
Rostos e Rumos, entrevista 7MARGENS/TSF
António Marujo e Manuel Vilas Boas | 14/07/2025
Chegou à região Oeste do país, olhou para a realidade concreta, colocou a Bíblia em cima de um andor nas procissões, pôs as pessoas a estudá-la e a proclamá-la, fez formação bíblica popular. “Isso desenvolveu uma formação bíblica das pessoas.” Andou na apanha da azeitona, não veria qualquer problema se celebrasse missa junto de mulheres ordenadas, mas já vê problema nas batinas que muitos padres usam. O padre Joaquim Batalha, pároco de Ribamar (Lourinhã) e assistente da Acção Católica Rural, que neste domingo, 13, completou 87 anos, diz que o que falta mudar na dinâmica da Igreja Católica “é o coração e a inteligência das pessoas”.
Joaquim Batalha é o entrevistado de uma nova edição do programa Rostos e Rumos, uma parceria entre o 7MARGENS e a TSF, emitido neste domingo (o programa tinha até agora o título Vidas Com História).
Há nele um sorriso prolongado, enquanto se ampara ao cajado de pastor dos agricultores que serviu pelo Oeste deste país. Nascido em 13 de Julho de 1938, no lugar de Achada (Mafra), Joaquim cheirava, então, o barro molhado e o trigo e centeio que chegavam à eira dos pais e dos 12 irmãos.
O pai, João Batalha, era um “grande trabalhador”, que sempre “tratou bem” os filhos, embora com a “dureza de afectividade” própria de alguém moldado pelo sol, pela chuva, pelo vento e pelo trabalho duro do campo. A mãe, Maria Vicência, doente, arrastava-se pela casa para organizar vidas, tratar da casa e dos filhos. Às vezes, era precisa ajuda para ter pão, sobretudo nos tempos da Segunda Guerra Mundial – “as coisas em casa não chegavam”.
O “clima de serviço” que havia na família – pais e filhos integravam os movimentos de Acção Católica – levou o irmão mais velho, António, a questionar Joaquim, o mais novo, se ele não queria ir para o seminário. A proposta foi aceite, embora o indigitado “não soubesse muito bem o que era e para que servia” aquela instituição.
Decisiva na sua vida adulta seria a aproximação que fez aos movimentos rurais da Acção Católica que, através de uma pedagogia eficaz, sintetizada na fórmula ver julgar e agir, leva a olhar mais longe e a sentir a vida mais profundamente. De tal modo que hesitou no momento da ordenação: “achava que era melhor retardar”. Os responsáveis levaram-no a dizer que sim. “O fervor que eu via nos outros só viria depois com o trabalho”, iniciado na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no centro de Lisboa.
Ordenado padre, em 1964, Joaquim Luís Batalha carregou as luzes protectoras do Concílio Ecuménico Vaticano II, que terminou em 1965, e que o seu maior patrono, o Papa João XXIII, corajosamente entregou à humanidade. E foi na ideia de reforma da Igreja que o padre Batalha, ali, sempre, procurou inspiração.
Por isso, hoje sente que há muito por fazer: “O que falta mudar na Igreja?” Ri-se da pergunta: “É o coração e a inteligência das pessoas”, responde. O sínodo sobre a sinodalidade, convocado e dinamizado pelo Papa Francisco, “é uma proposta bem interessante, mas será que as pessoas querem mudar mesmo?”
Também pelas mesmas razões lhe custa ver muitos padres novos de batina. “Para que precisam de se vestir dessa maneira? Eu sou padre há não sei quantos anos, nunca precisei disso. É poder e vaidade, uma batina é caríssima, nunca comprei.”
Novos rumos, renovação baseada na Bíblia

O padre Joaquim Batalha num momento da entrevista, gravada dia 1 de Julho e emitida neste domingo: “As mulheres não fazem melhor porque os padres não as deixam.” Foto © António Marujo/7MARGENS.
À procura de um novo rumo, com via aberta pelo cardeal António Ribeiro, então patriarca de Lisboa, três colegas padre – Joaquim Martins, João Marcos e Teodoro de Sousa – juntaram-se à locomotiva que Batalha tinha em mãos, para a evangelização de Alenquer, do ano quente de 1975 até 1989.
Os projectos de renovação, baseados na Bíblia e concretizados no método de “ver, julgar, agir” chegaram à longa lista de paróquias onde Joaquim batalha trabalhou: Vila Chã de Ourique e Almoster (Ribatejo), Merceana, Aldeia Gavinha, Ventosa, Olhalva, Meca, Pereiró de Palhacana e Ribamar (zona Oeste do Patriarcado). A Casa do Oeste, lugar de encontros, reuniões e formação dinamizada por Joaquim Batalha e pela Acção Católica, é hoje também o seu lugar de residência.
O dinamismo gerado nestas terras através das paróquias e dos movimentos da Acção Católica Rural levou-o a projectar-se em actos missionários, pela Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Timor-Leste.
Aos 87 anos, o padre Batalha é ainda pároco da Lourinhã. As forças começam, entretanto, a quebrar-se, ainda que permaneçam as memórias dos tempos idos em que, além do altar, o padre Batalha ajudava os mais pobres e frágeis na pulverização dos campos e na apanha da azeitona.
Farol, o jornal que dinamiza, é a luz que, semanalmente, difunde notícias e reflexões sobre a liturgia e a vida desta comunidade paroquial de Nossa Senhora de Monserrate, em Ribamar, assinadas pelo “padreBatalhaamigo”, missionário do Oeste, promotor de uma Igreja com sabor a povo e com cheiro a campo.
E hoje, o que é preciso fazer? “Reestruturar a pastoral, organizar as pessoas onde elas estão.” Cita o exemplo do Papa Francisco, de proximidade “muito íntima”, para dizer qual deveria ser a atitude nas comunidades católicas. E na mudança inclui o papel das mulheres: “São muito importantes na vida paroquial, porque elas é que fazem as coisas. E não fazem melhor porque os padres não as deixam.” Por essa razão, Joaquim Batalha não teria qualquer problema em celebrar ao lado de mulheres. “O sacerdócio das mulheres radica no baptismo.”
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