
Sondagem de universidade do Opus Dei
7MARGENS | 24/07/2025
Metade dos jovens adultos (18-29 anos) declaram que nos últimos cinco anos o seu interesse pela espiritualidade aumentou, contra 15 por cento que indicaram o contrário. O inquérito foi conduzido em oito países que apresentam importantes variações entre si, mas permite concluir que os jovens adultos católicos frequentam a missa, mas não adotam a moral sexual católica, confessam-se e rezam, mas defendem uma interpretação da Bíblia não mediada pela tradição ou pelo magistério eclesiástico.
A sondagem foi realizada no final de 2023 no âmbito do projeto Footprints – Pegadas. Jovens: Expectativas, Ideais, Crenças liderado pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (PUSC), ligada ao Opus Dei, em Roma, e envolveu cerca de 5.000 inquiridos de oito países: Argentina, Brasil, México, Espanha, Itália, Reino Unido, Quénia e Filipinas. Nos três países europeus abrangidos pelo estudo, o aumento do interesse pela espiritualidade registou um saldo nulo em Itália, um avanço de 32 pontos entre as respostas positivas e as negativas no Reino Unido e um saldo também positivo de dez pontos em Espanha.
Os resultados deste trabalho foram apresentados nesta quinta-feira, 24 de julho, num simpósio realizado na PUSC durante o qual vários intervenientes apresentaram outros estudos, todos convergentes na perceção de que, ao contrário das décadas anteriores, se está a assistir em diversos lugares do mundo a um renovado interesse dos jovens adultos pela religião e pela espiritualidade. A apresentação surge no contexto do encontro mundial de jovens, que decorre neste fim de semana em Roma, no âmbito do Jubileu da esperança, convocado ainda pelo Papa Francisco, e que terá a participação de cerca de meio milhão de jovens de todo o mundo,
De acordo com os organizadores, “embora a participação na missa e a filiação nominal ao cristianismo tenham diminuído durante décadas na Itália, Espanha, Reino Unido, Argentina e também no México”, o estudo Footprints, observa “uma tendência inversa nos mais novos, registando que em Espanha quase 1,8 em cada 10 jovens crentes frequentam diariamente serviços religiosos ou missas, o mesmo acontecendo em Itália a 1,6 em cada 10 jovens crentes.
A sondagem, feita no âmbito do Laboratorio di Ricerca Santa Croce (centro de investigação do Opus Dei), apurou que os não crentes, incluindo os que se declaram ateus, rezam ocasionalmente, mas mais frequentemente do que se pensa: em momentos difíceis (62%); movidos pela gratidão (48%), ou por causa de problemas quotidianos (47%). Por outro lado, quatro em cada 10 jovens adultos não crentes destes países (42%) acreditam na vida após a morte e 37 por cento pedem aos crentes que rezem por eles. “Estas discrepâncias – sublinham os autores – revelam a grande distância existente entre crenças abstratas e comportamentos pessoais”.
Cristianismo atrai mais jovens

