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terça-feira, 22 de julho de 2014

Gratidão e Incompreensões

1. Gratidão aos pastores
Nos meses de Junho e Julho costuma haver em quase todas as dioceses ordenações de novos membros do clero, assim como jubileus de ordenação de muitos daqueles que há diversos anos dedicam as suas vidas à construção do Reino de Jesus Cristo. Na nossa diocese, no dia 28 celebramos as bodas de diamante (60 anos) do sacerdócio dos padres Manuel Alves e José Pires Soares, na solene celebração de ordenação de dois novos presbíteros, na Sé de Beja. No dia 19 de Julho, na igreja matriz de Sines foram as bodas de ouro do Padre José Fernandes Pereira. Em algumas paróquias até celebram anualmente o dia da ordenação do seu pároco.

É belo ver as comunidades cristãs recordarem a data de ordenação do seu pároco e seria também muito bonito que o fizéssemos em relação aos diáconos permanentes, pois já vai havendo alguns na nossa diocese e preparamo-nos para formar mais alguns. Apesar de sabermos que a nossa vocação é uma escolha amorosa de Deus, que não depende da nossa santidade ou inteligência, e por isso agradecemos a Deus essa eleição e vivemos o nosso ministério em atitude missionária, no entanto todos gostamos de sentir que o povo de Deus, as comunidades que construímos e alimentamos espiritualmente apreciam e agradecem a nossa dedicação. Isso aumenta a nossa certeza de que estamos a ser úteis, se assim nos podemos exprimir em relação ao nosso múnus.

Algo semelhante acontece nas famílias. As esposas, os maridos, os pais, os filhos, os avós gostam de ouvir um sincero obrigado pelas inúmeras acções que praticam uns em relação aos outros, nem que seja um simples sorriso da criança ou um beijo. Quando isso acontece a vida familiar torna-se mais fácil, mesmo que imersa em grandes responsabilidades e trabalhos.

Em nome próprio e da diocese queria agradecer às paróquias, serviços e movimentos pelos diversos momentos de manifestações de gratidão em que tive ocasião de participar. Mesmo não tendo podido estar em todas, aqui deixo o meu agradecimento e apreço. Continuem.

2. Críticas e ingratidões
Infelizmente também acontece o contrário. É tradicional a nossa inclinação para a inveja, a má-língua, a crítica destrutiva, a ingratidão. Temos dificuldade em aceitar que outros saibam mais do que nós e tenham razões para decidir e agir de modo diferente das nossas conveniências e interesses.

Embora na Igreja devamos construir comunidades conscientes e responsáveis e isto não acontece sem comunicação, formação, partilha fraterna e oração, não pode ser cada cabeça cada sentença, como se a verdade da nossa fé dependesse dos interesses de cada um. Só uma Igreja em profunda comunhão colegial, fiéis leigos, consagrados e clero é a Igreja de Jesus Cristo. Por isso temos necessidade de aprofundar sempre a nossa fé em Jesus Cristo, pois ninguém nasce ensinado e a fé nasce da escuta, da transmissão através de testemunhas.

Discernir as verdadeiras testemunhas da fé pertence ao Bispo com seus colaboradores. Isto implica uma atenção muito grande aos impulsos do Espírito Santo na vida da Igreja e requer de todos nós o pedido incessante em oração, para que Deus O envie sobre esta sua Igreja, que nós queremos servir.

Nas últimas semanas tenho corrido muitas paróquias a celebrar o sacramento do Crisma ou Confirmação, normalmente reservado ao Bispo e pelo qual temos a certeza que recebemos o Espírito Santo. Mas também verifico que nem todas as pessoas têm as mesmas disposições e preparação. Algumas vezes tenho de advertir os párocos e catequistas para fazerem um melhor discernimento, pois não é pelo facto de o Direito Canónico exigir os três sacramentos da iniciação cristã, a saber, baptismo, crisma e comunhão, para se gozar dos direitos de cristãos adultos na vida da Igreja, entre eles o direito de ser padrinho ou madrinha, que devemos admitir qualquer pessoa, sem a devida preparação e vontade de viver de acordo com a fé cristã.

Quando se diz às pessoas que não podem viver em união de facto e receber os sacramentos, somos criticados e até difamados, como se receber os sacramentos fosse um direito individual que não implica os outros sacramentos, entre eles o matrimónio e a confissão ou reconciliação. Não é pelo facto de sermos pecadores que os sacramentos nos são negados, mas sim por não reconhecermos o nosso pecado, não nos querermos converter e mudar. A isto se chama presunção de se salvar sem merecimentos e obstinação no pecado.

Por isso temos uma grande missão a cumprir, com muito amor, misericórdia e paciência, para não arrancar o trigo com o joio e as ervas daninhas. Nem sempre é fácil o cumprimento do múnus que nos está confiado, quer por fragilidade nossa, quer por incompreensão e debilidade da fé de quem nos pede os sacramentos. Mas água mole em pedra dura tanto dá até que fura, diz o ditado e constitui para a Igreja uma advertência para não desistir ou cruzar os braços.

† António Vitalino, Bispo de Beja

Nota semanal em áudio:



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