
Líderes religiosos pedem paz
Manuel Pinto | 17/07/2025
A Igreja da Sagrada Família, o único templo católico da Faixa de Gaza, foi bombardeada na manhã desta quinta-feira, 17 de julho, pelo exército de Israel. Duas pessoas foram dadas como mortas e várias outras que também se encontravam no complexo paroquial sofreram ferimentos, segundo médicos do que resta do hospital da cidade, Al-Ahli.
Um dos feridos, ainda que ligeiro, foi precisamente o pároco da comunidade católica local, o padre Gabriele Romanelli, aquele que com uma frequência quase diária mantinha o Papa Francisco a par dos desenvolvimentos do genocídio em curso naquela parte da Palestina.
O cardeal Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, que responde pela comunidade católica na Palestina, comentou que um tanque das forças de defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) atingiu diretamente a igreja na parte superior e que os militares se justificaram dizendo ter-se tratado de “um engano”. “Mas não temos certeza quanto a isso”, fez notar Pizzaballa.

O pároco de Gaza, padre Romanelli, recebe tratamento médico após o ataque à igreja da Sagrada Família. Foto: Direitos reservados, via Vatican News
Poucas horas depois, a Secretaria de Estado do Vaticano emitia uma posição na qual o Papa Leão XIV declara ter ficado “profundamente triste ao saber da perda de vidas e lesões causadas pelo ataque militar à Igreja Católica da Sagrada Família em Gaza” e assegura ao pároco e a toda a comunidade paroquial “a sua proximidade espiritual”.
O Papa afirma ainda rezar “pelo consolo daqueles que sofrem e pela recuperação dos feridos” e renova “o seu apelo a um cessar-fogo imediato”, expressando a sua “profunda esperança de diálogo, reconciliação e paz duradoura na região”.
Por sua vez, o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Jerry Pillay, manifestou solidariedade com o patriarca latino de Jerusalém e com todos os afetados por este ataque israelita e defendeu que “os locais de culto nunca devem ser alvos”. “Os locais sagrados são santuários de paz, e os ataques contra eles constituem uma grave violação do direito internacional humanitário e da dignidade humana”, disse Pillay.
Enquanto, nas redes sociais, alguns pressionavam o embaixador dos EUA em Israel, acusando-o de estar mais interessado em interferir no tribunal criminal em que Netanyahu está a ser julgado do que em pronunciar-se sobre o ataque à única igreja católica em Gaza, Giorgia Melloni, primeira ministra italiana, lamentou o ataque à igreja da Sagrada Família, comentando que “os ataques israelitas em Gaza (…) contra a população civil que Israel vem realizando há meses são inaceitáveis”. “Nenhuma ação militar pode justificar tal atitude”, acrescentou.
O complexo onde se encontra a igreja da Sagrada Família é constituído ainda por uma escola e um convento das Irmãs da Caridade e, desde outubro de 2023, abriga nas suas instalações centenas de cristãos e muçulmanos.
“Não há futuro para vocês aqui”

Lideres religiosos reunidos em Taybeh, na Cisjordânia. Foto: Direitos reservados, via Vatican News
Vários patriarcas e chefes de Igrejas representadas em Jerusalém deslocaram-se à pequena cidade de Taybeh, na Cisjordânia, para se solidarizarem com a comunidade local e lançar um alerta ao mundo acerca da perseguição de que os cristãos e, em geral, os palestinianos da Cisjordânia estão a ser alvo, por parte dos colonos israelitas, com a proteção dos militares.
Num comunicado coletivo divulgado no início desta semana, os dirigentes religiosos contaram o que se passou em Taybeh, no início deste mês:
“Na segunda-feira, 7 de julho de 2025, israelitas radicais de colonatos próximos atearam fogo intencionalmente perto do cemitério da cidade e da Igreja de São Jorge, que remonta ao século V”.
Importa contextualizar o que isto significa: “Taybeh – explica o comunicado – é a última cidade totalmente cristã remanescente na Cisjordânia. Essas ações representam uma ameaça direta e intencional à nossa comunidade local, antes de tudo, mas também ao património histórico e religioso dos nossos antepassados e locais sagrados. Diante de tais ameaças, o maior ato de bravura é que continuem a chamar a este lugar o seu lar”.
O que ali se passou é apenas mais um caso do que tem sido frequente nos últimos meses: “os radicais levam o seu gado a pastar nos campos dos cristãos no lado leste de Taybeh – a área agrícola – tornando-as inacessíveis na melhor das hipóteses, mas na pior, danificando os olivais dos quais as famílias dependem. No mês passado, várias casas foram atacadas por esses radicais, que atearam fogo e ergueram um outdoor que dizia, traduzido para o inglês: ‘Não há futuro para vocês aqui’”.
As lideranças religiosas – que representam os ortodoxos gregos, latinos e católicos greco-melquitas – foram a Taybeh para dizer aos cristãos que resistem: “Estamos com vocês, apoiamos a vossa resiliência e podem contar com as nossas orações”. Mas também foram porque estes atos de violência e exclusão são “uma tendência crescente”, feita de “ataques sistémicos e direcionados” contra os cristãos e a sua presença em toda a Cisjordânia.
“Pedimos orações, atenção e ação do mundo, em particular dos cristãos de todo o planeta”, escrevem os patriarcas e chefes das religiões. Vão mais longe e pedem que seja feita uma “investigação imediata e transparente” centrada no comportamento da polícia israelita que “não respondeu às chamadas de emergência da comunidade local”. Exigem ainda que “esses radicais sejam responsabilizados pelas autoridades israelitas, que facilitam e possibilitam a sua presença em Taybeh”, lembrando que, “mesmo em tempo de guerra, os lugares sagrados devem ser protegidos”.
“A Igreja tem uma presença fiel nesta região há quase 2.000 anos. Rejeitamos firmemente esta mensagem de exclusão e reafirmamos o nosso compromisso com uma Terra Santa que é um mosaico de diferentes religiões, convivendo pacificamente, com dignidade e segurança”, salientam os responsáveis das religiões.
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