
Jubileu católico em Roma
António Marujo | 30/07/2025
“Uma Igreja com rosto de aldeia grande: intergeracional, intercultural, imperfeita, mas profundamente humana”, jovens que recusam “um estilo de vida que consome sem pensar, que produz sem limites, que vive como se houvesse um planeta de reserva”; e que querem ser uma “geração de paz: nos gestos, nas palavras, nos ambientes digitais e nos lugares esquecidos”. Mais de 11 mil portugueses que participam no Jubileu dos Jovens, em Roma, que decorre até domingo, proclamaram ao início da tarde desta quarta-feira o seu “Uma juventude em manifesto”, onde resumem as suas preocupações imediatas para a Igreja e o mundo.
“Acreditamos numa paz feita de justiça, amizade social e cuidado mútuo”, dizem, a propósito da questão da guerra e da paz. “Não nos conformamos com a guerra em lado nenhum – nem no mundo, nem dentro de nós. A nossa bandeira é o acolhimento, o nosso grito é a reconciliação.”
Organizados pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, da Igreja Católica, os jovens portugueses reuniram-se na Basílica de São Paulo Fora de Muros, terminando o seu encontro com a proclamação do texto “Uma Juventude em Manifesto – Geração Lisboa 23-Roma 25-Seul 27”, numa alusão à próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorrerá daqui a dois anos na capital da Coreia do Sul. O manifesto surgiu a partir da auscultação que o DNPJ tem promovido nos últimos meses, junto dos jovens portugueses.
“Por uma Igreja de todos e para todos: sonhamos comunidades onde ninguém é invisível. Valorizamos a escuta, o diálogo, a diferença”, diz ainda o documento, que leva o subtítulo “De Roma com amor”. “Uma Igreja que não espera por nós no templo, mas caminha connosco pelas ruas.”
“Nascido do caminho vivido desde a JMJ Lisboa 2023, este manifesto é expressão de uma juventude comprometida com a fé, com o cuidado da Casa Comum, com a paz e com uma Igreja mais aberta, próxima e intergeracional”, resume o DNPJ na informação enviada às redacções, que acompanha o manifesto.
Sobre a emergência climática, o documento diz: “A terra é dom, não recurso. Recusamos um estilo de vida que consome sem pensar, que produz sem limites, que vive como se houvesse um planeta de reserva. Cuidar da Casa Comum é amar o futuro, é proteger quem é mais vulnerável, é viver com simplicidade e gratidão.”
Um sobreiro português

Sobreiro levado pelos jovens portugueses participantes no Jubileu dos Jovens em Roma, para ser plantado no Borgo Laudato Si, plantado pelo Papa Francisco em Castel Gandolfo. Foto © Agência Ecclesia
Simbolicamente, informa a agência Ecclesia, a delegação portuguesa fez-se acompanhar por um sobreiro, para ser plantado no Borgo Laudato Si, um jardim criado pelo Papa Francisco na residência pontifícia de Castel Gandolfo.
“É um sobreiro tipicamente português, veio de Portugal para Roma. Temos o objectivo de plantar 25 mil e 25 árvores para devolvermos à natureza a nossa pegada de CO2, explicou à Agência Ecclesia o director do DNPJ, Pedro Carvalho. O projecto começou também na Jornada Mundial da Juventude [Lisboa 2023], onde foram plantadas mais de 18 mil árvores. Queremos que este legado da Jornada Mundial da Juventude continue”, acrescentou.
“Acreditamos numa Igreja com voz jovem, capaz de escutar e aprender, de sair e arriscar”, diz ainda o texto. “Como São Paulo, não ficamos onde estamos – atravessamos muros, rasgamos horizontes, levamos a esperança até onde ela não chega.”
Os jovens católicos assumem-se também como “enviados – à escola, ao trabalho, à aldeia e à cidade”. E acrescentam: “No mundo digital, mas ainda mais no mundo real. Somos discípulos e somos apóstolos. Anunciamos com a vida o que acreditamos com o coração. O mundo é o nosso campo, e o amor, a nossa linguagem.”
No grupo português estavam inscritos 11.527 participantes, a maior delegação estrangeira presente. Depois de duas missas celebradas na Basílica de São Paulo, os jovens portugueses foram convidados a conhecer, durante a tarde, as igrejas de Roma atribuídas aos cardeais do país e onde decorreram momentos de oração, espectáculos de música ou exposições.
Um Papa a pedir um grito pela paz

Papa Leão XIV no final da missa de início do Jubileu dos jovens: “Digamos todos: queremos a paz no mundo.” Foto © Vatican Media
Na véspera ao final do dia, o Papa Leão XIV encerrou a missa de boas-vindas dos participantes no Jubileu dos Jovens, aparecendo de surpresa na praça de São Pedro, pedindo-lhes “um grito pela paz” e que os peregrinos dos cinco continentes fossem “sinais de esperança”.
“Estão a começar uns dias, um caminho, o Jubileu da Esperança. E o mundo precisa de mensagens de esperança: vocês são essa mensagem e têm de continuar a dar esperança a todos. Esperamos que todos sejam sempre sinais esperança do mundo”, disse Leão XIV perante uma multidão calculada em 100 mil pessoas.
Elogiando o entusiasmo dos jovens, o Papa pediu um “grito pela paz no mundo”, conta a Ecclesia. “Digamos todos: queremos a paz no mundo. Queremos a paz no mundo. Rezemos pela paz e sejamos testemunhas da paz de Jesus Cristo, da reconciliação, esta luz do mundo de que todos estamos à procura.”
No fim-de-semana, quando se celebram os actos centrais deste Jubileu dos Jovens, os jovens concentram-se na área junto à Universidade de Tor Vergata a partir das 9h (8h da manhã em Lisboa). Durante a tarde, haverá animação com música de várias bandas e depoimentos. A partir das 20h30 (menos uma hora em Lisboa), já com o Papa Leão presente, decorre uma vigília de oração. Três jovens farão perguntas ao Papa sobre a amizade, coragem e espiritualidade. Um milhão de participantes devem ficar a pernoitar no local, onde o Papa preside à missa, a partir das 9h locais de domingo.
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