O vigário do Patriarcado Latino de Jerusalém, David M. Neuhaus explicou a ZENIT que é necessário propor uma nova linguagem criativa e espalhá-la especialmente entre os jovens
Roma, 16 de Julho de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
A situação é dramática na Terra Santa. A trégua proposta
pelo Egipto nesta terça-feira não foi respeitada. Hamas quebrou o pacto
com seus mísseis e mais tarde Israel recomeçou a bombardear. Nesta mesma
terça-feira, ZENIT entrou em contacto com o vigário do Patriarcado
Latino de Jerusalém, David M. Neuhaus, e lhe perguntou sobre a situação
que existe e que saída pode se ter.
O padre jesuíta disse que o documento recente da Comissão Justiça e
Paz da Assembleia de Católicos Ordinários da Terra Santa focou muito
bem a temática ao recordar que "Israel e Palestina fazem eco dos gritos
das mães e pais, irmãos e irmãs, dos entes queridos das vítimas dos
jovens vítimas da recente onda de violência que assola esta terra”. Na
verdade, acrescentou o responsável pelo vicariato de Israel para os
católicos que falam a língua hebraica, todos clamam ao céu, pedindo ao
Senhor para curar esta terra ferida e que sangra, que tem testemunhado
uma explosão de violência.
"Por que somos incapazes de sair desses longos ciclos de violência?",
foi o que se perguntou o padre Neuhaus. E reconheceu que, como indicado
no documento da Comissão Justiça e Paz, há um problema fundamental: uma
linguagem de violência que dominou completamente o discurso político em
Israel e Palestina: "Temos a esperança de acabar com o ciclo de
violência que destrói pela linguagem irresponsável de punição colectiva e
a vingança que gera violência e sufoca o surgimento de qualquer
alternativa".
O padre jesuíta, nascido em uma família judia, e que aos 15 anos
decidiu converter-se à fé católica, o que conseguiu aos 25, conforme
acordado com os seus pais, lembrou que "a origem da violência está na
rejeição do outro que perpetua a injustiça e disse que essa rejeição
ganha força na contínua ocupação israelita de terras palestinianas",
porque, como diz o documento de Justiça e Paz: 'novos assentamentos são
construídos, as terras são confiscadas, as famílias são separadas, os
entes queridos são presos e até mesmo assassinados. A liderança de
ocupação parece acreditar que a ocupação pode ser vitoriosa com o
esmagamento da vontade do povo pela liberdade e dignidade ".
E lembrou que dentro da sociedade palestiniana, há aqueles que se
aproveitam desta situação desesperadora, promovendo uma ideologia de
vingança e raiva: “a linguagem violenta é alimentada pelas atitudes e
expressões daqueles que perderam toda esperança de chegar a uma solução
justa no conflito por meio de negociações".
Então, disse o vigário, em tal situação é extremamente difícil
humaniza-los superando as várias paredes de inimizades e, assim,
começarem um processo de diálogo. A maneira de quebrar o círculo vicioso
da violência é encontrar uma nova linguagem para descrever o mundo em
que vivemos. A nossa linguagem actual de violência se baseia nas
categorias de "auto-defesa" e "inimigo".
"O desafio - continuou o coordenador da Pastoral dos Migrantes – é
propor uma nova linguagem criativa e difundi-la especialmente entre os
jovens". E recordou que o Papa Francisco na oração pela paz no Vaticano,
no dia 08 de Junho de 2014, gritou: "Ouvimos um chamado, e temos que
responder: o chamado a romper com o espiral de ódio e violência; de
dobrá-lo com uma só palavra: ‘irmão’. Mas, para dizer essa palavra,
todos temos devemos olhar para o céu, e reconhecer-nos filhos de um
mesmo Pai”.
O responsável do vicariato de Israel para os católicos de língua
hebraica, disse que "a Igreja na Terra Santa é uma parte muito pequena
da realidade. Os cristãos são apenas cerca de 2 por cento da população.
No entanto, Deus plantou a semente da fé em todos os lados das paredes
de inimizade. Somos palestinianos ou israelitas, árabes ou de origem
judaica, parece-me que o Senhor nos convida a uma missão muito especial”
e lembrou a carta aos Efésios quando diz ‘Cristo é a nossa paz; ele
uniu os dois povos em um só, derrubando o muro de inimizade que os
separava, e abolindo na sua própria carne a Lei com os seus mandamentos e
regulamentos’.
"Sendo tão marginal - afirmou Mons. Neuhaus – temos uma enorme
liberdade das amarras do poder e da riqueza. Podemos e devemos assumir a
missão de mostrar ao povo fiel o que é possível fazer. Porque nossas
vidas como cristãos tem que reflectir de modo claro que é um mentira a
ideia propagada por todos os lados de que a paz e a justiça, a
convivência, o perdão e a reconciliação são impossíveis. Nós temos que
encontrar caminhos criativos e generosos que demonstrem, pelo contrário,
que é possível viver juntos”.
Concluiu afirmando que "ao banir termos: 'vingança', 'guerra',
'inimigo', e fazendo nossas as palavras ‘perdão’, ‘diálogo’ e ‘irmãos’,
seja que estejamos com quem fala árabe ou com quem fala hebraico;
estejamos na paróquia de Gaza ou de Beer Sheba, daremos testemunho do
que acreditamos no ‘deserto da escuridão e da morte’ para que possa
tornar-se ‘um jardim onde a vida floresce’.
De fato, temos que reconhecer que, vivamos na Terra Santa ou não, as
nossas palavras criam os mundos em que vivemos. Nós precisamos construir
juntos a paz e justiça assumindo a responsabilidade pelas palavras que
saem da nossa boca. As palavras que nós pronunciamos contém ódio e ira,
ou transparecem respeito e cura? Que nossas palavras sejam tijolos com
os quais contribuímos para a edificação do Reino dos Céus. (Trad.T.S.)
(16 de Julho de 2014) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário