
Após conflito com Israel
7MARGENS | 04/07/2025
As forças de segurança iranianas detiveram dezenas de membros de minorias religiosas no país, particularmente bahá’ís e judeus, durante e após a recente guerra com Israel, denunciaram vários grupos de defesa dos direitos humanos. Estas detenções fazem parte de uma “nova onda de repressão” no país, com as autoridades a quererem aproveitar-se do conflito como pretexto para “reafirmar a autoridade absoluta por meio do medo”.
Cerca de 35 elementos da comunidade judaica iraniana foram convocados para interrogatório nos últimos dias, segundo a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, sediada nos EUA, citada pela AFP.
E pelo menos 19 casas de famílias bahá’ís foram invadidas em diversas províncias do país, resultando na detenção de pelo menos três cidadãos, relataram fontes citadas pela plataforma Iran Wire.
As invasões foram “acompanhadas de ameaças que incutiram medo entre as famílias”, com as autoridades iranianas a confiscar computadores, laptops, telemóveis, livros e símbolos religiosos.
Também a ONG Hengaw, com sede na Noruega, confirma esta nova onda de repressão sobre a comunidade bahá’í, que terá por base “casos forjados”, isto é: “as forças de segurança convocam parentes e contactos pessoais de habitantes bahá’ís, forçando-os a apresentar queixas contra os seus amigos e familiares” e ameaçando-os de que enfrentarão “sérias consequências” caso não o façam.
Ainda de acordo com a Hengaw, houve também 300 elementos da comunidade curda detidos nesta onda de repressão.
A Iran Human Rights refere por seu lado que muitas execuções foram aceleradas e que vários prisioneiros foram transferidos para locais secretos, tendo seis pessoas sido enforcadas desde que o conflito teve início, a 13 de junho.
“Um esforço para extinguir as últimas brasas da resistência”
Ao todo, “mais de mil pessoas foram presas por atos relacionados com a guerra e dezenas foram executadas por outras acusações”, denuncia a ONG.
“Para manter o controlo e impedir que os seus opositores dentro do país se organizem e mobilizem as suas forças, os líderes iranianos recorrem ao medo. E podem estar apenas a começar”, alerta Roya Boroumand, diretora executiva do Centro Abdorrahman Boroumand para os Direitos Humanos no Irão, recordando que estes têm enfrentado críticas internas pelas aparentes falhas em impedir os ataques aéreos de Israel e dos Estados Unidos.
De facto, “não se trata de um mero endurecimento do controlo autoritário. O regime iraniano, abalado pelas perdas humilhantes sofridas por Israel e pelos Estados Unidos, parece estar a usar o trauma da curta, mas intensa guerra do mês passado para acertar contas internas e reafirmar a autoridade absoluta por meio do medo”, afirma por seu lado Karen Kramer, vice-diretora executiva do Centro para os Direitos Humanos no Irão (CHRI), em Nova Iorque.
“As prisões são cirúrgicas, sistemáticas e abrangentes — um esforço para extinguir as últimas brasas da resistência cívica acesa durante os protestos Mulheres, Vida, Liberdade de 2022 e sustentada por inúmeros iranianos comuns desde então, exigindo dignidade, liberdade e justiça. O regime está enviando uma mensagem assustadora, embora bastante familiar: dissidência é igual à morte”, denuncia a especialista em relações internacionais.
E deixa o aviso: “O silêncio da comunidade internacional corre o risco de viabilizar essa campanha, abrindo caminho para a violência estatal em larga escala”.
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