Relativamente poucos japoneses dizem que a religião é muito importante, mas muitos acreditam que algumas partes do mundo podem ter espíritos. % dos que dizem (1ª coluna) Religião é muito importante nas suas vidas; (2ª) Definitivamente/provavelmente há vida depois da morte; (3ª) Animais, parte da natureza ou alguns objectos podem ter espíritos ou energias espirituais. Nota: Os inquiridos foram questionados separadamente sobre a crença em espíritos ou energias espirituais em animais, «partes da natureza, como montanhas, rios ou árvores» e «certos objetos, como cristais, jóias ou pedras». Os adultos norte-americanos foram questionados sobre «animais que não sejam humanos». A Tunísia estava entre os 36 países pesquisados, mas apenas foi feita a pergunta sobre a importância da religião (94% dos tunisinos afirmam que é muito importante). Fontes: Pew Research Center – Pesquisa Global de Atitudes da Primavera de 2024. Pesquisa com adultos norte-americanos realizada de 31 de julho a 6 de agosto de 2023. Estudo sobre o panorama religioso de adultos norte-americanos realizado entre 17 de julho de 2023 e 4 de março de 2024.
Muito citado durante o simpósio foi o artigo O Ocidente parou de perder a sua religião – Após décadas de secularismo crescente, o cristianismo mantém a sua posição e conquista espaço entre os jovens, publicado em The Economist a 12 de junho último (ligação para assinantes).
Nele se escreve que “durante décadas a afiliação religiosa que mais cresceu nos Estados Unidos foi a ausência de religião. Em 1990, apenas 5 por cento dos americanos se declaravam ateus, agnósticos ou não acreditavam em ‘nada em particular’. Vinte anos depois, em 2019, já eram cerca de 30 por cento aqueles que se enquadravam nestes critérios. Os que deixaram os bancos da igreja tornaram-se mais liberais socialmente, casaram-se mais tarde e tiveram menos filhos. As igrejas, onde antes metade dos americanos se reunia todos os domingos, desapareceram da vida cívica. No entanto, pela primeira vez em meio século, a marcha inexorável do secularismo parou”.
A revista cita os resultados de uma sondagem realizada pelo Pew Research Center, que aponta o ano de 2022 como tendo registado o “pico” (35%) dos americanos sem filiação religiosa. Nos dois anos seguintes a percentagem caiu rapidamente para o valor de 2019. Do lado oposto, os que se diziam cristãos nos EUA eram só 60 por cento em 2022, “pulando” perto de cinco pontos percentuais nos dois anos seguintes.
“O mesmo aplica-se a outros lugares. No Canadá, Grã-Bretanha e França –prossegue The Economist –, a proporção de pessoas que se declaram irreligiosas parou de crescer. (…) A estagnação coincide com uma pausa no declínio de longo prazo da parcela cristã da população. Isso sugere que a desaceleração da secularização é causada por um menor número de pessoas que abandonam o cristianismo – e não pelo crescimento de outras religiões” como o islão.” Para aquele fenómeno de pausa contribui “um aumento surpreendente da fé cristã entre os mais jovens, particularmente os da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012)”.
A afirmação é confirmada por três sondagens realizadas nos Estados Unidos em 2023 e 2024. Todas elas mostram que a proporção de jovens americanos que se identificam como cristãos aumentou em seis pontos percentuais (de 45% para 51%) enquanto a percentagem dos que não se identificam com nenhuma religião caiu quatro pontos (de 45% para 41%).
Esta evolução foi também referida pelo 7MARGENS em notícia que referia terem os batismos de adultos em França, esta Páscoa, aumentado 45 por cento, para mais de 10.000, o maior número em 20 anos. Dois em cada cinco dos batizados eram da Geração Z, o dobro da proporção de 2019.
Vida pós-morte, sim, Deus talvez não

Jonathan Evans, investigador sénior do Pew Research Center (Washington) durante o colóquio. Foto: Direitos reservados.
Reforçando estes factos, Jonathan Evans, investigador sénior do Pew Research Center (Washington), interveio no simpósio mostrando que, ao contrário da generalidade dos países em que tem coordenado estudos, em França apenas 14 por cento das pessoas com mais de 50 anos afirma que a religião é algo muito importante na sua vida. Porém, esta percentagem sobe para os 30 por cento quando os inquiridos são jovens adultos entre os 18 e os 34 anos. A realidade não difere muito no Reino Unido onde os números são de 16 (maiores de 50 anos) e 29 por cento (18-34 anos).
Sem espanto, as sondagens mostram que “a crença na vida após a morte é amplamente difundida em todo o mundo”, mas o que é novo nos resultados de uma sondagem recente do Pew Research Center em três dezenas de países com uma ampla gama de tradições religiosas é o facto “de os adultos mais jovens terem a mesma probabilidade que os adultos mais velhos de assumir essa crença espiritual, ao contrário da crença em Deus, que tende a ser mais comum entre pessoas mais velhas”.
Apesar destes indícios, os resultados da sondagem Footprints evidenciam sentimentos contraditórios entre os jovens adultos dos oito países em que ela foi realizada. Respondendo a um questionário de escolha múltipla, os que se dizem católicos vêm na Igreja “uma comunidade humana que faz o bem, tal como uma associação de voluntários” (84%), mais do que os não católicos (71%) e também a reconhecem como “uma comunidade humana e divina” (83%), enquanto os não católicos são menos enfáticos (68%) nessa perceção.
Contudo, de forma bastante inesperada, a sondagem conclui que entre os jovens adultos católicos a Igreja é vista como “uma entidade antiga e retrógrada” (33%), “uma entidade de poder político” (26%), ou “uma fonte de obrigações e regras desnecessárias” (25%). Percentagens sempre superiores às encontradas entre os não-católicos!

Sessão de abertura do colóquio de apresentação da sondagem da Universidade da Santa Cruz (Roma), do Opus Dei, com Norberto González Gaitano no uso da palavra. Foto: Direitos reservados.
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