ancara Esemboğa ao meio-dia.

No final do voo, Francisco agradeceu aos jornalistas e informou-lhes do encontro para uma conferência de imprensa durante o voo de retorno. "O trabalho de vocês é de apoio, ajuda e também um serviço ao mundo, para fazer conhecer esta actividade religiosa e humanitária", disse ele aos repórteres.

"A Turquia neste momento - acrescentou - é uma testemunha e também aquela que oferece ajuda a muitos refugiados provenientes de zonas de conflito."

O Papa foi recebido por um Ministro delegado pelo Governo, por algumas autoridades civis e militares e pelo Núncio Apostólico na Turquia, Dom Antonio Lucibello.

Depois, o Santo Padre foi de carro para o Mausoléu de Atatürk, onde depositou uma coroa de flores e permaneceu um instante em silêncio.

Na sala Tower of National Pact do Museu, o Papa assinou o Livro de Ouro e escreveu a seguinte dedicatória: "Quero expressar meus sinceros votos para que a Turquia, ponte natural entre dois continentes, seja não apenas uma encruzilhada de caminhos, mas também um lugar de encontro, de diálogo e serena convivência entre os homens e mulheres de boa vontade qualquer cultura, etnia e religião."

Após a visita ao Mausoléu, o Papa Francisco seguiu de carro para o Palácio Presidencial para uma reunião com autoridades.


Quanto tempo deverá sofrer ainda o Médio Oriente por causa da falta de paz?

Discurso do Papa no encontro com autoridades na Turquia


Roma, 28 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


DISCURSO
 
Viagem do Papa Francisco à Turquia
Encontro com as Autoridades
Palácio Presidencial de Ancara
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2014

Santa Sé
Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-Ministro,
Ilustres Autoridades
Senhoras e senhores!

Sinto-me feliz por visitar o vosso país, rico de belezas naturais e de história, repleto de vestígios de civilizações antigas e ponte natural entre dois continentes e entre diferentes expressões culturais. Esta terra é amada por todo o cristão por ser o berço de São Paulo, que fundou aqui diversas comunidades cristãs; por ter acolhido os primeiros sete Concílios da Igreja e pela presença, perto de Éfeso, daquela que uma veneranda tradição considera a «casa de Maria», o lugar onde a Mãe de Jesus viveu durante alguns anos, meta da devoção de muitos peregrinos vindos de todos os cantos do mundo, não só cristãos, mas também muçulmanos.

Todavia as razões da consideração e apreço pela Turquia não se acham unicamente no seu passado, nos seus monumentos antigos, mas encontram-se na vitalidade do seu presente, na laboriosidade e generosidade do seu povo, no seu papel no concerto das nações.

Para mim é motivo de alegria a oportunidade que me é dada de prosseguir convosco um diálogo de amizade, estima e respeito, na senda traçada pelos meus antecessores, o Beato Paulo VI, São João Paulo II e Bento XVI; diálogo esse, preparado e favorecido por sua vez pela acção do então Delegado Apostólico Mons. Ângelo José Roncalli, mais tarde São João XXIII, e pelo Concílio Vaticano II.

Precisamos de um diálogo que aprofunde o conhecimento e valorize, com discernimento, as inúmeras coisas que temos em comum e que nos permita, ao mesmo tempo, considerar com ânimo sábio e sereno as diferenças para podermos também aprender com elas.

É preciso levar por diante, com paciência, o compromisso de construir uma paz sólida, assente no respeito pelos direitos fundamentais e deveres ligados com a dignidade do homem. Por esta estrada, é possível superar os preconceitos e falsos temores, deixando, ao contrário, espaço à estima, ao encontro, ao desenvolvimento das melhores energias em proveito de todos.

