Entrevista com a presidente da ONG Italians for Darfur, que trabalhou pela libertação da cristã condenada à morte no Sudão por apostasia
Roma, 15 de Julho de 2014 (Zenit.org) Salvatore Cernuzio
A história de Meriam Yahya Ibrahim não precisa de
apresentações. Em todos os cantos do mundo, difundiu-se a notícia desta
jovem mãe cristã condenada à morte por um tribunal do Sudão, acusada de
“apostasia”. Igualmente, lançou-se de todos os cantos do mundo um grito
de indignação perante uma condenação que, num só golpe, desqualificou
anos de trabalho em favor dos direitos humanos e da liberdade religiosa.
A mobilização internacional pela libertação da condenada foi
massiva. A primeira a lançar o alarme foi a ONG Italians for Darfur,
associação de defesa dos direitos humanos sediada em Roma e presidida
por Antonella Napoli, que lutou até o final para que Meriam fosse
libertada. E ela foi. No momento, problemas burocráticos obrigam a
mulher e a sua família a se refugiarem na embaixada dos Estados Unidos
em Cartum, sem possibilidade de deixar o Sudão.
Antonella Napoli foi até Cartum para visitar Meriam. Nesta entrevista
a ZENIT, Antonella compartilha o emocionante momento vivido ao lado da
sua "protegida".
* * *
ZENIT: O que você sentiu ao ver aquela mulher cuja história comoveu o mundo?
Antonella: Foi um dos momentos mais importantes da minha vida, uma
grandíssima emoção. Tanto como experiência pessoal como profissional. Eu
falava em inglês com o marido dela, Daniel, porque Meriam só fala
árabe. Depois de passar meses comprometida com a defesa dela, vê-la sã e
salva, com o marido e os filhos, me deu uma grande satisfação. Eu vi de
forma concreta o quanto a nossa ação é importante. Se Meriam está bem, é
graças a todos os que lutaram pela liberdade dela.
ZENIT: Na sua opinião, a pressão internacional favoreceu a revogação da sentença pelo tribunal de Cartum?
Antonella: Eu acredito que sim. Mais ainda, eu estou convencida de que a mobilização foi fundamental!
ZENIT: Com que tipo de mulher você se encontrou? Uma mulher cansada, com raiva, ou serena e esperançada?
Antonella: Cansada, mas serena, à espera da superação do último
desafio: o arquivamento das acusações por falsificação de documentos.
Meriam não vê a hora de sair do Sudão. O marido, Daniel, que está sempre
ao lado dela, sente a mesma coisa.
ZENIT: Faz algumas semanas, Meriam declarou que, por causa
das condições desumanas do parto, a filha Mays provavelmente terá
sequelas. Você pode confirmar esta informação?
Antonella: Era uma dúvida. Meriam foi obrigada a dar à luz sem poder
abrir bem as pernas, por causa das correntes nos tornozelos, e ela temia
que isso tivesse causado danos irreparáveis à filhinha. Mas o médico
que visitou a bebê na embaixada não observou nada de preocupante. Mesmo
assim, será necessária uma ecografia mais detalhada para descartar todas
as dúvidas.
ZENIT: A questão do passaporte está sendo resolvida?
Antonella: Há uma denúncia que ainda não foi arquivada, mas o
processo em torno dessa acusação de falsificação de documentos está
parado. Quinta-feira passada, por exemplo, o advogado foi ao fórum para
uma audiência, mas o promotor não apareceu.
ZENIT: Meriam, que é muito religiosa, manifestou o desejo de encontrar o papa Francisco. Isso está sendo trabalhado?
Antonella: Eu prometi a ela e a Daniel que, quando tudo isso acabar,
vou organizar uma viagem deles à Itália. Estamos esperando esta situação
terminar e depois vamos trabalhar nisso.
ZENIT: Na mobilização internacional, a sua ONG Italians for
Darfur lutou com força para conseguir a libertação da jovem mãe. Você
pode nos contar sobre o trabalho desempenhado nestes meses?
Antonella: Logo que nós fomos informados do caso dessa mulher no
Sudão, nós começamos a acompanhar durante algumas semanas. Agimos com
cautela esperando que tudo se resolvesse num período breve, mas veio a
condenação. Cinco minutos depois que soubemos que Meriam tinha sido
condenada à morte na forca, lançamos a petição que já tínhamos
preparado. Algumas horas depois, o jornal Avvenire publicou o nosso
chamamento e depois começou a reação em cadeia.
ZENIT: Qual é agora o seu medo pelo futuro de Meriam e quais as suas esperanças?
Antonella: Eu não quero falar de medo, mas de esperança. O meu desejo
é que a nova acusação seja arquivada logo e que esta mãe corajosa fique
livre de uma vez por todas para começar de novo a viver em paz com o
marido e com os dois filhos pequenos.
(15 de Julho de 2014) © Innovative Media Inc.
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