Em documento conjunto
7MARGENS | 01/07/2025
As conferências episcopais regionais e os conselhos episcopais da Ásia, África e América Central e do Sul, em coordenação com a Pontifícia Comissão para a América Latina, uniram forças para apelar à justiça climática e à conversão ecológica em todo o mundo. Antecipando a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Brasil, de 10 a 21 de novembro de 2025, os bispos daquelas regiões acabam de publicar um documento conjunto, intitulado “Um apelo à justiça climática e à casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência a falsas soluções”.
Apresentado aos jornalistas nesta terça-feira, 1 de julho, e entregue em mãos ao Papa Leão XIV pelos presidentes das conferências episcopais, o novo documento reitera o compromisso da Igreja com a justiça climática e convoca nações e governos à ação, em consonância com a encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, que este ano celebra o seu décimo aniversário.
Enfatizando que a crise climática “não é apenas um problema técnico”, mas “uma realidade urgente, uma questão existencial de justiça, dignidade e cuidado com a nossa casa comum”, os bispos dizem rejeitar “as ‘falsas soluções’ da financeirização e mercantilização da natureza”, opondo-se aos mecanismos de compensação de carbono e à financeirização dos bens comuns, “que transferem indevidamente o ónus de reduzir emissões de quem as causa para quem as sofre, priorizando o lucro em detrimento da vida, e que perpetuam a exploração da terra, de seus seres vivos e de seus povos, em vez de abordar as causas da crise”.
“Condenamos o ‘capitalismo verde’, a mineração e o ‘monocultura energética’, que sacrificam comunidades e ecossistemas; e exigimos uma transformação económica radical que favoreça as condições para que a vida na Terra prospere”, pode ler-se no texto conjunto. É preciso, defendem os bispos, substituir “a lógica do lucro ilimitado pela ecologia integral”.
Os líderes católicos condenam ainda a “postura abertamente negacionista e de apatia adotada por setores super-ricos, as ‘elites do poder’, em relação à responsabilidade humana” perante a crise do clima”, e exigem “que os países ricos reconheçam e assumam sua dívida social e ecológica, como principais responsáveis históricos pela extração de recursos naturais e pela emissão de gases de efeito estufa; e se comprometam com um financiamento climático justo, acessível e eficaz, que não gere mais dívidas, para reparar perdas e danos e fortalecer a resiliência no Sul Global”.
Ao longo das mais de 30 páginas do documento, os bispos sublinham também a necessidade de um acesso universal a “recursos para a reparação de perdas e danos, mitigação e adaptação”, defendem “a soberania dos povos indígenas e comunidades tradicionais sobre os seus territórios, essencial para a proteção dos ecossistemas aquáticos e terrestres” e pedem a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, para “uma transição energética justa, inclusiva e sustentável”.
Entre os inúmeros apelos, os bispos fazem ainda outra proposta concreta: a criação de um “Observatório da Justiça Climática” para monitorizar os resultados da COP.
E, acima de tudo, assumem um compromisso: “A Igreja não permanecerá em silêncio. Continuaremos a erguer a nossa voz ao lado da ciência, da sociedade civil e dos mais vulneráveis, com verdade e coerência, até que se faça justiça”.
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