Para isso, é fundamental que os cidadãos muçulmanos, judeus e cristãos – tanto nas disposições legais, como na sua efectiva actuação – gozem dos mesmos direitos e respeitem os mesmos deveres. Assim, hão-de mais facilmente reconhecer-se como irmãos e companheiros de viagem, afastando cada vez mais as incompreensões e favorecendo a colaboração e o acordo. A liberdade religiosa e a liberdade de expressão, eficazmente garantidas a todos, estimularão o florescimento da amizade, tornando-se um sinal eloquente de paz.

O Médio Oriente, a Europa, o mundo aguardam este florescimento. O Médio Oriente, de modo particular, é há demasiado tempo teatro de guerras fratricidas, que parecem nascer uma da outra, como se a única resposta possível à guerra e à violência tivesse de ser sempre uma nova guerra e outra violência.

Quanto tempo deverá sofrer ainda o Médio Oriente por causa da falta de paz? Não podemos resignar-nos com a continuação dos conflitos, como se não fosse possível mudar a situação para melhor! Com a ajuda de Deus, podemos e devemos sempre renovar a coragem da paz! Esta atitude leva a lançar mão, com lealdade, paciência e determinação, de todos os meios da negociação e, assim, alcançar objectivos concretos de paz e de desenvolvimento sustentável.

Senhor Presidente, uma contribuição importante para se alcançar meta tão elevada e urgente pode vir do diálogo inter-religioso e intercultural, a fim de banir toda a forma de fundamentalismo e de terrorismo, que humilha gravemente a dignidade de todos os seres humanos e instrumentaliza a religião.
Ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais que incentivam incompreensões e discriminações, é preciso contrapor a solidariedade de todos os crentes – que tenha como pilares o respeito pela vida humana, pela liberdade religiosa, que é liberdade do culto e liberdade de viver segundo a ética religiosa –, o esforço por garantir a todos o necessário para uma vida digna, e o cuidado do meio ambiente. Têm necessidade disto, com particular urgência, os povos e os Estados do Médio Oriente, para poderem finalmente «inverter a tendência» e levar por diante um processo de pacificação bem-sucedido, mediante a rejeição da guerra e da violência e a busca do diálogo, do direito, da justiça.

Com efeito, nos dias de hoje, infelizmente somos ainda testemunhas de graves conflitos. Na Síria e de modo particular no Iraque, a violência terrorista não dá sinais de diminuir. Regista-se a violação das normas humanitárias mais elementares contra prisioneiros e grupos étnicos inteiros; verificaram-se, e continuam ainda, graves perseguições contra grupos minoritários, especialmente – mas não só – cristãos e yazidis: centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas e a sua pátria, para poderem salvar a sua vida e manter-se fiéis ao próprio credo.

A Turquia, acolhendo generosamente um grande número de refugiados, é directamente afectada pelos efeitos desta situação dramática nas suas fronteiras, e a comunidade internacional tem a obrigação moral de a ajudar a cuidar dos refugiados. Juntamente com a assistência humanitária necessária, não se pode permanecer indiferente àquilo que provocou estas tragédias. Enquanto reitero que é lícito deter o injusto agressor– sempre porém no respeito pelo direito internacional – quero lembrar também que não se pode confiar a resolução do problema somente à resposta militar.

É preciso um forte compromisso comum, assente na confiança recíproca, que torne possível uma paz duradoura e permita destinar finalmente os recursos, não aos armamentos, mas às verdadeiras lutas dignas do homem: contra a fome e as doenças, pelo desenvolvimento sustentável e a defesa da criação, em socorro de tantas formas de pobreza e marginalização que não faltam sequer no mundo moderno.

A Turquia, pela sua história, em virtude da sua posição geográfica e devido à importância de que se reveste na região, tem uma grande responsabilidade: as suas decisões e o seu exemplo possuem uma valência especial e podem ser de significativa ajuda no sentido de favorecer um encontro de civilização e identificar as vias praticáveis de paz e de autêntico progresso.

Que o Altíssimo abençoe e proteja a Turquia e a ajude a ser uma válida e convicta artífice de paz!

(Fonte: Canção Nova)